Até recentemente, o poeta Ferreira Gullar escreveu um artigo no jornal Folha de São Paulo com duras críticas ao Partido dos Trabalhadores, insinuando que o partido espalhava a notícia de que o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff seria um golpe e, na sua opinião, isso trata-se de uma grande mentira. Em seguida, ele tece aquele rosário de argumentos furados, informando que o pedido foi assassinado por um cara como Hélio Bicudo, com o respaldo de Janaína Paschoal, Miguel Reale Jr.
Por falar em Janaína Paschoal - os leitores nos permitam essa divagação - acabo de ser informado que a ilustra senhora, depois das agressões verbas sofrida por militantes petista, num aeroporto de Brasília, recebeu a oferta de ser acompanhada pelo ator Alexandre Frota, assim como aqueles pitbulls de academia dispostos a tudo para protegê-la. Bem ao seu estilo, o Nogueira concluiu que a indústria pornô deve estar mesmo em crise. Não poderia deixar de fazer esta divagação, por entender que este fato, somados a outros - como aquela agressão física promovida por um partidário do Deputado Jair Bolsonaro(PSC-RJ) a uma senhora, também Brasília - nos colocaram numa encruzilhada perigosa, de consequências imprevisíveis. O ovo da serpente fascista já eclodiu. Não aprovamos nenhuma coisa nem outra.
Mas, voltemos ao Ferreira Gullar, que é a finalidade deste editorial de hoje. Quanto ao fato de este cidadão não nutrir a menor simpatia pelo PT, a gente entende e aceita numa boa, porque somos democrata e, por consequência, tolerante. Ele se perde, no entanto, quando insiste em afirmar que o pedido de impeachment é legítimo, com fundamentação jurídica aceitável. Não é. A presidente Dilma Rousseff não cometeu crime de responsabilidade algum, nem mesmo as infundadas pedaladas fiscais, a julgar pelas conclusões de uma perícia encaminhada pelo próprio Senado Federal. Nem assim houve um "arrefecimento" da sanha golpista dos seus algozes, evidenciando, por "a" mais "b", de que se trata de uma questão político-ideológica. Os golpista resolveram apear Dilma Rousseff do poder e pronto.
Todos os "campos" - para usarmos aqui um conceito do sociólogo francês Pierre Bourdieu - possui suas regras próprias, seja na admissibilidade, permanência e projeção dos seus membros. Aqueles atores que não cumprem as "regras" impostas pelo "campo", muito dificilmente permanece entre eles, ou se projetam, ampliando seu capital simbólico. Isso é próprio de qualquer "campo". No caso do Brasil, talvez em função de nossa atipicidade histórica, possuímos um templo do campo literário - a Academia Brasileira de Letras - com algumas características peculiares. Ali não estão apenas os poetas e escritores consagrados, mas políticos, militares, cirurgiões plásticos et caterva. Não deixa de ser algo curioso observar que bons escritores e poetas já foram preteridos ali em nome dessa dinâmica particular.
Comenta-se que o poeta Ferreira Gullar teria alertado o também poeta Augusto de Campos sobre o fato de que, em razão dos seus posicionamentos políticos, ele poderia deixar de receber da Academia Brasileira de Letras um prêmio no valor de 300 mil reais. A resposta de Augusto de Campos veio à altura da proposta indecente recebida. Publico aqui para vocês, pela absoluta impossibilidade de acrescentar sequer uma vírgula nas ponderações de Augusto de Campos, que aproveita a deixa para desancar os métodos daquela academia, que reúne uns velhinhos inofensivos para tomarem chazinhos no final da tarde.
"Para piorar, o Acadêmico Ferreira Gullar acena-me com um prêmio de R$ 300 mil da Academia Brasileira de Letras, que eu deixaria de levar, apesar do seu "placet", por ter criticado a entidade. Ora, somos mesmo pessoas completamente diferentes. Como somos poetas diferentes. Isso, sim, é um insulto. Jamais aceitaria qualquer prêmio, de que valor fosse, vindo dessa instituição, que considero inútil, caduca e até nociva, pelo mau exemplo que dá a cultura brasileira, acolhendo gente que nada tem a ver com literatura –velhos políticos, governantes, empresários e jornalistas conservadores– uma confraria de mediocridades que se chamam despudoradamente de "imortais", envergando fardões, espadas, colares e medalhas. Com raríssimas exceções. Nego-lhes autoridade para conferir prêmios e prebendas. E encerro com as palavras de um poema instrutivo e fácil de entender: NÃO ME VENDO / NÃO SE VENDA / NÃO SE VENDE."
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