A ausência de uma posição mais firme sobre se é ou não governo, se é de esquerda ou de direita vem contribuindo bastante para todo
tipo de especulações e associações sobre a ex-senadora Marina Silva. Marina já
foi acusada de defender as posições do Estado de Israel no conflito palestino, de
estar consorciada com os banqueiros do ITAÚ, que adota as mesmas cores da
rede-sustentatibilidade, o laranja, e tem sido generoso com a ex-senadora.
Consideramos que isso fragiliza a proposta da ex-senadora, na medida em que,
além de suscitar tantas especulações – provocando essas reações – ainda permite
a “diluição de uma identidade”, o que pode não ser muito interessante para a
futura legenda, que já nasce com o princípio da desconstrução do discurso mais
tradicional sobre partidos políticos. Grosso modo, a Rede vem recebendo adesões
muito mais à esquerda do espectro político o que, facilitaria, inclusive, uma
guinada no pêndulo da legenda. Não entendo as razões da senadora ao adotar essa
postura. Já que ela está lendo muito os trabalhos do sociólogo Manuel Castells,
ideólogo do grupo, talvez fosse o caso de o blog indicar para ela a leitura
de um livreto do filósofo político italiano, Norberto Bobbio, falecido até
recentemente. O livro tem como título “Esquerda e Direita”. Nele, Bobbio
disseca as razões pelas quais ainda é possível falar numa agenda de esquerda,
mesmo com o desmonte da experiência do socialismo realmente existente. Essa
agenda, segundo o filósofo, incluiria, inclusive, algumas teses muito
identificadas com os verdes, como a defesa de um modelo de desenvolvimento
sustentável; a ética na condução da coisa pública e um velho dilema, o da
construção de uma sociedade menos desigual. Quando assumiu a Fundação Joaquim
Nabuco, num de seus primeiros encontros com os funcionários, em razão da enorme
expectativa que se formava, fiz questões de inquirir o ex-ministro Fernando
Lyra – falecido recentemente – sobre alguns desses temas.
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