O deputado gaúcho Beto Albuquerque lidera na Câmara a bancada do
emergente PSB. Na noite passada, ele concedeu uma entrevista ao blog.
Falou sobre o projeto de poder de sua legenda com franqueza inusual.
Contou que a candidatura presidencial de Eduardo Campos “é um consenso
dentro do PSB”. Nas reuniões internas, o governador pernambucano
revela-se “entusiasmado.”
Para levar seu candidato à vitrine, o partido já prepara um ciclo de
viagens –“É uma forma de mostrar o Eduardo ao Brasil”, diz Beto. A essa
altura, declara o deputado, já não espaço para apelos de Lula em favor
de Dilma. “O Lula não pode nos impedir de fazer o que ele fez. Ele é o
nosso ensinamento, nosso exemplo é o Lula.”
E se oferecerem a vaga de vice de Dilma a Eduardo Campos? “O Lula
sabe que isso é impossível. O PT engordou de tal forma o PMDB, que esse é
um caminho sem volta. Esse casamento não tem recuo.” E quanto ao
argumento de que o mandarim do PSB, por jovem, pode aguardar até 2018?
“Não é o caso de esperar. O momento é de exercer a oportunidade do
protagonismo em 2014.” Vai abaixo a entrevista:
— É verdade que Eduardo Campos irá correr o país?
Dentro das limitações de governador, ele vai andar o Brasil. Vem ao Rio
Grande do Sul em 9 de abril. Haverá um evento partidário, em função dos
meus 50 anos. Queremos reunir umas 2 mil pessoas. Ele também fará uma
palestra no Fórum da Liberdade, organizado pelo Instituto de Estudos
Empresariais. É um evento tradicional, está na sua 26a
edição. Reúne muita gente. Nesse dia, inclusive, antes do Eduardo, fala a
bloqueira cubana [Yoani Sanchez] e, depois, o [Roberto] Setúbal. Ele
vai participar também de outro tradicional evento de debates da
Federação das Associações Comerciais do Rio Grande. E vai receber uma
honraria da Assembléia Legislativa, a Medalha do Mérito Farroupilha
–iniciativa de deputados de outros partidos, não do nosso.
— Afora essa agenda gaúcha, o governador irá a outros Estados?
Devemos ter agendas como essa em outros Estados. Nossa ideia é
proporcionar ao Eduardo oportunidades para expor suas ideias sobre
política de gastos públicos, planejamento e desenvolvimento. São coisas
que ele domina e que vem proporcionando a ele muito reconhecimento.
— Eduardo Campos decerto não percorrerá o mapa a passeio. É candidato à Presidência da República?
Nosso partido vê com total entusiasmo a possibilidade de ele ser
candidato. Há um consenso dentro do PSB, até pelo aprendizado que nós
tivemos com o próprio Lula.
— Aprendizado? Sim, claro. O Lula não
esperou que alguém viesse oferecer para ele a oportunidade. Ele começou a
disputar, perdeu três eleições e ganhou as outras. Então, nós temos que
enxergar a janela de oportunidade que se abriu diante de nós. Há um
certo esgotamento dessa dicotomia tucano-petista. Já são 20 anos. Temos
no Eduardo uma liderança testada, aprovada. É bom gestor, é político e é
jovem. Não podemos perder essa oportunidade. Essas agendas todas que o
partido passa a realizar pelo país é, evidentemente, uma forma de
mostrar o Eduardo ao Brasil.
— Nas reuniões internas, qual é a reação de Eduardo Campos a esse debate sobre o projeto presidencial do PSB? Ele
está entusiasmado. Sabe das dificuldades, não ignora o tamanho do
desafio. Nós prezamos muito dois predicados: pé no chão e humildade.
Vivemos um momento bom. Mas tem muita coisa para fazer. Partimos de uma
base muito boa. O Eduardo tem resolvido bem as questões econômicas e de
gestão em Pernambuco. Você vai ao Porto de Suape e vê 50 mil pessoas
trabalhando lá. O empreendedor chega em Pernambuco e não encontra
dificuldades para se instalar e produzir.
— Parte da pujança de Pernambuco decorre dos
investimentos federais feitos no Estado na gestão Lula, com quem Eduardo
Campos mantém relações de amizade. Se Lula pedir, o governador não
troca suas pretensões pelo apoio a Dilma Rousseff? Creio
que não. O Lula não pode nos impedir de fazer o que ele fez. Ele é o
nosso ensinamento, nosso exemplo é o Lula. Além disso, sem negar nada do
que foi feito pelo Lula, há verdades que precisam ser ditas. Peguemos o
exemplo da Fiat. Foi o Lula que mandou a Fiat para Pernambuco? Não, a
Fiat foi para um Estado que tem um ambiente de empreendedorismo
afirmativo. A refinaria [Abreu e Lima], sim, o Lula ajudou. É
importante. Mas por que foi para Pernambuco? Porque havia lá uma
atmosfera favorável, com as coisas preparadas, com os imbróglios
desatados.
— E se for oferecida a Eduardo Campos a posição de vice de Dilma?
O Lula sabe que isso é impossível. O PT engordou de tal forma o PMDB,
que esse é um caminho sem volta. Esse casamento não tem recuo. O PMDB
pode ficar tranquilo conosco. O que nós queremos não é o espaço deles.
Queremos outro espaço, o nosso espaço.
— E quanto ao argumento de que Eduardo Campos, jovem ainda, pode esperar até 2018?
Não é o caso de esperar até 2018. O momento é de exercer a oportunidade
do protagonismo em 2014. Qual é a liderança que surge e que está
provocando debate agora? Não é o Aécio Neves. É o Eduardo Campos. Esse
protagonismo tem muito da nossa vontade. Mas também decorre dos fatos.
As coisas estão acontecendo.
— Acha que Eduardo Campos desrespeitaria os fatos se deixasse de se candidatar?
Seria ignorar os fatos, dar as costas para uma janela de oportunidade
que acontece por várias razões. Não é obra apenas da nossa competência,
mas de um somatório de coisas. Não se pode negar uma oportunidade
dessas. Ainda hoje, no Twitter, uma pessoa do PT me escreveu: ‘Só espero
que o Eduardo não seja mais uma candidatura de direita’. Eu respondi:
Vocês são engraçados. Para ser vice, o cara é maravilhoso. Se quiser ser
candidato, já começa a ficar ruim. Esse tipo de mensagem não funciona.
—
O PSB cresceu, mas sua estrutura parece frágil para um voo
presidencial. Imaginou-se que se juntaria ao PSD. Porém, Gilberto Kassab
está se entendendo com Dilma. Não vai faltar palanque e tempo de tevê? Não
creio que o diálogo do Kassab conosco esteja esgotado. O que o Kassab
vai fazer politicamente? Não vai ser ministro. Não me parece que queira
ser deputado. Pode desejar uma candidatura a governador de São Paulo.
Bem, com o apoio do PT é que não vai ser. Estamos conversando também com
outros partidos –o PDT, o PTB…
— E os palanques? Hoje, temos seis
governadores e achamos que, em 2014, podemos ter de dez a 12 candidatos.
Não queremos candidatos fracos. Preferimos não ter, não há problema
nenhum nisso. Além dos palanques que podemos montar, a política
brasileira, em razão de as eleiçoes não serem unificadas, tem coisas que
só existem no Brasil: podemos ter palanques que recepcionem o Eduardo.
Nada impede, por exemplo, que um governador do PMDB recepcione o Eduardo
em determinado Estado a despeito do apoio nacional do partido à Dilma.
Vamos buscar palanques que nos recepcionem.
— Está convencido de que haverá estrutura? Nosso
esforço será para obter uma coligação que nos dê um tempo razoável de
televisão, suficiente para expor os projetos. Mas a gente já fez esse
tipo de reflexão a partir da experiência da Marina Silva na última
eleição. Ela não tinha um único candidato a governador dela. Não tinha
um partido forte. Não tinha muito tempo de tevê. E fez 20 milhões de
votos. Isso não é voto de evangélico nem de ambientalista. É um
sentimento de renovação. Um sentimento que vem crescendo. Tem uma
parcela da sociedade que não quer o ontem e que já aprovou o hoje, mas
avalia que está chegando a um ponto de esgotamento. Tem muita gente
pensando em renovação.
— Acha que o ideal é ter vários candidatos?
Numa eleição em dois turnos, é importante ter vários candidatos.
Queremos muito que o Aécio seja candidato. A candidatura da Marina, que
nós admiramos, também é importante. Se ela conseguir fundar o seu
partido e aproveitar o seu recall, ótimo. Acho que podemos ter uma
eleição muito boa do ponto de vista da representação e do debate, com
gente muito qualificada.
— Não acha que é uma incoerência o PSB manter o controle de dois ministérios, o da Integração Nacional e o dos Portos? Nossa permanência do governo tem prazo, não pode passar desse ano.
— Essa demora não pode ser mal compreendida? Não.
Se tivermos o Eduardo como candidato, ele não será um candidato anti-PT
ou anti-Dilma. Podemos ser a candidatura do pós-PT. Não temos vergonha
de ter integrado o governo Lula ou de integrar o governo Dilma. Somos
uma candidatura de esquerda e achamos que há espaço para duas
candidaturas. Não há nenhuma contradição nisso.
— Nas disputas do Congresso, o PSB teve candidato contra
Henrique Alves na Câmara e apoiou o rival de Renan Calheiros no Senado.
Os senhores se reuniram com Eduardo Campos, na quinta, para avaliar os
resultados. O que concluíram? Fizemos essa reunião de avaliação, em Brasília. Achamos que nosso desempenho na Câmara e no Senado foi muito positivo.
— Por quê? Em função do nosso protagonismo, da nossa distinção.
— Quando fala em distinção se refere ao distanciamento em relação a PT e PMDB?
Sim. Mas não foi só. Nós nos distinguimos também do Aécio. Eu até
brinquei, dizendo que o Aécio e a Dilma fizeram na Câmara 271 votos
[eleitores de Henrique Alves, do PMDB] e o Eduardo Campos fez 165
[votação de Júlio Delgado, do PSB]. O PSDB inteirinho foi com o
Henrique. No Senado, o Aécio não fez nem discurso. Disseram que votariam
num candidato [Pedro Taques, do PDT] e, no voto secreto, o PSDB foi
para o lado do outro candidato [Renan Calheiros].
— Que efeitos esse posicionamento adotado no Congresso pode ter do ponto de vista eleitoral? Mostramos
que nós estamos ouvindo mais as vozes das ruas, que querem renovaçao,
querem mudança de práticas políticas. Nesse Big Brother em que se
transformou a política, tem gente que acha que não está sendo vista nem
ouvida. Engano. A observação hoje é maior do que em outras épocas. O
voto secreto não esconde mais ninguém.
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