Qual o real papel exercido pelo governador de Pernambuco,
Eduardo Campos, para o excelente desempenho do deputado Júlio Delgado(PSB-MG)
na última eleição para a presidência da Câmara dos Deputados, vencida por Henrique
Eduardo Alves(PMBD-RN)? Concorrendo sem o apoio do Planalto, Delgado obteve 167
votos, por muito pouco não levando a disputa para um segundo turno. É bem
verdade que Henrique Eduardo enfrentou alguns problemas internos – dentro do
próprio PMDB -, mas, em todo caso, o desempenho de Júlio Delgado surpreendeu.
Todos os prognósticos apontavam para uma vitória mais tranquila de Henrique
Eduardo Alves. A enxurrada de dossiês que apontavam alguns desvios de conduta
em sua longa vida pública, também não justificaram os votos dados a Delgado,
uma vez que parâmetros éticos nunca foram o forte de nosso parlamento. O
desempenho de Delgado conjuga-se a uma bem-sucedida estratégia de atuação,
embora seja difícil definir o papel de alguns atores nessa engrenagem,
inclusive o papel do governador pernambucano. Comenta-se que o senador Aécio
Neves (PSDB) empenhou-se pessoalmente na busca de votos para o deputado
Delgado, mas nada além de sua discreta e insossa atuação, atitude criticada
pelos próprios companheiros de partido, que cobram posições mais firmes do tucano. Ao contrário do mineiro, o pernambucano
atua como um trator. Aciona a infantaria, dispara telefonemas, afaga a dissidência,
monta um quartel-general com atuação 24 horas no Campo das Princesas. Por
razões óbvias, nesse caso específico, precisava manter-se discreto. Afinal,
pertence à base aliada do Planalto, que tinha compromissos com a eleição de
Henrique Alves. Sabidamente, Dilma Rousseff não digere muito bem Henrique
Alves. No início, ele criou alguns problemas para o Planalto. Acordos
costurados com o PMDB, entretanto, forneceram a vaselina necessária para o
entendimento. É precipitado afirmar que ela teria feito "corpo mole" ou dado
ordens para a coisa “correr solta”, estimulando candidatos como Delgado. Neste
sentido, qualquer que seja o papel do governador de Pernambuco – mesmo que
discreto – certamente mereceu uma apreciação crítica do Planalto. Os cronistas da
política brasileira se dividem sobre o assunto. Alguns exaltam que a votação
obtida por Júlio Delgado é mais uma vitória do “Moleque” dos jardins da
Fundação Joaquim Nabuco, em mais uma atitude provocativa, ele que é pretendente
ao Palácio do Planalto. Outros cronistas asseveram que um empenho pessoal do
governador poderia ter levado a eleição para um segundo turno. Assim como em
outros momentos de sua vida pública, Eduardo tem se comportado como uma
esfinge, permitindo-se várias interpretações. Certamente não abandonou o
companheiro de partido, medindo seu prestígio no parlamento, dando mais uma
demonstração de força ao Planalto, que já se encontra com ele atravessado na traquéia.
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