Em evento promovido pela Associação de Juízes para a Democracia, coordenadores do MST e MTST apontaram saídas para a classe trabalhadora diante as crises no país
Por Catiana de Medeiros
Da Página do MST
Da Página do MST
Uma análise das conjunturas política, social e econômica no Brasil, após um ano do afastamento de Dilma Rousseff da presidência da República, coloca em evidência o acirramento da luta de classes e o enfraquecimento do governo Michel Temer (PMDB). A leitura sobre o que motivou o golpe contra a democracia e sobre o futuro do país foi feita na última sexta-feira (12) em Porto Alegre, Capital do Rio Grande do Sul, pelo coordenador nacional do MST, João Pedro Stédile, e o coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, num evento promovido pela Associação de Juízes para a Democracia (AJD), com o apoio do Coletivo A Cidade que Queremos.
Na ocasião, Stédile reafirmou que a sociedade brasileira enfrenta uma grave crise econômica, que é global e oriunda do sistema capitalista. Segundo ele, no Brasil, a crise do capitalismo surge em 2008, vindo a se fortalecer a partir de 2013, mesmo ano em que a juventude iniciou uma série de mobilizações por direitos e que as políticas públicas criadas pelos governo petistas já se tornavam insuficientes para amenizar os efeitos da crise, especialmente, sobre os trabalhadores. “Quando há crise há uma desarrumação do equilíbrio da sociedade. Nos governo petistas o bolo era dividido, mas a crise econômica rompeu o equilíbrio e a estabilidade. A burguesia precisava recuperar a sua taxa de lucro, por isto tratou-se de salvar-se. E Dilma, em 2015, em vez de montar um governo para salvar a classe trabalhadora, colocou [Joaquim] Levy na Fazenda. A política econômica de 2015 foi uma maneira de salvar a burguesia por mão do Levi. Nós já dizíamos, 'se você [Dilma] não mudar a política, você vai cavar a cova do seu governo'”, recordou Stédile.
O coordenador do MST também falou sobre os mecanismos utilizados pela camada mais rica do país para aumentar a sua taxa de lucros e aprovar medidas que favoreçam o desenvolvimento do sistema capitalista, utilizando-se para isto de um golpe contra a democracia brasileira. “A Globo é o único partido ideológico deste país da burguesia, o PBB – Partido da Burguesia Brasileira. Eles foram monitorando e quando perceberam que a política econômica do governo tinha afastado o povo da Dilma, articularam com [Eduardo] Cunha e deram o golpe. E o povo ficava vendo jogo de bola de televisão, não foi às ruas”, disse.
Ele acrescentou que o objetivo do golpe era “tirar a burguesia da crise econômica e jogar todo o peso da crise na classe trabalhadora”. “O que fizeram foi aumentar a taxa de exploração dos trabalhadores com as reformas da previdência e trabalhista, e as terceirizações. É deliberada essa política de aumento do desemprego: mais de três milhões perderam os seus empregos de carteira assinada. Outro plano era o assalto aos cofres públicos. Só ano passado Temer deslocou R$ 180 milhões do Orçamento, aprovado pelo Congresso, para a burguesia. Depois veio a PEC 55, que congela tudo o que é para a saúde e a educação, seguida da desapropriação dos recursos naturais”, ressaltou.
Unificação das lutas
Para Stédile, diferente de 1964, quando ocorreu o golpe que colocou o país numa Ditadura Militar, hoje a burguesia não tem unidade política. Ele acredita que se a classe trabalhadora continuar nas ruas pode ocorrer mudanças significativas no país. “Agora a nossa classe entrou em campo. Começou dia 8 de março com as mulheres, depois dias 15 de março e 28 abril, com a greve geral. Agora em Curitiba, onde 50 mil pessoas permaneceram das 8 às 22 horas em vigília na praça. Lá, eu não vi militantes, eu vi gente de mão grossa, que estava ávida de entender o que estava passando no país e com a intenção de evitar que Lula fosse preso”, relatou.
Stédile complementou que o Brasil está “diante de um governo ilegítimo, usurpador e completamente instável”, e que somente a unificação das lutas da esquerda e da classe trabalhadora vai ser capaz barrar a retirada de direitos. “Ninguém sabe qual é a vida útil de Temer, nem a burguesia. Se conseguirmos uma greve por tempo indeterminado esse governo não se segura. A única saída vai ser a renúncia de Temer. Se o governo de mantém e ocorrer a prisão de Lula para inviabilizar as eleições de 2018, ai ocorre a radicalização do processo de luta de classes para tentar fazer com que o povo tome as rédeas desse país”, declarou.
Guilherme Boulos, do MTST, enfatizou que o momento histórico que vivemos hoje é gravíssimo, do ponto de vista dos retrocessos sociais e democráticos, e que há uma crise de representatividade e de credibilidade sobre o sistema político e o Estado brasileiro. “O povo não acredita mais nele, é um cenário desolador. Esse sistema político não consegue se manter em pé, o que pode levar à possibilidade de um aprofundamento democrático ou de fechamento democrático no país”, argumentou.
O líder dos Sem Teto complementa que a esquerda, mais que se unificar e se preparar para as eleições de 2018, tem que começar a pensar um programa contra-hegemônico, inclusive de combate a privilégios, para as próximas décadas. “Um programa de esquerda no país não deve ter a pretensão de ser o salvador de um sistema político-econômico, porque ele não representa os trabalhadores. Temos que defender um programa que apresente sentidos para a nova república, com combate a privilégios, reforma no judiciário e ampliação da democracia”, orientou.
Criminalização das lutas
O evento reuniu centenas de pessoas no auditório do Sindicato dos Municipários, no bairro Cidade Baixa. Na oportunidade, o assentado na antiga fazenda Annoni, Isaías Vedovatto; o jornalista do Jornal Já, Matheus Chaparini, preso durante cobertura de uma ocupação de estudantes na Secretaria Estadual da Fazenda; e a arquiteta Claudia Favaro deram depoimentos sobre a repressão das forças policiais do Estado contra as mobilizações populares e contra o direito do exercício do trabalho.
(Publicado originalmente no site do MST)
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