Uma das grandes reformas que não se consegue viabilizar no país é a reforma agrária, reclamadas por abolicionistas como Joaquim Nabuco e André Rebouças, desde a época em que houve a libertação formal dos escravos. Nem mesmo nos governos da coalizão petista, a despeito da sensibilidade para o problema, conseguimos avançar o suficiente nesse terreno, possivelmente em razão dos constrangimento impostos pela famigerada "conciliação de classe", que permitiu a ascensão ao poder de Luiz Inácio Lula da Silva. O quadro agora tende a agravar-se em razão de encontrarmos entre os articuladores do golpe institucional dois núcleos fortes, identificados com o latifúndio, como as bancadas do boi e da berlinda ou da escravidão.
Sob a influência desses grupos, o retrocesso é visível. A lista suja do trabalho escravo - um instrumento através do qual a sociedade civil e os movimentos sociais poderiam tomar conhecimento das fazendas que utilizavam o trabalho escravo em suas atividades - por uma determinação do Governo foi suspensa ou adiada, sob o argumento de proteger a individualidade dos proprietários, numa flagrante revelação de inversão de prioridades. O lobby também é forte no sentido de um possível "afrouxamento" da legislação a respeito do trabalho escravo, seguindo a lógica da desregulamentação ou do aviltamento dos direitos dos trabalhadores, sejam urbanos ou rurais.
Como bem observou as lideranças do MST, a chacina de Colniza, no Mato Grosso, onde foram mortos 09 pessoas, com tiros e facadas, no último dia 20, era um espécie de tragédia anunciada, uma vez que se trata de uma área extremamente vulnerável, onde as indisposição entre sem-terra e fazendeiros são constantes. De acordo com a Pastoral da Terra, outras mortes já teriam ocorridas no local, conhecido como Taquaraçu do Norte. O curioso é que este massacre ocorre justamente na semana em que se comemora 21 anos do Massacre de Eldorado dos Carajás, no Pará, onde foram mortos 19 trabalhadores rurais.
Se considerarmos esse ambiente político e institucional "abafado" em que estamos vivendo, a chacina de Colniza vem se somar a um assédio rigoroso do capital sobre os títulos de propriedade de terras de comunidades indígenas e quilombolas. Há uma tentativa de que as concessões dessas terras sejam revistas. Na opinião dos grileiros e seus asseclas com assento do parlamento, há muita terra para pouco índio. Um retrocesso descomunal, mas entendido no contexto de uma atmosfera política de caráter golpista, em coluio com uma agenda neoliberal conhecida, em contraposição ao Estado de bem-estar social.
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