pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO. : Editorial: Dória, o queridinho do status quo.
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domingo, 20 de agosto de 2017

Editorial: Dória, o queridinho do status quo.



Jean Galvão

Quando esteve aqui no Recife, na semana passada, o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad cumpriu um script previamente traçado, apostando em duas possibilidades possíveis: reforçar o palanque da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva(PT), para as eleições de 2018, caso isso seja possível, numa eventualidade de ele não ser condenado em segunda instância e continuar elegível; e, na contingência de uma inelegibilidade, torna-se ele mesmo a opção presidencial do Partido dos Trabalhadores. A estratégia adotada foi recomendada pela próprio Lula, que, esperançoso, também começou sua caravana pelo Nordeste, mais precisamente pelo Estado da Bahia. A região ainda continua sendo o maior reduto político do PT. Curioso como governadores dos mais distintos grêmios partidários - sabedores desse capital político dos petistas - acalentam a possibilidade apoiá-lo nas eleições de 2018, caso isso seja possível. 

 
Habilidoso sobre como deveria pronunciar-se sobre temas espinhosos, o ex-prefeito evitou entrar em polêmicas, mas, pontualmente, não deixou de externar sua impressão sobre o atual ocupante da cadeira de prefeito da Cidade de São Paulo, João Dória Junior(PSDB). João Dória, como se sabe, trava uma luta ferrenha dentro das hostes tucanas para viabilizar o seu nome para a disputa presidencial de 2018. A briga entre os tucanos é mais complexa, pois o padrinho político de Dória é o governador Geraldo Alckmin(PSDB), candidato à Presidência da República desde longas datas. Até bem pouco tempo, ninguém poderia imaginar que este embate se daria justamente no ninho mais emplumado dos tucano, muito menos envolvendo uma "cria" política do atual governador. Em certa medida, Dória, a princípio, vem na esteira do projeto político do governador Geraldo Alckmin, que montou uma espécie de cinturão eleitoral paulista com o propósito de facilitar sua escalada ao Palácio do Planalto. 

Dória é uma espécie de criatura que se rebela contra o criador. Um Lúcifer. O grande problema é que o rapaz é vaidoso e tem seu ego inflado constantemente, em razão de um perfil hoje muito adequada a quem almeja chegar à Presidência da República, ou seja, sobressai nele a condição de gestor, de não-político, de "novato". Com o desgaste dos partidos e da classe política, este perfil vem a calhar. À exceção do recall de Lula - que ainda aparece bem nas pesquisas de intenção de voto, a despeito do alto índice de rejeição - os demais bem rankiados atendem a este perfil, como é o caso de Dória e Jair Bolsonaro. Dentro e fora das hostes tucanas, o nome de Dória, como disse, vem sendo cortejado. PMDB e DEM já formularam convites para que ele integre essas legendas, habilitando-se a uma disputa presidencial. Num rompante recente, o grão-mestre tucano, Fernando Henrique Cardoso deixou escapar uma inconfidência: afirmou que Dória seria melhor candidato do que Geraldo Alckmin. 

De posse dessas credenciais, o prefeito paulista nãos se faz de rogado. Anda fazendo um périplo pelo pais, mas escondendo sempre a sua condição de candidato. A rigor, nas palavras do próprio Dória, o nome da legenda tucana para 2018 é mesmo Geraldo Alckimin. Quem quiser que confie. Asseguro a vocês que alguém sairá muito machucado desse embate. Em última análise, Alckimin irá bater chapa com o noviço, caso a agremiação tucana - ou outra legenda -  o escolha mesmo como candidato presidencial em 2018. Há anos que Garaldo Alckmin trabalha nesse projeto político. Não seria uma tarefa simples dissuadi-lo desta aspiração política. O que deve estar incomodando Alckmin é o conjunto de forças políticas e econômicas que começaram a gravitar em torno de viabilizar politicamente o nome do seu afilhado político.


Parece cada vez mais nítido que ele tornou-se o "queridinho" dessa gente para suceder Michel Temer a partir de 2018. É como se ele fosse o "escolhido". Como gestor, até o momento o prefeito não disse a que veio. Sua gestão da capital paulista tem sido marcada por uma onde de privatizações, pirotecnias de marketing pessoal e projetos de natureza higienistas como o da retirada dos ocupantes dependentes de drogas da região conhecida como Cracolândia. É fraco quando o assunto é a afirmação da cidadania, mas adequa-se perfeitamente ao figurino exigido pela agenda neoliberal hoje em voga. Aqui no Recife foi saudado pela turma do DEM e os dissidentes socialistas, numa evidência de que ele não terá problemas de legenda para viabilizar o seu nome ao pleito presidencial de 2018, ocorra o que ocorrer entre os tucanos.  

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