Marcondes de Araujo Secundino
Sociólogo, consultor e doutorando em Antropologia (UFPE)
E-mail: secundino.ma@gmail.com
Sem
reforma política, os arranjos e as alianças continuam expressando mais
pragmatismo e menos compromissos dos atores políticos com agendas públicas e
conteúdo programático. Sinalizam para compromissos em torno de estrutura de
campanha, distribuição de cargos e, como diria a opinião pública, acordos
financeiros que divergem de práticas republicanas. Mas a legislação eleitoral
atual privilegia esse pragmatismo e, ressalte-se, é de conhecimento de todos.
Nada
de novo sobre a terra! O sociólogo alemão Max Weber desde o início do século
passado analisou o Estado moderno e sua lógica de funcionamento. No ensaio “Política como Vocação” apresentou uma
arguta crítica sobre as tramas que envolvem as ações dos atores políticos
voltadas para a formação e a prática partidária, a relação desses
representantes com as empresas privadas, bem como a relação dos agentes
privados com os representantes dos partidos e do poder público. Um século
depois parece não apresentar avanços!
Para
exemplificar essa lógica pragmática de alianças políticas é só acompanhar o
comportamento político dos atores envolvidos no processo eleitoral em qualquer
município brasileiro. Destacaremos, neste momento, o município de Águas Belas
que se localiza numa zona de transição entre o agreste e o sertão, detém um
colégio eleitoral de 30.896 eleitores e é administrado pelo PT por duas gestões
consecutivas.
O
Prefeito Genivaldo Menezes (PT) perdeu, entre o ano passado e este ano, seis
vereadores da sua base de apoio na Câmara. Alegando problemas na condução
política do projeto em curso e para escapar da polarização local com a família
Martins que milita no PSDB, esses vereadores aderiram a uma nova candidatura
para o pleito municipal de 2016, a de Aureliano Pinto pelo PDT. Mas, na reta
final para a realização das convenções com vistas a selar formalmente as
alianças e definir as candidaturas, dois vereadores que haviam rompido com o
prefeito retornaram ao grupo político para apoiar a candidatura do seu sucessor,
o ex-superintendente do Incra-PE e ex-assessor da Fetape, Luiz Aroldo. São
eles: Melchizedeck de Gueiros Malta Neto (Melk), atualmente no PRB; e Alan
Roberto dos Santos Silva (Buda) do PSD.
Relevante
ressaltar que na eleição de 2008 Melk foi eleito Vereador pelo DEM e pela
coligação capitaneada pela família Martins (PSDB) e derrotada pelo atual prefeito
(PT). Lembrar também que o mesmo já foi filiado a vários partidos. No início da
legislatura elegeu-se Presidente da Câmara Municipal com apoio do prefeito que
o apoiou novamente para o segundo mandato (2008-2010/2010-2012). Com a
reeleição de Genivaldo Menezes para o executivo em 2012, Melk foi reeleito para
um novo mandato de vereador e também de Presidente do Legislativo (2012-2014).
Entretanto, mesmo recebendo apoio político incondicional do prefeito do PT
durante este período, nas eleições de 2010 e 2014 apoiou para Deputado Estadual
Claudiano Martins (PSDB), adversário político do prefeito. Em relação ao
exercício de três mandatos consecutivos de Presidente do Legislativo Municipal
é um fato inusitado, assemelha-se ao caso do Deputado Estadual Guilherme Uchoa
à frente da Assembleia Legislativa de Pernambuco que, durante o Governo Eduardo
Campos, foi até necessário mudar a Constituição Estadual para permitir tal
feito. No pouco tempo em que esteve apoiando a candidatura de Aureliano Pinto
(PDT), Melk não perdeu a oportunidade de anunciar que já tem compromisso com o
Deputado Claudiano Martins para a eleição de 2018. E neste instante acaba de declinar
do apoio à candidatura do PDT e se reintegra ao grupo político do prefeito.
Trata-se de um fenômeno político municipal e expressão máxima do pragmatismo
eleitoral. Transitou por todos os grupos políticos locais!
Comportamento
parecido tem sido o do Vereador Buda eleito em 2012 pelo PSD e pela coligação
do atual prefeito (PT). Rompeu com o mesmo para apoiar a candidatura de
Aureliano Pinto (PDT) e anunciou compromisso com o Deputado Estadual Claudiano
Martins (PSDB) para 2018. Agora, acaba de anunciar o apoio ao candidato do
prefeito a sucessão e o seu desligamento do grupo liderado por Aureliano Pinto
(PDT).
Tal
habilidade e capacidade política desses atores políticos demonstram, de um
lado, a falência do sistema político carcomido que se alimenta de regras
lícitas, ilícitas e aparentemente tácitas e, por outro, a permissividade
absoluta da atual legislação para acordos paradoxalmente explícitos, porém velados que
definem os arranjos e alianças políticas no Brasil contemporâneo sem
correspondência mínima com alinhamento ideológico, agendas públicas e
programáticas. É jogo jogado na atual república com consciência e extrema
tolerância dos representantes das empresas privadas e públicas, dos partidos
políticos, dos eleitores cidadãos, do Ministério Público e da Justiça! Pergunta-se,
qual a fonte que irriga esses canais? Qual o valor de um mandato de vereador,
prefeito, deputado, senador, governador e de Presidente da República? Tem
pessoas que conseguem fazer essa contabilidade!
Parabens Marcondes excelente texto
ResponderExcluirParabens Marcondes excelente texto
ResponderExcluirTexto muito pertinente do professor Marcondes. Certamente que os casos narrados não devem ser singulares na política brasileira. Revelam que o sistema partidário atual é apenas para"inglês ver", para usar uma expressão empregada deste 1835, quando da aprovação da lei que determinava o fim do tráfico negreiro. Eis a nossa República desnuda.
ResponderExcluirTexto muito pertinente do professor Marcondes. Certamente que os casos narrados não devem ser singulares na política brasileira. Revelam que o sistema partidário atual é apenas para"inglês ver", para usar uma expressão empregada deste 1835, quando da aprovação da lei que determinava o fim do tráfico negreiro. Eis a nossa República desnuda.
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