Aqui em Pernambuco está sendo instaurada uma CPI para a apuração de eventuais irregularidades existentes entre entes públicos e privados no que concerne à celebração de contratos de publicidade. Vamos deixar as investigações serem concluídas, antes de sairmos responsabilizando ou acusando A ou B sobre isto ou aquilo. O mais estarrecedor, no entanto, é que existe a possibilidade de estarmos lidando, mais uma vez, com os famosos "gabinetes do ódio", ou seja, estruturas montados dentro de órgãos públicos, mantidas com dinheiro público, com o propósito de disseminar mentiras sobre os desafetos deste ou daquele governante de turno. Essa prática abjeta se tornou comum depois que a mentira se tornou uma arma política utilizada para atingir os adversários, fragilizando-os nos embates, através de mecanismos técnicos sofisticados, a exemplo das big techs.
Usar a mentira como arma política certamente é um expediente antigo, mas hoje ele se reveste de sofisticação, ancorado nas redes sociais, instalados em gabinetes luxuosos, mantidos com verbas poupudas. Quando não se tem nada, usa-se a "criatividade" para atingir os adversários. Em décadas atrás, numa eleição para o Palácio dos Leões, sede do Governo do Maranhão, "plantaram" que um dos candidatos ao Governo do Estado havia cometido um homicídio. Quando ele conseguiu se explicar, esclarecendo que tudo não passava de uma mentira, já havia perdido aquelas eleições. Até hoje existem atores políticos tentando esclarecer o público de que não se tratava de verdade as fake news que se espalharam sobre ele. Talvez seja inútil porque, por motivos até psicológicos, essas mentiras pegam mais do que fisgo de jaca. O ser humano parece se sentir "confortável" em ver o outro na desgraça. Já existe uma série de estudos tratando sobre este assunto, onde se explica porque as fake news são facilmente assimiladas, transformadas em verdades absolutas e incontestáveis.
É curioso, mas as coisas funcionam mais ou menos assim: uma mentira dita sobre um desafeto, para mim torna-se verdade. Uma verdade, mesmo que desabonadora, dita sobre um amigo, possivelmente é concebida como mentira. Isso se espalhou no país como um rastilho de pólvora, a partir dos maus exemplos dos de cima, como que estimulando as práticas abomináveis dos guardas da esquina na outra ponta. No Brasil, infelizmente, embora essas práticas, em princípio, no início, possam ser atribuídas à extrema direita, a verdade é que esses gabinetes do ódio se tornaram práticas comuns, independentemente da ideologia. Com esses procedimentos, no país passamos a sofrer de uma patologia institucional perigosa, capaz de produzir danos irreversíveis e irreparáveis aos atingidos. Se espalhou como câncer em estágio de metástase na burocracia pública, algo que não foi corrigido nem em gestões de corte republicano e, em tese, mais sensível aos direitos humanos. Não deve ser por acaso que 2024 foi o ano em que mais ocorreram afastamento de servidores de suas funções em razão de problemas de saúde. Disseminação de fake news e práticas assediadoras, nesses tempos bicudos, foram institucionalizadas.
