Eis aqui um assunto difícil de ser tratado, sem que incorramos por algumas conclusões que podem não soar como música aos ouvidos sensíveis de parte daqueles que nos dão a honra de acompanhar nossas postagens e, principalmente,dos atores políticos diretamente envolvidos nessas análises. O momento político vivido pelo país está excessivamente polarizado, o que não ajuda muito essas discussões. Em tais circunstâncias, o fígado parece ser um órgão mais importante do que o cérebro e a tolerância desceu aos níveis mais baixos. A questão em lide trata de um assunto que vem movimentando a quadra política pernambucana nos últimos dias: O candidato da situação ao Governo do Estado nas eleições de 2022. Existem algumas premissas que podem ser determinantes para chegarmos a algum consenso sobre este assunto. Não gosto muito desse formato de construção de textos - pois fica parecendo algo como a enumeração de enunciados, com claros prejuízos de aprimoramento das narrativas.Em certa medida, pode até ser mais didático, mas sinto que, com o texto corrido, há uma maior liberdade na exposição. Em todo caso, vamos a essas premissas, devidamente enumeradas, conforme determina o figurino.
1.1 - Conforme observou Ciro Gomes(PDT-CE) mais recentemente - consoante uma estratégia de bater forte em Lula e Bolsonaro, com o propósito de definir seu espaço na disputa presidencial - Lula está celebrando os mesmos padrões de alianças políticas articuladas no passado, o que inclue algumas figuras emblemáticas do MDB, que teriam a chance de voltar à ribalta política na caravana do petista. A entrega da gestão da máquina pública, em governos anteriores, a estes senhores ou seus prepostos, não se mostrou muito prudente no tocante aos interesses das res pública. Todos os brasileiros sabem disso, não precisava que Ciro Gomes nos alertatasse para essa questão. Lula adota uma estratégia muito parecida - e antiga - como aquela revelada em uma entrevista concedida a um jornal do ABC Paulista, quando ele ainda era um torneiro mecânico que tornou-se sindicalista e desejava entrar para a seara política: "Não importa a cor do voto, desde que ele caia na urna".É puro pragmatismo político. O MDB e o PSB, inclusive, ofereceram lastro de apoio político ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff(PT-MG). Nenhuma surpresa, portanto, com o arco de alianças políticas montados pelo petista, orientadas pela perspectiva de lograr êxito na disputa presidencial, em detrimento de outras perspectivas, o que explica, por exemplo, o fabuloso lucro das instituições financeiras em seus governos, assim como a inviabilidade de algumas reformas reclamadas pelo país, como a reforma agrária, tributária e política. Falo com a autoridade de quem reconhece, ao longo da existência deste blog, as enormes conquistas no tocante à democracia substantiva da gestão da coalizão petista.
1.2 - Lula deu seu start político para as eleições presidenciais de 2022 aqui no Estado de Pernambuco, em visita ao Governador Paulo Câmara(PSB-PE). Pernambuco é um Estado emblemático por diversos motivos e não apenas por ser seu Estado natal. O governador Paulo Câmara foi o primeiro a ser ouvido no seu bunker, em Brasília, numa demonstração clara da importância das costuras políticas aqui na província para o seu projeto de voltar a ocupar o Palácio do Planalto, onde há nomes influentes nacionalmente entre os dirigentes socialistas. Até recentemente, um dirigente nacional da legenda deixou claro que o prefeito João Campos(PSB-PE) teria um papel decisivo na escolha do candidato presidencial que deverá ter o apoio do partido, o que pode ser entendido, igualmente, que ele exercerá influência na mesma proporção na decisão sobre a escolha do candidato da situação ao Governo do Estado nas eleições de 2022. João tem uma dívida de gratidão com Geraldo Júlio(PSB-PE), que respeitou religiosamente os acordos sobre a herança do espólio político e eleitoral do ex-governador Eduardo Campos. Com o tempo e a experiência, vem aplainando as rusgas criadas com o PT, mas as cicatrizes permanecem, algumas delas contraídas durante a última campanha para a Prefeitura da Cidade do Recife. Ainda existem dois outros nomes nas hostes socialistas que poderiam disputar o Governo do Estado nas eleições de 2022. Um deles é o do Secretário da Casa Civil, José Neto, político experiente, que já exerceu vários cargos no Governo. É oriundo do Tribunal de Contas do Estado - um celeiro de lideranças socialistas - e considerado um cidadão de excelente trato com os correligionários e até mesmo em relação aos adversários do governo. Um gentleman. Outro nome ventilado é o da Secretária de Infraestrutura, Fernandha Batista, que vem realizando um bom trabalho na pasta e é mulher, um diferencial hoje importante, numa época de empoderamento feminino. Como disse em textos aqui no blog, talvez seja mesmo o momento delas. Ainda nesta semana, a prefeita de Caruaru, Raquel Lyra(PSDB-PE), praticamente definiu que será candidata ao Governo do Estado nas próximas eleições estaduais. A incansável Marília Arraes(PT-PE) também permanece em sua cruzada.
1.3 - Como disse antes, o senador Humberto Costa(PT-PE) é o nome da confiança de Lula aqui no Estado. Sua âncora e bússola política. Isso desde os tempos difíceis da Brasília Amarela. O morubixaba petista nutre respeito, carinho e admiração pela Deputada Marília Arraes(PT-PE), mas, se o partido tiver a chance de emplacar um nome, o ungido será o senador Humberto Costa. Portanto, se o arranjo político entre socialistas e petistas permitir a indicação de um nome do PT como cabeça de chapa, já se sabe quem será indicado. O nome de Marília Arraes, além dos problemas internos ao PT, seria menos digerido entre os socialistas. Marília Arraes teria alguma chance se a aliança não se efetivar e o PT resolver caminhar em faixa própria.
1.4 - O PSB local deve manter-se num alinhamento antibolsonarista, o que torna improvável a adoção de uma política de alianças que envolvam forças que gravitam em torno do apoio ao presidente Jair Bolsonaro, como chegou-se a especular, invocando-se um suposto realinhamento com a família Coelho. O rebento da família já está em suas caravanas pelo Estado e o patriarca continua como um fiel escudeiro do presidente. As costuras para viabilizar uma candidatura ao Governo do Estado do prefeito Miguel Coelho(DEM-PE), embora tenha contado com o apoio importante do pai, hoje, é menos dependente dos seus movimentos. Esta é, aliás, uma posição estratégica do senador Fernando Bezerra Coelho(MDB-PE). Sua posição é a garantia de viabilização de obras para o Estado, o que se traduz num bom capital político para os projetos do filho candidato. Há outras possibildides de alianças, ainda no plano das especulações, mas essas dependem dos arranjos políticos celebrados no contexto federal, envolvendo candidaturas presidenciais. Ciro Gomes, por exemplo, tem um bom trânsito com o PSB, inclusive com João Campos(PSB-PE), a quem ajudou na última disputa municipal.
1.5 - A peça-chave neste tabuleiro do xadrez político pernambucano que envolve a tomada de decisão sobre quem concorrerá, pela situação, ao Governo do Estado nas eleições de 2022 é aquela peça com plenos poderes, que tudo pode no tabuleiro. A família Campos não abdicará de manter o controle do processo sucessório, o que significaria, em última análise, correr um risco maior no sentido de assegurar o espólio político e eleitoral entre os herdeiros do clã. Geraldo Júlio tem um histórico de fidelidade a este projeto, o que significa um grande trunfo. Os novos nomes nas hostes socialistas ainda não foram testados. Humberto Costa poderia assumir este compromisso, sem maiores delongas, em nome do projeto de poder do Partido dos Trabalhadores no plano nacional. O risco de uma dissidência posterior, no entanto, passaria, de fato, a existir. Portanto, ele tem menos chances de ser o ungido, embora a presença nos eventos, ao lado do governador, não deixe de ser um indicativo positivo para qualquer aspirante.
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