Conforme calendário definido pelo senador Omar Aziz(PSD-AM), a CPI da Covid deverá apresentar seu relatório final em meados de outubro, com algumas conclusões já antecipadas pelo seu relator, o senador Renan Calheiro(MDB-AL). Tudo indica que vem chumbo-grosso por aí, envolvendo conluios - de corte nada republicanos - com a participação de agentes públicos e privados, o que pode respingar sobre as ações ou omissões do Executivo Federal. O mais assombroso a constatar é que, se o país tivesse adotado medidas sanitárias preventivas ou se antecipasse à compra de vacinas logo no início - quando laboratórios confiáveis as ofereceram - milhares de mortes poderiam ter sido evitadas. Há aqui, inegavelmente, mais uma queda de braços entre os poderes Executivo e Legislativo, o que pode azedar ainda mais a relação entre ambos. Os senadores da situação já estariam elaborando a confecção de uma espécie de relatório paralelo, como forma de se contrapor aos efeitos do relatório oficial da CPI da Covid-19. Vamos aguardar o eco daquelas intervenções tão estridentes durante os trabalhos da pandemia. Concordamos com eles apenas num ponto: os desvios de recursos nos estados e capitais deveriam ter sidos investigados, pois também são responsáveis diretos por perda de vidas durante esta pandemia.
Esta reta final da CPI da Covid-19 foi marcada por um episódio emblemático, quando o senador Fabiano Contarato (Rede-ES) repreendeu um dos depoentes, em razão de postagens de caráter homofóbico contra a sua pessoa. Aliás, não apenas contra a pessoa do senador, mas em relação à comunidade LGBTQI+ do Brasil e do mundo. Ainda na semana passada, em editorial aqui no blog, estávamos comentando o quanto a legislação em relação a este assunto avançou no país, constituindo-se num dos pilares das regras de convivência e tolerância em relação à orientação sexual. Este foi um dos indicadores, inclusive, que contribuiu para fortalecermos o nosso tecido democrático, sobretudo durante os governos da coalizão petista, onde esses direitos, assim como os direitos das comunidades indígenas e quilombolas foram amplamente reconhecidos, assumindo status de ministério.
Ainda bem que, do ponto de vista institucional, o reconhecimento desses direitos foram transformados em leis, o que pune com rigor seus violadores. O próprio senador Fabiano Contarato observou, durante a interpelação ao seu agressor, que o crime de ofensa homofóbica é um dos poucos crimes imprescritíveis e inafiançáveis do país. Uma pena, que a partir de 2016, tenhamos descido a ladeira da intolerância racial e sexual, com agressões frequentes a negros e homossexuais por todo país. São registradas pelo menos uma morte por dia em razão da intolerância sexual. A ruptura institucional de 2016 contribuiu bastante para facilitar o recrudescimento de grupos de orientação neofascista, com sua agenda nefasta, excludente e intolerante.
Na prática, isso quer dizer que somos um país com um alto índice de preconceito sexual e racial, a despeito dos avanços da legislação a este respeito. Ainda na mesma semana, depois da aula de cidadania ministrada pela senador Fabiano Contarato - de inegável impacto pedagógico sobre o país - uma pessoa LGBTQI+ foi agredida, em via pública, por um guarda municipal, salvo melhor juízo, nas proximidades da Cracolândia, em São Paulo. Vão aqui a nossa solidariedade e cumprimentos ao senador Fabiano Contarato.
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