Certamente, os efeitos produzidos pelas delações dos executivos, ex-executivos e herdeiros da Construtora Odebrecht terão um efeito ainda duradouro sobre o nosso cenário político. A mídia impressa, os telejornais, as redes sociais e a blogosfera ainda se dedicam ao assunto, em razão dos seus desdobramentos. Hoje se fala, por exemplo, no custo social que o país pagou esses anos todos, quando bilhões foram desviados dos cofres públicos para financiar campanhas políticas através de Caixa 2 ou mesmo apropriados por políticos e agentes públicos corruptos. Creio não ser nenhum exagero afirmar aqui que este modelo "institucionalizado" execução de obras públicas no país - descrito pelo pessoal da Odebrecht - deve se repetir igualmente em relação a outras construtoras e empreiteiras que atuam no país.
Todo esse bombardeio de informações diárias, além de trazer à tona os estertores da corrupção com dinheiro público no país, também serviu para ilustrar como era o funcionamento desse famigerado Departamento de Obras Estruturadas da Construtora, um verdadeiro duto operacional de ilicitudes com recursos do erário. De fato, ficam aqui comprovadas algumas teses ou suposições por nós aqui levantadas sobre a dinâmica de funcionamento desse departamento de propinas. Com Marcelo Odebrecht, segundo alguns delatores, esse departamento assume contornos profissionais na empreiteira, estabelecendo regras claras para seus executivos atuarem nesse mundo subterrâneo, gratificando-os pela capacidade de subornar agentes públicos, "aditivar" obras em andamentos - superfaturando seus valores inicialmente negociados - e coisas do gênero. Os políticos ou agentes públicos eram avaliados consoante a sua capacidade de influência junto ao aparato estatal, o que significava propor e aprovar obras, conceber emendas ou dispositivos de interesses da construtora, inclusive socorro de bancos estatais. Executivos da empresa participavam, como assessores de parlamentares, da concepção de algumas dessas emendas de interesse da construtora.
Comenta-se sobre a possibilidade de um grande acordão político nacional, em razão da dimensão que essas denúncias assumiram, mas é muito pouco provável que algum consenso possa ser construído em torno do assunto, em razão da visível fragmentação do sistema político ora em curso. Nem mesmo a base aliada golpista converge em alguns pontos, como a Reforma da Previdência, por exemplo. Não por acaso, o presidente Michel Temer agendou um encontro no Palácio do Planalto para tentar reunir os cacos, depois do tsunami Odebrecht. Um dos grandes gargalos que surgem no horizonte político são as eleições de 2018, onde os políticos tentarão a reeleição e, consequentemente, obterem um foro privilegiado. Foro privilegiado é foro privilegiado. Bem melhor do que as desconfortáveis poltronas da 13º Vara da Justiça Federal do Paraná. No atual cenário político, para onde se olha, o que se enxerga é uma possibilidade concreta de um abraço dos afogados. Lula já teria procurado Fernando Henrique Cardoso, mas este fez questão de afirmar que o tal encontro apenas seria possível mediante uma agenda prévia muito bem definida.
Parece não haver mesmo uma saída republicana para este impasse político. Diante dos caos, o mais provável é o surgimento de algum aventureiro político, conforme afirmamos em editoriais anteriores. Pode acontecer aqui algo semelhante ao que ocorreu na Itália depois do escombro político provocado pela Operação Mãos Limpas, ou seja, diante do fracasso dos políticos profissionais, surgiu um outsider, o Silvio Berluscone. São dilemas e mais dilemas, porque, a princípio, não se cogita a possibilidade de algum retrocesso na ação judicial a esta altura do campeonato. O mais provável é que uma penca desses políticos amarguem mesmo o chilindró e façam companhia àqueles que já estão atrás das grades.O ônus de um grande "acordão", neste estágio representaria um ônus muito caro a ser pago. Trata-se de uma sangria que já não se pode mais ser estancada. Se, a princípio, nessa manada política havia alguns atores preferenciais, hoje podemos generalizá-los, independentemente de ideologias ou credos religiosos, uma vez que todos participaram dos banquetes e orgias com o dinheiro da viúva.
A charge que ilustra este editorial foi publicada no dia de hoje, no jornal Folha de São Paulo
A charge que ilustra este editorial foi publicada no dia de hoje, no jornal Folha de São Paulo
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