Estamos acompanhando o curso Fundamentos Morais da Política, organizado pelo cientista político e professor da Universidade Yale, Yan Shapiro. Uma das questões principais do curso é o que assegura legitimidade aos governos? quando devemos obedecê-los ou quando não devemos obedecê-los? Lá para tantas, Shapiro refere-se ao caso Adolf Eichmann, um criminoso de guerra nazista sequestrado pelo serviço secreto israelense, o Mossad, quando se escondia na Argentina, "julgado" e condenado à morte pelo Estado de Israel, num julgamento sumaríssimo. Mesmo em se tratando de um criminoso de guerra responsável pela solução final que eliminou milhares de judeus, Shapiro aponta várias violações de direitos cometidas pelo Estado de Israel neste caso. Logo pela manhã, li um texto do jornalista Josias de Souza, onde ele estabelece um contraponto entre os delitos cometidos pelos operadores da Construtura Odebrecht e os traficantes de drogas, cujas práticas parecem ser mais bem atinentes à ética do que aquelas adotadas pelos executivos do departamento de propinas.
É preciso que se veja com bastante atenção como serão tratados esses delatores, assim como em que termos esses acordos foram firmados. Se, por um lado, a sociedade clama por uma punição exemplar aos homens públicos envolvidos nas falcatruas denunciadas, por outro lado, convém ser severo igualmente com esses corruptores e seus operadores. Em alguns casos, observa-se uns padrões de benefícios que bem poderiam ser questionados, como redução drásticas das quantias que deveriam ser repostas ao erário, assim como as modalidades de cumprimentos de suas penas. Um deles recebeu o benefício de uma prisão domiciliar numa fabulosa mansão à beira-mar, possivelmente apenas com o incômodo das tornozeleiras. Também aqui é preciso entender que julgamento essa turma do Departamento de Obras Estruturadas da Odebrecht fazia de si mesmos, com esse típo de prática institucionalizada na organização. Nenhum julgamento moral em torno dessas atitudes de corromper agentes públicos? causar rombos de milhões ao erário? Nunca questionaram a autoridade de quem emitia essas ordens? sabidamente desonestas? Nunca questionaram os reflexos desses atos para o cidadão que pagava seus impostos e que demandava os benefícios dessas obras públicas? Eram apenas bons gerentes que, no final, embolsavam igualmente suas gratificações?
O julgamento de Adolf Eichmann pelo Estado judeu, naturalmente, ficou bastante comprometido, por uma razão muito simples. Ele estava aprioristicamente condenado. Nestes casos, há, obviamente, um cerceamento da defesa do acusado. Mas, sugere-se que, em sua defesa, ele argumentou com base nos preceitos levantados acima, ou seja, independentemente dessas questões morais ou éticas, era apenas alguém que se esforçava para realizar o seu trabalho da melhor maneira possível, com o objetivo de obter o reconhecimento do chefe. Um bom gerente, talvez. Transportava gente para os campos de concentração, mas poderia ser pedras, armas ou qualquer coisa que o valha. Essas coisas são curiosas. Outro dia, um grande empresário nacional - hoje preso - estava sendo apresentado como um modelo a ser seguido pelos jovens executivos; dando entrevistas às revistas de negócios de uma grande editora; vivendo uma vida de luxo; com carrões, namorando beldades, passeios de iates e coisas do gênero. No momento seguinte, apontando como um empresário que conquistou seu patrimônio através de relações promíscuas com agentes públicos. Os leitores naturalmente sabem a quem estamos nos referindo.
O caso de Eichmann, a ascensão e os crimes cometidos pelos nazistas, inspiraram Hannah Arendt em suas reflexões sobre a banalização do mal. Aqui, a julgar pelos acontecimentos narrados pelos executivos, ex-executivos e herdeiros da construtora Odebrecht, estamos diante de uma espécie de banalização da corrupção. Difícil saber quando essa cultura da corrupção será extirpada de nossa sociedade, se é que algum dia ela será extirpada. Talvez possamos elencar aqui mais um elemento da "impossibilidade" de um país chamado Brasil.
O julgamento de Adolf Eichmann pelo Estado judeu, naturalmente, ficou bastante comprometido, por uma razão muito simples. Ele estava aprioristicamente condenado. Nestes casos, há, obviamente, um cerceamento da defesa do acusado. Mas, sugere-se que, em sua defesa, ele argumentou com base nos preceitos levantados acima, ou seja, independentemente dessas questões morais ou éticas, era apenas alguém que se esforçava para realizar o seu trabalho da melhor maneira possível, com o objetivo de obter o reconhecimento do chefe. Um bom gerente, talvez. Transportava gente para os campos de concentração, mas poderia ser pedras, armas ou qualquer coisa que o valha. Essas coisas são curiosas. Outro dia, um grande empresário nacional - hoje preso - estava sendo apresentado como um modelo a ser seguido pelos jovens executivos; dando entrevistas às revistas de negócios de uma grande editora; vivendo uma vida de luxo; com carrões, namorando beldades, passeios de iates e coisas do gênero. No momento seguinte, apontando como um empresário que conquistou seu patrimônio através de relações promíscuas com agentes públicos. Os leitores naturalmente sabem a quem estamos nos referindo.
O caso de Eichmann, a ascensão e os crimes cometidos pelos nazistas, inspiraram Hannah Arendt em suas reflexões sobre a banalização do mal. Aqui, a julgar pelos acontecimentos narrados pelos executivos, ex-executivos e herdeiros da construtora Odebrecht, estamos diante de uma espécie de banalização da corrupção. Difícil saber quando essa cultura da corrupção será extirpada de nossa sociedade, se é que algum dia ela será extirpada. Talvez possamos elencar aqui mais um elemento da "impossibilidade" de um país chamado Brasil.
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