O XADREZ
POLÍTICO DAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 2014 – No caso de Eduardo Campos, Dilma,
peça as asas.
José Luiz Gomes escreve
Comenta-se
que um cidadão, reiteradas vezes, escrevia para o consultor gastronômico de uma
publicação especializada, com o objetivo de esclarecer uma dúvida que o
atormentava. Nos almoços de domingo, na casa da sogra – que, por sinal, não
gostava muito dele – era servida carne de coelho sob o disfarce de carne de
galinha. Ele não gostava de coelho e, segundo ele por pirraça, a sogra o
enganava sempre.
Tivemos
a oportunidade de experimentar a carne de coelho no hotel fazenda Alvorada, em
Garanhuns, a terrinha da garoa. De fato, lembra um pouco o sabor da carne de
galinha, sobretudo para quem não possui um paladar tão apurado. O consultor da
publicação, esmerava-se em suas explicações, divagando sobre as principais
diferenças entre ambas as carnes, mas não convencia o cidadão. Por fim, já
exausto das explicações técnicas, em sua última resposta, foi curto e grosso:
“peça as asas”.
Esse
episódio nos veio à tona após ler – e também conceder algumas entrevistas –
abordando o mesmo tema: a candidatura ou não do governador de Pernambuco,
Eduardo Campos, ao pleito presidencial de 2014. Muita tinta já foi gasta sobre
o assunto. Sua última entrevista, concedida à revista Época foi esmiuçada pelo
jornalista Josias de Souza, do Portal UOL, num feliz exercício de análise de
discurso, onde ele chegou a conclusão sobre a construção de um discurso marcado
por uma profunda ambiguidade do chefe do Executivo do Estado. Como já afirmamos
em inúmeras postagens pelo blog, Eduardo Campos vem adotando uma estratégia que
inquieta, mas paralisa o PT.
Publicamente,
faz juras de amor eterno a Dilma, mas protege a retaguarda como ninguém.
Assegura que está lendo Machado de Assis, mas desconfiamos que o seu livro de
cabeceira é mesmo “O Príncipe”, de Maquiavel. Como ensinava o mestre florentino, melhor ser temido do que ser amado. Vem se consolidando como uma “opção real
de poder” para os próximos pleitos presidenciais. As circunstâncias políticas e
econômicas serão determinantes, mas o seu “aquecimento” o colocaria em campo –
mesmo que apenas para se apresentar ao estádio – assim que for “convocado”.
Mais prudente seria, como já sugeriu o empresário Jorge Gerdau, o seu homem de
confiança no mundo corporativo, em 2018, mas política, como antecipou uma
raposa mineira, muda como as nuvens. Embora se recomende tirar o sapato quando se estar
próximo ao rio, por outro lado, como ensinava nossa mãe, oriunda da região do
Cariri paraibano, boi ronceiro bebe a lama.
Embora
aliado do PT, não dispensa os mimos do DEM. Articula-se com todas as forças
políticas, embora o PSDB, no momento, dispense uma atenção maior, sugerindo-se,
inclusive, uma dobradinha dos “netos”, aquela que, no passado, já teria sido a
chapa dos sonhos de Luiz Inácio Lula da Silva. A possibilidade existe, embora
sua construção exija um contorcionismo político complexo. Todas as
possibilidades estão sendo exaustivamente analisadas pelos estrategistas do
Palácio do Campo das Princesas, sobretudo por entender as ranhuras de sua
relação com o Partido dos Trabalhadores.
Por
falar em ranhuras, num gesto de grande desprendimento, a presidente Dilma
Rousseff, que se encontra de férias na base militar de Aratu, na Bahia,
convidou o governador para um almoço. Assim como nos negócios, em política
almoços também não saem de graça. Um privilégio concedido a poucos, sobretudo
pelo fato de que a presidente estava descansando. O almoço – regado à pescada
amarela, pelo que nos informaram – teve uma sobremesa política das mais
contundentes. Dilma, certamente, não arrancou nenhum compromisso formal de
Eduardo Campo sobre 2014. Afinal, 2014 está muito distante. Vamos ajudá-la a
ganhar 2013, colocar a casa em ordem, superar as dificuldades econômicas, fazer
o país voltar a crescer – de preferência nos níveis do Estado de Pernambuco.
Esse é o discurso. A mensagem subliminar é que ele “é o cara” capaz de fazer o
país voltar a crescer, repactuar o Pacto Federativo, implantar a reforma fiscal
e tributária etc. Há, subjacentemente, uma plataforma política em gestação.
Encostado
na parede, ao velho estilo do avô, Eduardo Campos pigarreou, fingindo
engasgar-se com uma espinha da pescada, merecendo umas tapinhas na costa do
governador Jaques Wagner, que, dizem, teria sido escalado por Dilma para conter
o avanço do PSB no Nordeste, justo ele que não consegue tomar conta do próprio
quintal. Um copo de suco de araçá e tudo voltou à normalidade.
Algumas
leituras precipitadas do encontro concluíram que, com o gesto de distensão e
demonstração de carinho, Dilma teria equilibrado o jogo em torno de um possível
apoio do governador a seu projeto de reeleição. Não vemos assim. Antes do
encontro, segundo o painel da Folha de São Paulo, Eduardo teria
conversado com Luciano Ducci e determinado a ele uma missão: fazer o PSB
crescer na região Sul do país, o que reforça a tese da estratégia que ele vem
adotando desde o momento em que foi picado pela mosca azul, ou seja, equilibra-se
instavelmente na canoa do Palácio do Planalto, ao tempo em que consolida-se
como uma alternativa real de poder, aglutinando, inclusive, forças políticas
que hoje fazem oposição do Governo.
Assim
como aquele leitor da publicação citada, o Planalto desconfia da carne que está
sendo servida pelo governador de Pernambuco, mas ainda não teve coragem de
pedir as asas. Nos bons tempos, quando vinha a Pernambuco e era convidada para
saborear um camarão a moranga ou uma costela de cordeiro, Dilma não apenas tinha
certeza sobre a genuinidade da cozinha, como ainda tinha direito às tiradas do
escritor Ariano Suassuna de sobremesa. Bons tempos aqueles.
Antes de ser amado, o “Moleque” dos jardins da
Fundação Joaquim Nabuco, prefere mesmo ser temido. Com a projeção e a
capilaridade política conquistadas, tornou-se um aliado ameaçador ao projeto
hegemônico do PT, mas um ator político estratégico, fundamental para a
manutenção desse mesmo projeto. Não raro, o PT faz algumas sinalizações
interessantes, como uma última declaração do ministro Gilberto Carvalho, de que
ele poderia ter o apoio do partido numa cabeça de chapa em 2018.
Há
ainda quem o aponte como um líder provinciano, inflado por alguns setores da
imprensa, mas vale a ressalva de que o caboclo trabalha incansavelmente para
superar suas dificuldades e já começa a aparecer nas sondagens de possíveis
nomes ao Palácio do Planalto. Além de equilibrar o jogo no Estado, uma das
preocupações de sua assessoria seria exatamente fortalecê-lo em regiões
estratégicas, onde o seu nome ainda é desconhecido.
As
circunstâncias políticas e o comportamento da economia em 2013 serão
determinantes para a definição do cenário presidencial de 2014. Ele sabe que
Dilma precisa cruzar esse rubicão para habilitar-se à reeleição. Tudo indica
que será um ano difícil, dada a conjuntura internacional. Alguns aspectos da
política econômica adotada pelo Governo estão sendo bastante criticados, inclusive
pelo governador de Pernambuco, atingindo Dilma em seus pontos mais vulneráveis,
o que já provocou algumas rusgas nessa relação.
Em
sua última matéria para o Jornal do
Commércio, o jornalista Sérgio Montenegro Filho aborda este assunto. Em
certo momento, sobretudo a partir dos comentários de um cientista político,
tem-se a impressão de que o nome de Geraldo Julio surgiu no momento em que
Eduardo Campos havia perdido a paciência com o PT. Não advogamos essa tese. A
estratégia de retirar do PT o comando do Palácio Antonio Farias foi algo
bastante planejado, ancorado numa série de variáveis que, no seu conjunto,
afirmavam tratar-se de uma ação estratégica, inclusive no sentido de dar
suporte, visibilidade e reforçar o nome do governador no cenário nacional.
A
estratégia foi tão bem urdida que engoliu o PT no Estado. Em Pernambuco, o
partido tornou-se eduardodependente. Agora, por ocasião da decisão sobre se o
partido deveria compor a base de sustentação de Geraldo Julio, o senador
Humberto Costa, assim como João Batista, ficou pregando no deserto. Para
completar o enredo, setores da agremiação alinhavados com o Campo das
Princesas, caso de João da Costa, que, ao apagar das luzes do ano de 2012,
convocou uma reunião de emergência do CDU e conseguiu aprovar o polêmico
projeto Novo Recife, sobre o qual o atual gestor nunca havia assumido uma
posição mais firme. Nos bastidores, se descobriu que a principal construtora
interessada no projeto havia doado 500 mil reais à campanha do PSB em 2012.
E,
assim, Eduardo Campos segue sua trajetória rumo ao Palácio do Planalto, comendo
o mingau quente pelas beiradas. Além de Dilma, que já ocupa aquele espaço, é,
entre os possíveis candidatos, aquele que mais se movimenta. Como uma raposa,
calcula o momento certo de dar o bote. O futuro dura muito tempo e em 2018 ele
pode não encontrar as mesmas oportunidades de 2014, embora ainda seja uma
liderança jovem. Sobretudo em política, promessas não podem ser levadas muito a
sério. Fossem algumas dessas promessas cumpridas, possivelmente João Braga
poderia ter ocupado o Palácio Antonio Farias com o apoio do então prefeito
Jarbas Vasconcelos, ou, o hoje vereador, Raul Jungmann, pelo menos, um
potencial candidato a prefeito nas últimas eleições, apoiado pelo PSDB. A
hipótese de ele apoiar a reeleição de Dilma em 2014 sob a possibilidade de Lula
o apoiá-lo em 2018 são apenas especulações. Salvo algumas ressalvas, no nosso
entendimento, sua estratégia é correta. Constrói, em torno de si, uma
alternativa real de poder, independentemente dos humores de “A” ou “B”. Se será
bem-sucedido, é outra história que deveremos tratar nos próximos artigos. Por
enquanto, o editor blog sai de férias por alguns dias, para saborear um
autêntico bode ao molho de tomate servido num restaurante de comida regional de
Jacumã, PB. Até breve.
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