Foi o filósofo alemão Walter Benjamin quem disse, uma vez, que não havia nenhum propósito sensato na política. Referia-se o filósofo à política como mera atividade estratégica, destituída de propósitos éticos ou normativos, cujo fim seria a conquista do poder pura e simplesmente. Benjamin, sob a influência do anarquismo, via os políticos socialdemocráticos de sua época como meros operadores políticos preocupados, sobretudo, com a vitória de seu partido nas eleições e mais nada. Naturalmente um tal conceito de política se aproximaria muito daquilo que Nicolau Maquiavel denominou de "ética das consequências" , onde o fim justifica os meios. Isso supondo que os fins sejam sempre válidos, independentemente das pretensões de validade ética ou moral que eles apresentem. Muitos revolucionários da nossa época lançaram mão da "ética das consequências", alegando que o fim (revolucionário) justificava os meios (amorais) empregados na ação política. O tribunal da História fez o seu veredicto sobre os resultados sociais e políticos dessa escolha.
Vem à tona,outra vez, a questão das alianças políticas para as eleições presidenciais de 2018. E a busca de caminhos ou alternativas republicanas à imensa crise de credibilidade que assola todo o nosso sistema político, depois das delações premiadas dos implicados na Operação Lava-a-Jato. Diante do quadro de desesperança que toma conta dos eleitores, é lícito fazer alianças para se conquistar um cargo político? E que tipo de alianças e com que aliados? - Lenine, o grande revolucionário russo, diria que é certo se aliar com o inimigo menor contra o inimigo maior. Dessa visão, resultou o pacto Hilter-Stalin com todo o horror provocado nas vítimas do nazismo na Alemanha. No Bras il,não estamos diante de um regime fascista com base de massas organizado, mas de um grupo político formado para viabilizar a execução de uma agenda ultra-liberal contra os direitos dos trabalhadores, dos servidores públicos, aposentados, trabalhadores rurais, o patrimônio da Nação etc. A ameaça é grande e bem concreta de desmonte da nação e das políticas públicas, com a cumplicidade de um Congresso que vive de costas para a sociedade, legislando em causa própria. É necessário, portanto, ter alternativa eleitoral diante dessa catástrofe que nos ameaça. Mas a pergunta que não quer calar é a seguinte: vale a pena ganhar as eleições, com base em alianças eleitorais estaduais, e não poder governar, a não ser cooptando parlamentares, a preço de ouro, e correndo o risco de descaracterizar por completo a fisionomia desse "novo" governo?
Essas perguntas são feitas no momento em que o ex-presidente LULA faz a sua caravana política pelo Brasil, em busca de apoio à sua anunciada pretensão de se candidatar à Presidente da República em 2018. Visitas de cortesia a figuras como Renan Calheiros, a viúva do falecido em Pernambuco, qual a sinalização a se extrair desses acenos? - O principal ativo político do PT é o apoio popular, o povo simples e humilde do nosso país, além - é claro - dos trabalhadores urbanos, dos movimentos sociais, dos trabalhadores rurais,dos aposentados e servidores públicos etc. Ignorar ou menosprezar esse capital político seria um grave erro para um partido e o candidato cuja imagem está intimamente ligada ao povo. Só governos populistas usavam a base de massa urbana para fazer a política dos ricos, dos poderosos. Procurar, antes de tudo, o apoio de oligarquias familiares regionais, pode selar a sorte deste ou de qualquer governo que pretenda fazer mudanças sérias e profundas no País. Haverá sempre um conflito de interesses. E os interesses das oligarquias tendem a triunfar sobre qualquer outro, sobrando apenas migalhas e a farta publicidade oficial para os de baixo. É preciso não repetir os erros e as escolhas viciadas do passado recente, que custou caro - aliás - à política dos partidos que se reivindicam do socialismo e da esquerda. Mais uma aventura dessas poderá ser fatal às expectativas de mudança da sociedade brasileira. E alimentar os discursos reacionários de que é tudo farinha do mesmo saco.
Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia.
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