pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Le Monde: O laboratório da guerra racial de alta letalidade no Brasil
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sexta-feira, 5 de maio de 2017

Le Monde: O laboratório da guerra racial de alta letalidade no Brasil

DA APROPRIAÇÃO CULTURAL AOS GRUPOS DE EXTERMÍNIO

O LABORATÓRIO DA GUERRA RACIAL DE ALTA LETALIDADE NO BRASIL.

A guerra racial contra o povo negro vivida no Brasil não é contemporânea, mas, toma aspectos particulares na crise econômica desenvolvida no país, atualmente. Fortalecem-se uma vez que medidas econômicas adotadas são de precarização da vida para um país racialmente violento.
por: Willians Santos
4 de maio de 2017
Crédito da Imagem: Foto: Ubirajara Machado/MDS
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A hipervisibilidade em São Paulo do uso de turbante por uma jovem adoecida por câncer promovido na internet e imprensa televisa foi estratégico para a desmoralização de uma das pautas do movimento negro brasileiro agora taxado segregacionista, preconceituoso, violento. E funcional para a invisibilidade da experiência laboratorial da guerra racial de alta letalidade no Espírito Santo. São duas faces do mesmo projeto de Estado, da mesma conjuntura.
A guerra racial contra o povo negro (com devidas particularidades incluímos os povos originários) vivida no Brasil não é contemporânea, mas, toma aspectos particulares na crise econômica desenvolvida no país, atualmente. Fortalecem-se uma vez que medidas econômicas adotadas são de precarização da vida para um país racialmente violento.
Neste momento, até mais importante, crescem apelos por projetos de lei e estratégias para combater inimigos internos. Estes apelos não incluem em sua narrativa oficial categorias como negros, preto, favelado, índio, todavia, na formação histórica brasileira houveram concepções de raças perigosas ao Estado e a sociedade que fundamentaram as leis internas de opressão, massacre, etc.  Notamos que no discurso e na prática os projetos atuais se fortalecem mais uma vez a partir de certa concepção racializada dos inimigos. Já foram os quilombos, depois, os pobres e desempregados, os perigosos para a segurança, agora, são os\as contemplados\as da bolsa família, os mendigos, pichadores, os “bandidos”, os movimentos sociais, a macumba e os macumbeiros, os imigrantes da África e do Haiti.
A guerra as drogas já em curso desde os anos 1980, mais ou menos período de surgimento de grupos paramilitares de extermínio de pobres e que se utilizavam do armamento dos departamentos policiais para isto, como a escuderia Le Coq (nome afrancesado para “o galo”) no Espírito Santo, é a dimensão de ação do estado brasileiro aonde se pode verificar explicitamente a relação entre concepção de raça perigosa, justiça e segurança pública.
Os promotores da guerra as drogas se utilizam de termos referidos ao comportamento e não a cor ou origem social: “elemento perigoso”, “atividade suspeita”, “suspeito padrão”. Contudo, ao observar-se cor e condição socioeconômica do sujeito ao qual é atribuído este comportamento ele\a é majoritariamente negro\a. Aqui confluem a concepção de raça perigosa, inimigo a ser combatido e as ações criminosas a serem combatidas, efetivando-se, ao mesmo tempo, no monitoramento, aprisionamento em massa e mortalidade – nunca é redundante e importante recordar no Brasil são os negros, homens e mulheres, maioria nos presídios e mortos\as por armas de alta letalidade, mortalidade esta justificada juridicamente pelos atores do homicídio como resistência seguida de morte.
Portanto, a guerra as drogas é a versão contemporânea da fundação de um Estado baseado na opressão racial, é uma ideologia racial que caminha ao conjunto de agenciamentos que criam sujeitos a serem combatidos, presos, exterminados. A ideologia da guerra racial as drogas têm contribuído à difusão, neste momento de crise econômica e nacionalismo, do discurso de que há uma “crise da segurança pública” ocorrendo. Em conjunto, os\as atores desta militância produzem e fortalecem imaginário social de efeito prático de que “a bandidagem cresce”, vivenciamos caos na segurança, portanto, necessidade de investir nos fóruns criminais, em leis mais rigorosas, em armamento, equipar delegacias, prender em primeira instancia, permitir o comércio de armas.
Alta tecnologia, modernização da estrutura de monitoramento, presídios, crescimento do aparato militar policial ou uso do exército, desenvolve-se a dominação racial:
A guerra racial às drogas tem sido um recurso militar estatal de aniquilação racial que, tal como o dispositivo ideológico da democracia racial, tem o objetivo tático de encobrir o crime doloso fundacional do Estado Brasileiro: Genocídio (Eldridge Cleaver, 2017).
Os militantes engajados na construção da crise de segurança pública são beneficiados por ela, políticos profissionais (militares aposentados) das câmaras municipais e assembleias legislativas; delegados, policiais civis e militares ativos e seus familiares; repórteres e apresentadores de programas da imprensa especializada; juízes e promotores empregados nos fóruns criminais; advogados de policiais; empresas de segurança privada, a população de classe média, grandes e médios proprietários, latifundiários, em sua maioria branca, protegidos por este aparato (público ou privado). Na assembleia nacional estes militantes supremacistas brancos se articulam na presidência, nos governos estaduais e judiciário federal. Agenciam a estrutura jurídica para permitir o livre comércio de armas, de novos instrumentos e investimento na polícia, do fortalecimento jurídico da Abin e do exército para monitorar, encarcerar e matar em nome do Estado e da sociedade:
[…] polícia e exército tem uma funcionalidade: Os departamentos de polícia e as forças armadas são as duas armas da estrutura do poder, os músculos de controle e coação. Possuem armas terríveis para infligir a dor no corpo humano. Sabem como causar mortes horríveis. Tem cassetetes para espancar o corpo e cabeça. Tem balas e revolveres parar abrir buracos na carne, para pulverizar os ossos, para aleijar e matar. Empregam a força para lhe obrigar a fazer o que as autoridades decidiram que você deve fazer (Eldridge Cleaver, 2017).
Os episódios ocorridos em São Paulo e no Espírito Santo – o embranquecimento da cultura negra e o extermínio de corpos negros promovidos por grupos de extermínio denunciados federalmente – se relacionam no avanço histórico do genocídio expresso nesta ideologia da crise da segurança pública e da necessidade de resguardo da nação contra os inimigos internos (as raças perigosas).
No Rio de Janeiro policiais estão em greve junto a outros servidores públicos devido as medidas de recessão econômica, a poucos dias o exército foi mobilizado para realizar segurança local. No mesmo Estado alguns meses uma jovem de treze anos foi apedrejada na rua por andar com roupa de santo, ela usava turbante. O laboratório da guerra racial se fortalece com o investimento em aparatos jurídicos e materiais de alta letalidade e a partir da ideologia da crise da segurança pública. O Rio de Janeiro será a nova etapa da guerra racial contra o povo negro e demais minorias do estado supremacista branco brasileiro – a crise era a brecha que o sistema queria avisa o IML chegou o grande dia.

Willians Santos, doutorando em Ciências Sociais UNICAMP\FAPESP
(Publicado originalmente no site do Jornal Le Monde Diplmatique Brasil)

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