Antes da sessão de ontem da CPMI do INSS, estávamos acompanhando, na TV Senado, um documentário sobre a democracia, tendo como palestrante o professor Steven Levitski, um dos autores do livro Como Morrem as Democracias. O professor Steven alerta para uma questão interessante. O cidadão americano não consegue perceber a erosão dos pilares daquela que é considerada uma das mais sólidas democracias do mundo ocidental. É exatamente esta solidez que os impedem de enxergar que, gradativamente, seus alicerces podem estar erodindo, minadas por governos extremistas bem conhecidos. O Ministério da Defesa agora é Ministério da Guerra e isso tem significados que vão muito além da mera nomenclatura.
Os americanos dormem o sono que pode produzir o monstro, como já ocorreu conosco até bem pouco tempo, quando estivemos na iminência de consolidar mais um projeto autoritário, cujos implicados estão sendo julgados neste momento, em julgamento transparente, transmitido pela TV Justiça. O Ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moares, lê a sua peça acusatória contra os arrolados no núcleo crucial do golpe de Estado, desmontando todos os argumentos apresentados pelas defesas do réus, assim como em relação às críticas dirigidas ao processo de delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência da República, atividade que o militar deve se arrepender amargamente. As preliminares foram todas refutadas.
Se o leitor leu o texto de Steven, deve ter percebido que a nossa experiência democrática possui algumas vulnerabilidades como. por exemplo, o descompasso entre democracia política e democracia substantiva. Essa questão é tão séria que o cientista político polonês, Adam Przeworski, também professor de universidades americanas, considera que a partir de um determinado escore de renda per capta, retrocessos autoritários tornam-se praticamente inviáveis. A subordinação do poder militar ao poder civil é outro gravíssimo problema, possivelmente decorrente de nossa experiência histórica, onde se somam outros agravantes, como a enorme dificuldade de institucionalização.

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