| Crédito da Foto: Rafael Dantas, Revista Algo Mais. |
Tratou-se de uma iniciativa das mais importantes da governadora Raquel Lyra(PSD-PE) ao adquirir o imóvel onde funcionou o Colégio Americano Baptista, com o objetivo de transformá-lo num complexo educacional vinculado à Secretaria de Educação do Estado. Como o processo já se arrasta há algum tempo, uma entidade ligada aos Sem Teto resolveu promover uma ocupação daquele prédio público. Nos últimos meses, inclusive, Pernambuco entrou numa disputa saudável, onde a Prefeitura do Recife, assim como o Governo do Estado, passaram a assumir a responsabilidade de transformar prédios abandonados em equipamentos públicos de serviços à população. Assim, estão previstas reformas no Liceu de Artes e Oficio e também no antigo prédio da Fábrica Tacaruna.
Como existem vários projetos habitacionais em andamento, logo teremos provavelmente uma solução negociada com a entidade que hoje ocupa o prédio do Americano Baptista e o Governo do Estado. Por outro lado, o estado se vê na contingência de apressar as obras de recuperação física do imóvel, dando a ele uma destinação mais apropriada, consoante o projeto inicial, fazendo jus à história e tradição do colégio, aqui tratado carinhosamente como o colégio de Gilberto Freyre. De fato, sim. Não há nenhum exagero aqui. Gilberto foi o aluno mais brilhante que ocupou aqueles bancos escolares. A família Freyre, aliás, tem uma longa história com aquele estabelecimento de ensino. O pai de Gilberto, Alfredo Freyre, foi professor do colégio durante anos. Erudito, ensinou quase todas as matérias naquela instituição de ensino, à exceção de matemática.
O colégio tinha uma tradição de oferecer bolsas aos seus alunos para estudarem nos Estados Unidos. Este foi o caso de Gilberto Freyre e Ulisses Freyre, irmão do sociólogo. A experiência de Gilberto Freyre no colégio foi uma das mais significativas. Ali ele começou a sua carreira de jornalista e escritor, onde dirigia um jornalzinho O Lábaro, ensinou aos colegas com dificuldades e se tornou o orador da sua turma ao concluir o ensino médio, antes de embarcar para a temporada de estudos nos Estados Unidos. Como se sabe, Gilberto tinha uma inteligência fora da curva. Os seus biógrafos se debruçam sobre a sua formação e influências teóricas, à procura de pistas para a concepção do clássico Casa Grande & Senzala. É curioso, mas o seu biógrafo oficial, Edson Nery da Fonseca, observa em seu discurso, ao se despedir da turma do colégio, na condição de orador, alguns pressupostos que já guiariam a escrita daquele texto alguns anos depois.
Interessante observar, igualmente, que Gilberto Freyre esteve envolvido diretamente nas primeiras iniciativas de preservação do patrimônio histórico do país, cabendo ao sociólogo a prerrogativa de realizar um levantamento do patrimônio histórico que deveria ser preservado na região Nordeste. Há algumas críticas aos eventuais vieses que nortearam os critérios utilizados pelo sociólogo, dando prioridade ao casario relacionado à hegemonia do patriarcado rural associado ao colonialismo português, mas, em todo caso, o trabalho foi importante. Ressalte-se também a sua contraposição à Liga Social Contra o Mocambo, um projeto de intervenção urbana de caráter higienista proposto pela ditadura do Estado Novo, no Recife. Por todos esses motivos é importante que a iniciativa da governadora se materialize, como uma forma de preservar o prédio por onde passou não apenas o ilustre aluno, mas também reconhecer o trabalho de um pensador que esteve sempre preocupado com as questões relacionadas às intervenções urbanas do Recife.

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