No dia de hoje, logo cedinho, li um artigo muito pessimista sobre o futuro do Partido dos Trabalhadores, depois das inúmeras investidas dos grupos conservadores do país que, aliados a interesses estrangeiros, montaram aquelas urdiduras conhecidas para afastá-lo do poder. Não são poucos os analistas que percebem as enormes dificuldades de o partido sair dessa "refrega", em meio a esse turbilhão de problemas de toda a natureza. Prometo que volto a discutir este assunto aqui com vocês, sobretudo porque o autor do artigo apresentava argumentos bastante convincentes. Mas, felizmente, o nosso domingo não estava perdido.
Fomos para às Alterosas, mais precisamente para a capital, Belo Horizonte. Ali encontramos motivos para salvar este domingo de junho, que amanheceu chuvoso aqui em Olinda, mas o sol já resplandeceu, intimando-nos a uma cervejinha ou uma água de coco aqui na orla. Depois, pensamos no assunto. Por enquanto, vamos tratar deste editorial. Está ocorrendo naquela cidade, precisamente na Praça da Estação, um show denominado Virada Cultural, patrocinado pela Prefeitura da Cidade, administrada pelo prefeito Márcio Lacerda, do PSB. Os artistas contratados foram contingenciados a assinar um contrato, prestando muita atenção numa tal de cláusula 08.
Esta cláusula vetava terminantemente que os artistas fizeram qualquer tipo de manifestação política durante suas apresentações, numa espécie de censura prévia, algo que deve se tornar corriqueiro daqui para frente, no estágio de instabilidade institucional e erosão do Estado Democrático de Direito em que nos encontramos. O primeiro a se apresentar foi um cantor que se chama Renegado. Aqui para nós. Um caro com este nome não sugere que seja bem adaptado às regras de qualquer status quo. Foi justamente o que aconteceu. Renegado já subiu ao palco com uma camisa onde se lia, na frente, FORA TEMER e, atrás, a inscrição LACERDA NUNCA MAIS.
As fotos publicadas pela Mídia Ninja, através da página dos Jornalistas Livres, do Facebook, são de uma demonstração cívica que deixariam qualquer legalista otimista com a reversão deste quadro de insegurança institucional do país. O protesto, a princípio pensado pelos artistas, ganhou uma ressonância junto à platéia presente, que exibiu diversas faixas com os mesmos dizeres, ou seja, FORA TEMER, LACERDA NUNCA MAIS. Já disse isso aqui outras vezes e volto a repetir. O mais importante, neste momento, é uma mobilização e organização social no sentido de conter essa onda conservadora que investe contras as liberdades coletivas, assim como os direitos e garantias individuais e constitucionais. Como disse o filósofo Gabriel Cohen, dormimos o sono político que produziu este monstro. Agora e ficar acordado, perder horas de sono numa cruzada cívica contra esta engrenagem golpista.
Manifestações de repúdio como esta que ocorreu em Belo Horizonte se juntam a outras tantas que se sucedem em todo o país. O governo interino do senhor Michel Temer é uma governo sem a menor legitimidade. Apenas 13% da população - leia-se golpistas e coxinhas - o apoiam. Nem mesmo aquele contingente populacional que se deixou levar pelo apelo mentiroso do "combate à corrupção" hoje se deixa mais enganar pelo pau de galinheiro dos conspiradores.
P.S.: Do Realpolitik: Depois dessas mobilizações de Belo Horizonte, convém ao prefeito socialista aqui da província colocar as barbas de molho.
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