pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO. : Editorial: Grande acerto, Raul Jungmann?
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sexta-feira, 26 de maio de 2017

Editorial: Grande acerto, Raul Jungmann?

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O ainda presidente Michel Temer(PMDB) acaba de revogar o decreto que autorizava a presença das Forças Armadas na capital federal, sustentada sob o pretexto da Garantia da Lei e da Ordem, anteriormente previsto para expirar apenas no dia 31 deste mês. O cenário político agravou-se bastante com a presença de forças militares em Brasília, que vive sob um impasse político ainda não equacionado, depois que vazaram os áudios comprometedores entre o presidente e o dono do grupo J&F, Joesley Batista. Como o nosso sistema político é, de um modo geral, bastante frágil, não poderia fugir a essa regra quando se trata de amortecer os solavancos ou abalos sísmicos frequentes na planície.E olha que esses solavancos são absurdamente frequentes, se analisarmos com cuidado a  nossa incipiente experiência democrática. 

A começar pela incapacidade de nossas elites em aceitarem as regras do jogo democrático, marcado por muitas incertezas quanto aos seus resultados. Nem mesmo nos governos de orientação mais progressista seus privilégios foram atingidos, mas, mesmo assim, o simples reconhecimento do exercício de cidadania ao andar de baixo já seria suficiente para a sua "inquietação" mais recente, o que culminou nesses rearranjo de forças conservadoras, que apropriou-se de um mandato legítimo, conquistado nas urnas, com 54 milhões de votos dos eleitores brasileiros. Se, naquele momento, os problemas econômicos incomodavam, hoje soma-se a eles a instabilidade política e uma baita crise de governabilidade. Entre os compromissos desse "novo" arranjo que assumiu o poder, uma agenda de orientação neoliberal radical, francamente favorável à ditadura do capital, solapando direitos e garantias constitucionais do cidadão, culminando com uma completa destruição do Estado de bem-estar social. 

Refeita do sono profundo que produziu o monstro do retrocesso democrático, em algum momento a população reagiria a essas manobras, pela absoluta ausência de quaisquer outras alternativa institucionais, uma vez que o parlamente e o judiciário estão também comprometidos pela engrenagem que mói nossa democracia representativa. Não estamos aqui defendendo quebradeiras ou danos ao patrimônio público, mas constatando o fato de que, apenas com mobilizações populares esse quadro pode ser revertido. É preciso que a população demonstre sua insatisfação e desaprovação às medidas e reformas que estão sendo discutidas no parlamento. Essas mobilizações cumprem o papel de "sensibilizar" parte deste sistema político, notadamente aqueles estratos que dependem do voto popular para manterem seus cargos. Convém tomar cuidados, entretanto, para não municiar os adversários da democracia, que podem enxergar nos excessos boas razões para um endurecimento do regime.


Todas as vezes em que leio ou escuto algum pronunciamento do ministro da Defesa, Raul Jungmann, sinto algo dúbio no ar, o que deve deixar atentos as pessoas de convicções democráticas deste país. Num primeiro momento, o que se sabe - a nível das justificativas oficiais - é que o senhor presidente Michel Temer teria convocado a presença das Forças Armadas a partir da constatação de que não havia policiais regulares em número insuficiente para conter os possíveis distúrbios provocados por black bloc infiltrados entre os manifestantes populares. Depois de afirmar que foi um grande acerto a convocação dos militares, o senhor Raul Jungmann, em entrevista a uma rádio aqui do Recife, tentou justificar a convocação dos militares, sob argumentos não muito convincentes. Vou relatar para ti, senhor Raul Jungmann, uma historieta dos dias sombrios de 1964, que deve por de orelha em pé aqueles brasileiros que, de fato, possuem algum compromisso com a democracia:  

"Embora ligado à ARENA, Pedro Aleixo foi o único civil que, durante reunião ministerial, se manifestou de forma cívica e veemente contra o arbítrio do Ato Institucional n°05. Vice de Costa e Silva, em razão do impedimento deste, era natural que Aleixo tomasse posse, mas os militares o mantiveram em prisão domiciliar até o cargo ser extinto, protagonizando um Golpe dentro do Golpe. Instigado a pronunciar-se sobre o assunto, Aleixo deixaria uma frase célebre sobre aqueles dias, que se prenunciavam, como de fato foram, sombrios para as instituições democráticas brasileiras. Perguntado pelo Ministro da Justiça se não confiava no discernimento do presidente, respondeu: “eu não confio é no guarda da esquina”. O resto da história todos já conhecem." 

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