Mas, como disse, a obra do escritor britânico é extensa e há outros livros importantes, possivelmente inseridos dentro da mesma conformação de literatura distópica, como o que dá título a este editorial: "Um pouco de ar, por favor". Orwell também passou por grandes dificuldades financeiras, tentando sobreviver como escritor, o que resultou no texto: "Na pior em Paris e Londres". Embora alguém já tenha afirmado que se perder em Paris não seria, assim, o pior dos castigos. Enfim, como todo ser humano que passa por este plano, Orwell amargou algumas decepções, inclusive uma de natureza política: a experiência do socialismo real na antiga União Soviética, principalmente o período stalinista. Orwell lutou contra a ditadura franquista na Espanha e flertou com o socialismo. Da decepção com os rumos tomados pela Revolução de 1917, resultou a fábula: "A Revolução dos Bichos", onde animais oprimidos, depois de derrubarem o capitalista opressor, dono da fazenda, acabam se tornando igualmente opressores.
Essa longa introdução vem a propósito do memento delicado que passa o país, que congrega, simultaneamente, uma crise político\institucional, um quadro social desalentador e uma economia em bancarrota, com inflação de dois dígitos, irresponsabilidade fiscal, aumento sensivel do custo de vida, agravado pelas altas taxas de desemprego e perspectivas concretas de pibinhos pela frente. Pior cenário impossível, o que levou o jornalista Josias de Souza a fazer algumas conjecturas acerca das próximas eleições presidenciais, concluindo que o próximo presidente precisa ter uma agenda não unicamente orientada pelo antigoverno, mas que ofereça algum alento, um fio de esperança, um pouco de ar para essa massa de deserdados, com a auto-estima no limbo.Parafraseando George Orwell, precisamos, sim, de um pouco de ar, por favor! Já não fosse suficiente a tragédia dos mais de 600 mil mortos pela pandemia do corona vírus, hoje temos que acompanhar populares "assaltarem' carros de lixos à procura de restos de comidas pelas ruas da periferia de Fortaleza; as filas dos ossos nos açougues; assim como os pés, carçaças e pescoços de galinha comercializados em supermercados e açougues para a nossa classe média cheia de empáfia, preconceituosa, metida a rica, aliada de primeira ora de nossa elite asquerosa.
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