Houve um tempo, como observou o editor do jornal Le Monde Diplomatique, Sílvio Caccia Bava, em que a democracia era o governo do povo, pelo povo e para povo. Bons tempos aqueles em que bradávamos que todo o poder emana do povo e em seu nome seria exercido. Os últimos acontecimentos políticos do país - onde o Legislativo brasileiro, de costas para povo, não permite que um presidente seja investigado pelo STF, mesmo diante dos fortes indícios do cometimento de crime de corrupção passiva - nos levam a concluir que, de fato, isso ficou num passado bem distante. Como bem observa o professor Michel Zaidan Filho(UFPE), em artigo publicado, no dia de ontem, aqui no blog, a soberania popular no Brasil sofreu uma abalo sísmico, daqueles difíceis de se recuperar. A esmagadora maioria da população brasileira gostaria que a Câmara Federal liberasse a apreciação da denúncia da Procuradoria-Geral da República pelo STF.
Os indícios são fortes e eles precisariam, no mínimo, serem muito bem esclarecidos. Do contrário, se cria essa esquizofrenia entre o cidadão comum, seus representantes, os poderes da república e seus governantes. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que a vitória de Michel Temer é uma vitória de Pirro, daquelas onde o rei fica nu e chega à mesma conclusão de Pirro, ao admitir que mais uma dessas vitórias será a sua ruína. O rolo compressor do Palácio do Planalto funcionou muito bem, mas eles parecem ter acusado uma preocupação com a dissidência observada na base aliada, o que, certamente, terá reflexos nas votações de projetos do interesse do Governo. A palavra de ordem, hoje, é "recomposição", no intuito de aprovar a reforma das reformas, ou seja, a Reforma da Previdência, que traz no seu bojo um conjunto de medidas perniciosas aos interesses da classe tralhadora. Esta reforma, no entanto, está na ordem do dia da agenda neoliberal que Michel Temer se propôs a cumprir.
A princípio, não existe algum porto seguro para o presidente Michel Temer(PMDB). A rigor, como se poderia supor, essa vitória não o favorece. Ocorreram defecções na base de apoio, inclusive entre os tucanos paulistas. A perda estimada é alta; A Procuradoria-Geral da República deverá apresentar novos pedidos de autorização de investigações por outros delitos nos quais o presidente é acusado; a recuperação dos indicadores econômicos levam algum tempo; e, ainda por cima, há os rolos da Operação Lava Jato, onde o presidente é citado, com o agravante da possível aceitação da delação premiada do ex-deputado Eduardo Cunha(PMDB) - hoje sem os alpistes - e o doleiro Dilson Funaro que, segundo dizem, era um operador minucioso, anotando todas as transações escusas com a classe política. O sistema tem entregue alguns bois de piranha para salvar o rebanho, se é que vocês nos entendem.
Ainda raciocinando com o editorialista Sílvio Caccia Bava, ninguém dá um golpe de Estado para entregar o poder dois anos depois. O que virá depois de Michel Temer? Eis aqui uma boa indagação. Esse foi o motivo, inclusive, do pouco entusiasmo em torno de sua substituição, negociada entre seus pares, com o objetivo de se chegar a um nome para ocupar a cadeira de Presidente da República. O sucessor "natural" seria o hoje Presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia(DEM). Animal político esperto, joga nas duas pontas. Articulou-se para substituir Temer, mas, quando percebeu que não teria o apoio suficiente, voltou à condição de um aliada de primeira ordem. Depois da votação, voltou a entabular as negociações em torno do fortalecimento de sua legenda, possivelmente de olho em voos mais altos no futuro. Nossa grande preocupação é o desmonte das forças progressistas que o golpe institucional conseguiu operar. Quanto tempo teremos que esperar para a sua recomposição?
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