Confesso aos nossos leitores e leitoras que nunca fomos muito simpáticos aos chamados "cálculos da democracia", ou seja, àqueles índices que tentam predizer quais seriam as condições ( ou números e indicadores) ideais para viabilizar um regime democrático, seja do ponto de vista político ou econômico. Mas, nos últimos anos, tenho lido bastante os trabalhos do cientista político polonês, Adam Przeworski, e, inevitavelmente, acabamos por ter que lidar com esses números ou indicadores, pois o cientista é simpático à Teoria dos Jogos.
Para Przeworski, por exemplo, do ponto de vista da democracia política, depois de seis alternâncias sucessivas, (leia-se eleições limpas e soberanas), dificilmente um regime democrático enfrentaria um retrocesso autoritário. Por outro lado, do ponto de vista da democracia substantiva ou econômica, quando uma sociedade atinge um certo percentual de renda per capita, as chances de um retorno autoritário chegam a quase zero. Sobre esta última questão, há, sim, com o que nos preocuparmos. O final da década de 90 do século passado e a primeira década deste século são fundamentais para entendermos o fenômeno da democracia econômica no país, pois caminhávamos para um salto civilizatório dos mais importantes, ou seja, diminuir a níveis toleráveis os índices de miséria no país, afastando milhões de brasileiros da extrema pobreza.
Os Governos da Coalizão Petista tiraram 36 milhões de brasileiros desta condição, sem a qual, não podemos falar numa democracia consolidada. Mas, tivemos alguns atropelos políticos logo em seguida, o que culminou com a adoção de um receituário ultraliberal, que vem produzindo muita recessão e jogando ao limbo da exclusão alimentar aqueles contingentes que já haviam saído dessa condição. Mais uma razão que reforça nossos argumentos de que a nossa democracia não vai muito bem das penas, como sugerem alguns analistas. Tornou-se uma democracia de pés de galinha ou ossos de carne nos lixões dos supermercados e açougues. Não se sustenta um regime democrático com tantos miseráveis.
Aqui surge mais um indicador importante, observado pelo professor Fernando Schuller, cientista político e professor do INSPER, ao analisar a forma de enfrentamento deste problema, em artigo recente. A questão estaria mais relacionada à distribuição de renda ou aos indicadores de desenvolvimento econômico? Para o professor, o "x" da questão está relacionado ao desenvolvimento econômico, o que poderia explicar esse efeito bumerangue. Mesmo assim, ao concordamos com ele, vamos de mal a pior, com baixos índices de desenvolvimento econômico, recessão, desemprego em alta e inflação de dois dígitos de volta. Se continuarmos assim, não haverá absorvente que estanque essa sangria, meu caro e ilustre professor.
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