pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
Powered By Blogger

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Conversa Afiada: "Golpe está em desenvolvimento" (Na Venezuela também)


O Golpe contra Maduro nasce na tevê e cresce nas mãos de mascarados pagos.


Na Venezuela, assim como no Brasil, mascarados participam das manifestações (Foto: Aporrea.org)

Após a confirmação de três mortos nos confrontos em Caracas, o presidente Nicolás Maduro afirmou que há “um golpe de Estado em desenvolvimento na Venezuela”. Ele pediu que a população se una e disse contar com a colaboração dos países vizinhos.

Maduro lembrou do golpe contra Hugo Chávez, em abril de 2002, e disse que a intenção de alguns setores é repetir o filme: derrubar o governo com o uso da violência – e da televisão.

Milhares de pessoas foram às ruas da Venezuela nestes dias. Uns para apoiar Maduro e o legado de Chávez, outros para se opor ao governo venezuelano.

De um lado, reuniões em diferentes praças – em Caracas e por toda a Venezuela – de pessoas vestidas de vermelho e movimentos sociais. Comemoravam os 200 anos da ‘Batalha da Vitória’, na guerra de independência do país, e defendiam as ações do chefe de seu Estado e as recentes conquistas.

Do outro, simpatizantes da oposição e políticos se reuniram no centro de Caracas. Criticavam a política econômica de Maduro e exigiam, também, a libertação de universitários detidos em protestos no interior do país nos últimos dias.

Nos confrontos – com três mortos e mais de 30 feridos – uma curiosa revelação ganhou destaque. Um jovem preso garantiu que recebeu dinheiro para gerar violência no estado de Mérida.

Observe nas fotos que lá como aqui há manifestantes mascarados.

A quantia? 150 Bs, segundo o site venezuelano Aporrea

Alguma semelhança com o que dizem receber os manifestantes no Rio de Janeiro? Veja aqui quanto recebiam Caio e Fábio, presos pela morte do cinegrafista Santiago Andrade, da Band, segundo seu generoso advogado. 

Clique aqui para ler “Quem financia ? Beltrame é quem vai cuspir os caroços”.  

Como se vê, as manifestações atingem a América Latina. A diferença é que, na Venezuela, Maduro já informou que as investigações estão em andamento e que há provas sobre os autores da violência.

Aqui, a Dilma depende da Polícia Federal do ministro José Eduardo Cardozo, o famoso zé da Justiça, com aretumbante ajuda da Abin.

Em tempo: Aporrea.org é uma agência de notícias alternativa popular. Traz informações explicadas a partir do ponto de vista dos partidários do presidente da Venezuela, desde Chávez até Maduro.

O portal nasceu em 2002, com objetivo de rebater o ataque da elite venezuelana contra o governo do presidente Hugo Chávez e o golpe (o “golpe da mídia”, como eles mesmos se referem). Também saíram em defesa das conquistas da Constituição da República Bolivariana da Venezuela.

Gonzalo Gómez, revolucionário venezuelano, foi o fundador e contou com a colaboração de líderes populares com longa experiência nos movimentos sociais venezuelanos. O site é mantido por uma equipe de voluntários, cujo trabalho é um serviço social e não comercial, sem fins lucrativos.

Aporrea é sigla para Asamblea Popular Revolucionaria Americana. O site é membro da Associação Nacional de Mídia Comunitária, Livres e Alternativas (ANMCLA).


João de Andrade Neto, editor do Conversa Afiada com a colaboração do amigo navegante Ivo Augusto de Abreu Pugnaloni

(Imagens extraídas do site Aporrea, da Venezuela)














Deputado Heinze: Quilombolas, índios, gays e "tudo o que não presta"

publicado em 12 de fevereiro de 2014 às 22:05

DEPUTADO DIZ QUE QUILOMBOLAS, ÍNDIOS E HOMOSSEXUAIS SÃO “TUDO O QUE NÃO PRESTA” E INCITA VIOLÊNCIA
do Mobilização Nacional Indígena, sugerido pelo João Maneco, no Facebook
Um vídeo gravado em audiência pública com produtores rurais, em Vicente Dutra (RS), registra discursos de deputados da bancada ruralista estimulando que agricultores usem de segurança armada para expulsar indígenas do que consideram ser suas terras.
“Nós, os parlamentares, não vamos incitar a guerra, mas lhes digo: se fartem de guerreiros e não deixem um vigarista desses dar um passo na sua propriedade. Nenhum! Nenhum! Usem todo o tipo de rede. Todo mundo tem telefone. Liguem um para o outro imediatamente. Reúnam verdadeiras multidões e expulsem do jeito que for necessário”, diz o deputado Alceu Moreira (PMDB-RS). “A própria baderna, a desordem, a guerra é melhor do que a injustiça”, defende.
Ele afirma que o movimento pela demarcação de terras indígenas seria uma “vigarice orquestrada” pelo ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho. Moreira diz também que tal movimento seria patrocinado pelo Ministério Público Federal, o qual, segundo ele, defenderia a “injustiça”.
No vídeo, o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, deputado federal Luís Carlos Heinze (PP-RS), diz que índios, quilombolas, gays e lésbicas são “tudo que não presta”.
“Quando o governo diz: ‘nós queremos crescimento, desenvolvimento. Tem de ter fumo, tem de ter soja, tem de ter boi, tem de ter leite, tem de ter tudo, produção’. Ok! Financiamento. Estão cumprimentando os produtores: R$ 150 bilhões de financiamento. Agora, eu quero dizer para vocês: o mesmo governo, seu Gilberto Carvalho, também é ministro da presidenta Dilma. É ali que estão aninhados quilombolas, índios, gays, lésbicas. Tudo o que não presta ali está aninhado”, discursa Heinze.
Ele também sugere a ação armada dos agricultores. “O que estão fazendo os produtores do Pará? No Pará, eles contrataram segurança privada. Ninguém invade no Pará, porque a brigada militar não lhes dá guarida lá e eles têm de fazer a defesa das suas propriedades”, diz o parlamentar. “Por isso, pessoal, só tem um jeito: se defendam. Façam a defesa como o Pará está fazendo. Façam a defesa como o Mato Grosso do Sul está fazendo. Os índios invadiram uma propriedade. Foram corridos da propriedade. Isso aconteceu lá”.
Promovida pelo também deputado ruralista Vilson Covatti (PP-RS), que pertence à Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural (CAPADR) da Câmara, a audiência pública aconteceu em novembro do ano passado e seu tema foi o conflito dos produtores rurais com os indígenas do povo Kaingang, que vivem na Terra Indígena Rio dos Índios, de 715 hectares.
Em dezembro do ano passado, produtores rurais do Mato Grosso do Sul organizaram um leilão para arrecadar recursos para a contratação de seguranças privados para impedir a ocupação de comunidades indígenas. O evento recolheu mais de R$ 640 mil e foi apoiado pela bancada ruralista. Parlamentares como a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), estiveram presentes e defenderam a iniciativa.
PS do Viomundo: Sou informado por uma colega jornalista gaúcha que o deputado Heinze é próximo da senadora Ana Amélia (a foto de ambos, abaixo, é do site dela), provável candidata a governadora do Rio Grande do Sul. A colega pergunta: “Já pensou um cara destes secretário de Estado?”


(Publicado originalmente no Viomundo)

Michel Zaidan Filho: A nova política

Michel Zaidan Filho: A nova politica

"A nova Política" é o nome de ma coletânea de artigos, palestras, discursos e documentos oficiais", de autoria do ditador Getúlio Vargas, editada durante o período de vigência do Estado Novo. Muitos escritos pelo seu "ghostrother" Marcondes Filho. Os vitoriosos do movimento civil-militar de 1930 adotaram essa terminologia para se diferenciar dos políticos "carcomidos" da chamada República Velha ou a Primeira República.

Coincidência ou não, um dos prováveis candidatos à Presidência da República, nas eleições desse ano, adotou como lema do seu programa o mesmo título (A Nova Política). Curiosamente, há mesmo pontos em comum entre o chefe do Estado Novo e o discurso poticiamentenovo do candidato. Senão, vejamos.

O caráter profundamente autoritário da ideologia estadonovista, aliado a uma profunda convicção modernizadora, que colocou de lado a representação parlamentar, cercando-se de burocratas para administrar o país. Inspirado no fascismo de Mussolini, Vargas implantou um regime policial no Brasil, criminalizando toda forma de protesto social. Os sindicatos transformaram-se em agências de prestação de serviço de saude e/previdenciário, sendo estritamente controlado pela policia. Fazer oposição à Ditadura varguista foi quase impossível. Que o diga Gilberto Freyre, preso mais de uma vez pela polícia política de Agamenon Magalhães.

A propaganda fascista ou para-fascista, destinada a produzir o "consenso máximo" entre as pessoas, com o auxilio da Igreja, e da incitação anti-comunista. Na nova versão, o discurso (e as práticas) do candidato à ditador pretende alcançar o "consenso" dos desavisados, usando a propaganda institucional dos atos de governo para fazer a população "vestir a camisa" da gestão, seja através do futebol, seja pelo carnaval, pelas procissões religiosas, pelo nome dos familiares espalhados nas praças, avenidas, hospitais e ruas, ou seja pela onipresença na mídia através de "factóides". Confirma-se, nesse caso, a tese de conhecido teórico,de que a emergência dos novos meios de reprodução tecnológica da cultura fêz dos políticos atores, demagogos e ditadores. A espetacularização da política só esconde o seu conteúdo conservador, anti-democrático, anti-popular.

O conteúdo "moderno" da gestão: a socialização das perdas e a privatização dos lucros. Política hobinhoodiana de cabeça para baixo. Tirar de quem não tem (pela renúncia fiscal e outras benesses governamentais) para dar a quem já tem muito. E tudo em nome do desenvolvimento, da produção de riquezas, de atração de novos investimentos etc. Ou ainda, colocar o aparelho público a serviço da acumulação privada de capital. O estado gasta milhões na infra-estrutura da cidade e da região, para depois as empresas se estabelecerem, sem pagar nada e ainda beneficiadas com renúncia fiscal.

Onde certamente, a ditadura do Estado Novo se diferencia desses "novos" administradores é no caráter da prestação dos serviços de utilidade pública. Enquanto Vargas estatizou a prestação dos bens de utilidade pública e legalizou as relações de trabalho no Brasil, através da instituição da carteira de trabalho e da legislação trabalhista, o novo e moderno gestor se distingue pela privatização branca das políticas sociais, com a ajuda "desinteressada" do terceiro setor, e aposta na precarização das relações de trabalho no estado.

Há quem diga que é das coalizações políticas centralizadoras no Brasil que as mudanças são possíveis. Mas essa ditadura disfarçada dos novos gestores não traz ou apresenta absolutamente nada em favor dos mais pobres e miseráveis. Seu conteudo é privatizante. Seu involucro ou embalagem é fascista ou para- fascista.

Michel Zaidan Filho, sociólogo e professor da Universidade Federal de Pernambuco

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Museu do quartel da ESMA será para milhões

 

Com a museóloga e sobrevivente Alejandra Naftal como curadora, a inauguração do museu especial no cassino de oficiais da ESMA já está próxima.


Martín Granovsky  Arquivo


O visitante estará parado lendo uma explicação e algumas luzes prontamente demarcarão um retângulo vermelho no chão. O retângulo de uma cela, como o lugar que cada sequestrado ocupava na Escola de Mecânica da Armada (ESMA). Esse lugar será, neste ano, um dos cenários disponíveis no novo espaço da memória inaugurado onde foi o primeiro cassino de oficiais da ESMA, e depois o núcleo do campo de concentração na última ditadura (1976-1983).

A curadora do novo espaço é Alejandra Naftal, sequestrada aos 17 anos e sobrevivente do campo El Vesubio. Ela estudou museologia e foi uma das construtoras do arquivo oral do Memoria Aberta. Durante o kirchnerismo, trabalhou por seis anos com documentação no Ministério da Defesa. O co-curador é Hernán Bisman, responsável por questões visuais e de desenho – fundamentais, visto que o projeto é itinerante e não deve alterar nada do edifício. Naftal conta que escolheram o cassino dos oficiais porque foi “o lugar de alojamento dos presos e o epicentro da mecânica do prédio da ESMA”. E acrescenta sobre o próprio campo de concentração, como se estivesse tudo dito: “E a ESMA é tudo”.

Haverá um cuidado com o rigor? “Nós nos baseamos em documentos, fontes judiciais, acadêmicas, artísticas, jornalísticas e audiovisuais e também no testemunho de vítimas e de familiares”, diz a curadora. “Esses testemunhos são os únicos porque os oficiais nunca falaram. Não contaram a verdade. O que os visitantes escutarão são as vozes dos familiares e dos sobreviventes nos julgamentos”.

Ao redor do mundo, durante os últimos 30 anos, floresceram muitos centros dedicados ao exercício da memória. Os campos de Dachau e Auschwitz, por exemplo. Ou o de Buchenwald, que Jorge Semprún descreveu tantas vezes e onde os diretores do memorial quiseram mostrar como a sociedade alemã sabia que havia um campo a apenas 15 minutos de Weimar. E também o memorial do desembarque na Normandia, França, onde uma sala provoca com a seguinte pergunta: “França, um milhão de resistentes ou um milhão de colaboracionistas?”.

Para Naftal, os lugares para preservação da memória “tem sim que ser diferentes de um artigo, de um livro ou de um filme, porque são os lugares da verdade ‘autorizada’, que para as pessoas é 'a' verdade”, analisa. “É discutível porque é a verdade, não? Mas, para nós, existe a tenacidade de respaldar o que sabemos com fontes documentais. O que usamos são os testemunhos diante da Justiça. O julgamento das Juntas em 1985 e os diferentes julgamentos da causa ESMA dos últimos anos.”

Respondendo sobre a memória, Alejandra Naftal esclarece primeiro que “hoje há um Estado com convicção sobre essa problemática, porque leva adiante os julgamentos e porque transcorreu tempo suficiente, o que permite articular as relações entre história e memória”. E define: “A memória é um músculo muito elástico e seleciona o que lembrar, o que esquecer e como recordar”. Para ela, “é tão elástica que cria ferramentes novas a cada momento”.

Um músculo nas mãos do Estado não pode trazer conflitos? “Pode. Mas os conflitos podem se resolver, e o debate sempre estará aberto. Em contrapartida, com um Estado ausente, não há nada”.

Agustín Di Toffino, chefe de Gabinete da Secretaria de Direitos Humanos e filho de um dirigente sindical cordobense do Sindicato Luz y Fuerza, que foi companheiro de Agustín Tosco e está desaparecido, disse que “o Estado adotou a versão dos sobreviventes e a impulsiona”.

Daniel Tarnopolsky é membro de uma das famílias mais destruídas pela ditadura: foram sequestrados seus pais, Hugo e Blanca, seu irmão Sergio, sua cunhada Laura e sua irmã Betina. Membro da diretoria do Instituto Espaço da Memória, diz que “o projeto é plural e o governo não se intrometeu nos conteúdos”. Acrescentou: “Dá todas as ferramentas e as instituições são as zeladoras, sem interferências”.

Di Toffino, que também milita na organização HIJOS, disse não ter medo do duplo papel desempenhado pelas instituições e pela gestão pública. “Antes construíamos memória marginalizados. Para nós, era mais fácil. Mas, atualmente, com a memória enquanto política de Estado, existe uma tensão. Não temos medo das tensões. Por isso, apoiamos o espaço para o relato dos sobreviventes. É uma questão de acúmulo histórico, de legitimidade de relatos totalmente subestimados, sem governos que processaram o passado com teorias que não tinham a ver com o que aconteceu conosco, como a dos dois demônios, ou o monumento da reconciliação . Agora o Estado encara o relato das vítimas como política de Estado”.

Naftal defende que “uma coisa é ser das instituições e outra é o compromisso com o presente”. A curadora afirma que “pretende-se, nestes lugares, dissolver a política nacional. Não é assim. Isso se dissolve nas eleições, nas lutas partidárias. O museu tem que ser aberto e prolongado no tempo. Um marco que precisa ser estendido. Há muito por investigar, por descobrir, por saber. Por exemplo, quais foram os meios políticos da ditadura nos âmbitos cívico, econômico e militar. Continuamente é preciso discutir. Essa intervenção vai permitir novos olhares”.

Tarnopolsky destaca que o fato de a estrutura do projeto ser móvel dá conta de que é fácil mudar. Naftal recorda que seu desenho não altera o edifício. “É prova material nos julgamentos. Além disso, não tocamos nele para que depois outros possam fazer outras coisas. Virão novas gerações com novos olhares”.

“Há muitos segredos, muitos silêncios, muito material exclusivo, mas se tivermos informações novas, será preciso mudar ou agregar ao conteúdo”, disse Tarnopolsky ao comentar este aspecto do projeto instalado em um lugar de 5300 quadrados como a ESMA. Quer dizer que pode crescer.

Para quem é o museu?

Naftal diz: “Para muitos. Para milhões. Para os de fora. Para jovens, para idosos, para crianças, para argentinos, para estrangeiros. O rabino Daniel Goldman nos contou o que o rabino Marshall Meyer dizia sobre a sinagoga: deve ser o lugar onde o cômodo se sinta incômodo e o incômodo se sinta cômodo. Que o indiferente ou o que não se identificou com a temática dos direitos humanos, quando vier, se sinta um pouco incômodo. Mas que venha. E quem está comprometido ou é um familiar, possa ter um lugar de autocrítica”.

A curadora conta que, entre os museólogos, existe um verbo: to shake. Sacudir. “Sempre discutimos sobre qual é a margem. Claro que é preciso informar o visitante, comunicar, transmitir. Mas, em alguns momentos, também sacudi-lo”.

Graciela Lois, com familiares e um marido sequestrado que passaram pela ESMA, diz que o terrorismo de Estado existiu, e não é uma categoria abstrata e menos ainda uma invenção. “E dentro do terrorismo de Estado houve lugares em que a desumanização foi cruel. Mas também houve estratégias de vida e de resistência daqueles que estiveram presos. Laços de solidariedade. Nasciam crianças”.

“Ela não quer recordar isso porque é modesta, só foi possível transformar toda a ESMA em um espaço de memória e concretizar este projeto possível porque Graciela e Laura Bonaparte, em 1998, apresentaram e ganharam um apoio quando o governo de Carlos Menem queria acabar com tudo”, conta Tarnopolsky. Vocês pensam em reconstruir um campo de concentração? A resposta é negativa. “Em alguns lugares se fez. Villa Grimaldi, no Chile. Para nós, apesar dos relatos, recebemos o edifício vazio. Vazio e 20 anos depois. Não vamos fabricar uma picana elétrica. Não vamos “construir” um campo de concentração. A reconstrução era a tendência dos museus no século XIX. Até colocavam as cores supostamente originais. Hoje isso está malvisto. Existem algumas coisas, como as fotos tiradas pelo Víctor Basterra quando esteve sequestrado na ESMA, e veremos onde as colocaremos. Mas fabricar, nada. Vamos mostrar os originais do acordo das Forças Armadas argentinas com o governo da França para o aprendizado de procedimentos antiguerrilheiros. O Ministério da Defesa nos deu o organograma de como a ESMA entrava no organograma da Marinha. O nosso é clássico: texto, foto, vídeo, e um objeto quase real, se o tivermos”.

A pessoa que entrar na ESMA pode fazer vários percursos com diferentes opções. Poderá fazer o mesmo trajeto que cada um dos milhares de sequestrados fazia – a maioria com o final no lugar onde era levado à morte. Poderá percorrê-la em 15 minutos ou em 4 horas. Dar uma olhada no telão ou se informar mais e tornar a visita mais complexa. Haverá audioguias e as visitas guiadas serão optativas, não obrigatórias, como são hoje.

“A ESMA é o centro emblemático da América Latina e teve ter padrões internacionais de exibição”, opina Naftal. “Há uma necessidade regional de fazer isso na ESMA”. Di Toffino relata que, quando o secretário de Direitos Humanos Martín Fresneda participa de fóruns regionais, sempre lhe perguntam sobre a ESMA.

“A ESMA é Auschwitz da ditadura”, diz Tarnopolsky.

Na entrada, será possível ver uma película de vidro com fotos dos desaparecidos, que não estarão dentro do museu porque os familiares não chegaram a um consenso.

“Há familiares que disseram que não suportariam ver as fotos dos seus ali, por conta do sofrimento”, conta Tarnopolsky, que queria as fotos ali, assim como Lois: “Por que eu disse sim? Porque esse é o último destino do meu marido. Dele e dos meus companheiros. Mas eu quero que ninguém mais sofra e aceito o consenso. Não posso exigir que outros façam o que não conseguem”.

Di Toffino recorda que, em Córdoba, o tema foi muito debatido para os locais em La Perla e na Direção de Inteligência. “As instituições de Córdoba disseram que as fotos ficassem dentro. Combinamos que fossem fotos vivenciais. E o que saiu foi impressionante. Encheram a foto do meu pai de coisas, de mensagens, de homenagens. Somos respeitosos, porque cada um processa a dor de maneira diferente”.

Depois de entrar, haverá uma sala com sistema de projeção 360, em que uma produção do Canal Encontro explicará em sete minutos o que aconteceu entre 1930 e 1976. Na cozinha, será instalada uma sala de julgamentos com tudo sobre a ESMA, e telas para serem consultadas. Durante o trajeto, haverá mais de 100 depoimentos.

No terceiro andar, está o lugar conhecido como Capucha e o quarto das mulheres grávidas. Em uma parte, haverá um monitor, que projetará imagens e depoimentos. “Em Capucha, nada. Você e a sua alma. E não haverá saída. Terá que fazer o percurso de volta”.

Próxima ao tanque, uma equipe potencializará o barulho de lá de fora. O futebol. Os alunos das Escolas Raggio. Os aviões. Os automóveis. O trem. “Reforçará que a ESMA estava inserida em meio à cidade, e a cidade continuava com sua vida habitual, mas isso não será dito explicitamente”, diz Di Toffino.

Natal observa que “na Capuchita trabalhamos sobre os 30 nascimentos na ESMA e, por isso, haverá uma luz muito potente, sem sombras. A luz que dói. Uma luz muito potente. Não há sombra. Escuta-se o depoimento de Sara Solarz de Osatinsky, que acompanhou a metade dos partos e os narra um por um”.

La Pecera mostrará “como funcionava a exploração de mão de obra escrava e a estratégia de sobrevivência”, explica Naftal.

“Recuperar os centros clandestinos é recuperar a vida dos nossos, dar-lhes a vida outra vez”, diz Tarnopolsky. “Não deixá-los no terreno do inimigo, que é onde quiseram deixá-los”, diz Lois como em um sussurro.

(Publicado originalmente no Portal Carta Maior)

Tijolaço do Jolugue: Cássio Cunha Lima deverá mesmo ser candidato na Paraíba. Em 2014, teremos a eleição dos invictos



Na Paraíba, é dada como certa a candidatura do senador Cássio Cunha Lima(PSDB) ao Governo do Estado. O PSB, diante de tantas especulações, estabeleceu um prazo para que o PSDB se pronunciasse sobre o assunto. Expirado o prazo, conclui-se que o "Galo de Campina" deverá concorrer ao Palácio Redenção, apesar de suas cordiais relações com os solialistas tanto no Estado quanto no plano nacional. Ainda pesa sobre Cássio os problemas com a Justiça Eleitoral, que cassou seu mandato de governador. A opinião dos jutistas se dividem, quando o assunto é a restrição legal a uma candidatura do senador. Afora esses embaraços, Cássio reúne motivações suficientes para enfrentar uma disputa de "invictos". Tanto ele como Ricardo Coutinho nunca perderam uma eleição. Um estímulo é a sua liderança nas pesquisas até o momento. Soma-se a esse fato, a pressão exercida pelo PSDB nacional para que ele monte um palanque forte para o senador Aécio Neves na Paraíba, ele que é um dos seus principais coordenadores de campanha. Passada a refrega das urnas nas eleições de 2010, por mais que Ricardo Coutinho negue, as relações entre ambos não são mais as mesmas. Naquelas eleições, a união entre tucanos e socialistas foi fundamental para a condução de Ricardo ao Palácio Redenção. Partido essenciamente urbano, o PSB não conseguiria penetrar nos grotões sem o apoio decisivo do tucano. Com uma trejetóaria surpreendente - de vereador a governador em 13 anos - aos poucos, inexoravelmente, o "Mago", vai deixando alguns desafetos pelo caminho. Luciano Agra foi um deles. Agra fez a melhor gestão de João Pessoa nas últimas décadas. Governou a cidade apenas por dois anos e meio, mas deixou um conjunto de obras estruturadoras que o levou a fazer o sucessor, Luciano Cartaxo. Quando podia ter apoiado a reeleição de Agra, Ricardo optou pelo apoio ao nome de sua atual chefe de gabinete, Estela Bezerra. No plano da diplomacia, Cássio e Ricardo ainda preservam as aparências, mas, o que informa os bastidores da política local é que há, entre os tucanos, muitas insatisfações com o rumo do Governo Socialista, além de uma série de arranjos locais e na cidade de Campina Grande - reduto dos Cunha Limas - que estão contribuindo para precipitar a ruptura entre ambos. Caso confirme-se a candidatura, teremos um bom momento para a lavagem de roupa suja.
Cássio Cunha Lima deverá mesmo ser candidato na Paraíba. Em 2014 teremos a eleição dos "invictos". 

Na Paraíba, é dada como certa a candidatura do senador Cássio Cunha Lima(PSDB) ao Governo do Estado. O PSB, diante de tantas especulações, estabeleceu um prazo para que o PSDB se pronunciasse sobre o assunto. Expirado o prazo, conclui-se que o "Galo de Campina" deverá concorrer ao Palácio Redenção, apesar de suas cordiais relações com os solialistas tanto no Estado quanto no plano nacional. Ainda pesa sobre Cássio os problemas com a Justiça Eleitoral, que cassou seu mandato de governador. A opinião dos jutistas se dividem, quando o assunto é a restrição legal a uma candidatura do senador. Afora esses embaraços, Cássio reúne motivações suficientes para enfrentar uma disputa de "invictos". Tanto ele como Ricardo Coutinho nunca perderam uma eleição. Um estímulo é a sua liderança nas pesquisas até o momento. Soma-se a esse fato, a pressão exercida pelo PSDB nacional para que ele monte um palanque forte para o senador Aécio Neves na Paraíba, ele que é um dos seus principais coordenadores de campanha. Passada a refrega das urnas nas eleições de 2010, por mais que Ricardo Coutinho negue, as relações entre ambos não são mais as mesmas. Naquelas eleições, a união entre tucanos e socialistas foi fundamental para a condução de Ricardo ao Palácio Redenção. Partido essenciamente urbano, o PSB não conseguiria penetrar nos grotões sem o apoio decisivo do tucano. Com uma trejetóaria surpreendente - de vereador a governador em 13 anos - aos poucos, inexoravelmente, o "Mago", vai deixando alguns desafetos pelo caminho. Luciano Agra foi um deles. Agra fez a melhor gestão de João Pessoa nas últimas décadas. Governou a cidade apenas por dois anos e meio, mas deixou um conjunto de obras estruturadoras que o levou a fazer o sucessor, Luciano Cartaxo. Quando podia ter apoiado a reeleição de Agra, Ricardo optou pelo apoio ao nome de sua atual chefe de gabinete, Estela Bezerra. No plano da diplomacia, Cássio e Ricardo ainda preservam as aparências, mas, o que informa os bastidores da política local é que há, entre os tucanos, muitas insatisfações com o rumo do Governo Socialista, além de uma série de arranjos locais e na cidade de Campina Grande - reduto dos Cunha Limas - que estão contribuindo para precipitar a ruptura entre ambos. Caso confirme-se a candidatura, teremos um bom momento para a lavagem de roupa suja.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

O empregado tem carro e anda de avião. Estudei pra quê?


Se você, a exemplo dos professores que debocharam de passageiro "mal-vestido" no aeroporto, já se fez esta pergunta, parabéns: você não aprendeu nada
por Matheus Pichonelli publicado 07/02/2014 13:20, última modificação 10/02/2014 17:15
Reprodução
Preconceito
Professora universitária faz galhofa diante do rapaz que foi ao aeroporto sem roupa de gala. É o símbolo do país que vê a educação como fator de distinção, e não de transformação
Dia desses, um amigo voltou desolado de uma reunião do gênero e resolveu desabafar no Facebook: “Ontem, na assembleia de condomínio, tinha gente 'revoltada' porque a lavadeira comprou um carro. ‘Ganha muito’ e ‘pra quê eu fiz faculdade’ foram alguns dos comentários. Um dos condôminos queria proibir que ela estacionasse o carro dentro do prédio, mesmo informado que a funcionária paga aluguel da vaga a um dos proprietários”.
A cena parecia saída do filme O Som ao Redor, de Kleber Mendonça Filho, no qual a demissão de um veterano porteiro é discutido em uma espécie de "paredão" organizado por condôminos pouco afeitos à sensibilidade. No caso do prédio do meu amigo, a moça havia se transformado na peça central de um esforço fiscal. Seu carro-ostentação era a prova de que havia margem para cortar custos pela folha de pagamento, a começar por seu emprego. A ideia era baratear a taxa de condomínio em 20 reais por apartamento.
Sem que se perceba, reuniões como esta dizem mais sobre nossa tragédia humana do que se imagina. A do Brasil é enraizada, incolor e ofuscada por um senso comum segundo o qual tudo o que acontece de ruim no mundo está em Brasília, em seus políticos, em seus acordos e seus arranjos. Sentados neste discurso, de que a fonte do mal é sempre a figura distante, quase desmaterializada, reproduzimos uma indigência humana e moral da qual fazemos parte e nem nos damos conta.
Dias atrás, outro amigo, nascido na Colômbia, me contava um fato que lhe chamava a atenção ao chegar ao Brasil. Aqui, dizia ele, as pessoas fazem festa pelo fato de entrarem em uma faculdade. O que seria o começo da caminhada, em condições normais de pressão e temperatura, é tratado muitas vezes como fim da linha pela cultura local da distinção. O ritual de passagem, da festa dos bixos aos carros presenteados como prêmios aos filhos campeões, há uma mensagem quase cifrada: “você conseguiu: venceu a corrida principal, o funil social chamado vestibular, e não tem mais nada a provar para ninguém. Pode morrer em paz”.
Não importa se, muitas e tantas vezes, o curso é ruim. Se o professor é picareta. Se não há critério pedagógico. Se não é preciso ler duas linhas de texto para passar na prova. Ou se a prova é mera formalidade.
O sujeito tem motivos para comemorar quando entra em uma faculdade no Brasil porque, com um diploma debaixo do braço, passará automaticamente a pertencer a uma casta superior. Uma casta com privilégios inclusive se for preso. Por isso comemora, mesmo que saia do curso com a mesma bagagem que entrou e com a mesma condição que nasceu, a de indigente intelectual, insensível socialmente, sem uma visão minimamente crítica ou sofisticada sobre a sua realidade e seus conflitos. É por isso que existe tanto babeta com ensino superior e especialização. Tanto médico que não sabe operar. Tanto advogado que não sabe escrever. Tanto psicólogo que não conhece Freud. Tanto jornalista que não lê jornal.
Função social? Vocação? Autoconhecimento? Extensão? Responsabilidade sobre o meio? Conta outra. Com raras e honrosas exceções, o ensino superior no Brasil cumpre uma função social invisível: garantir um selo de distinção.
Por isso comemora-se também à saída da faculdade. Já vi, por exemplo, coordenador de curso gritar, em dia de formatura, como líder de torcida em dia de jogo: “vocês, formandos, são privilegiados. Venceram na vida. Fazem parte de uma parcela minoritária e privilegiada da população”; em tempo: a formatura de um curso de odontologia, e ninguém ali sequer levantou a possibilidade de que a batalha só seria vencida quando deixássemos de ser um país em que ter dente é, por si, um privilégio.
Por trás desse discurso está uma lógica perversa de dominação. Uma lógica que permite colocar os trabalhadores braçais em seu devido lugar. Por aqui, não nos satisfazemos em contratar serviços que não queremos fazer, como lavar, passar, enxugar o chão, lavar a privada, pintar as unhas ou trocar a fralda e dar banho em nossos filhos: aproveitamos até a última ponta o gosto de dizer “estou te pagando e enquanto estou pagando eu mando e você obedece”. Para que chamar a atenção do garçom com discrição se eu posso fazer um escarcéu se pedi batata-fria e ele me entregou mandioca? Ao lembrá-lo de que é ele quem serve, me lembro, e lembro a todos, que estudei e trabalhei para sentar em uma mesa de restaurante e, portanto, MEREÇO ser servido. Não é só uma prestação de serviço: é um teatro sobre posições de domínio. Pobre o país cujo diploma serve, na maioria dos casos, para corroborar estas posições.
Por isso o discurso ouvido por meu amigo em seu condomínio é ainda uma praga: a praga da ignorância instruída. Por isso as pessoas se incomodam quando a lavadeira, ou o porteiro, ou o garçom, “invade” espaços antes cativos. Como uma vaga na garagem de prédio. Ou a universidade. Ou os aeroportos.
Neste caldo cultural, nada pode ser mais sintomático da nossa falência do que o episódio da professora que postou fotos de um “popular” no saguão do aeroporto e lançou no Facebook: “Viramos uma rodoviária? Cadê o glamour?”. (Sim, porque voar, no Brasil, também é, ou era, mais do que se deslocar ao ar de um local a outro: é lembrar os que rastejam por rodovias quem pode e quem não pode pagar para andar de avião).
Esses exemplos mostram que, por aqui, pobre pode até ocupar espaços cativos da elite (não sem nossos protestos), mas nosso diploma e nosso senso de distinção nos autorizam a galhofa: “lembre-se, você não é um de nós”. Triste que este discurso tenha sido absorvido por quem deveria ter como missão a detonação, pela base e pela educação, dos resquícios de uma tragédia histórica construída com o caldo da ignorância, do privilégio e da exclusão.

(Publicado originalmente na Carta Capital)

Fátima Oliveira: A "síndrome de Estocolmo" e o clã dos Sarney

publicado em 11 de fevereiro de 2014 às 13:32

A ‘síndrome de Estocolmo’ na política e o clã dos Sarney
Uma prisão emocional, como no conto “A Bela e a Fera”
Fátima Oliveira, em OTEMPO
fatimaoliveira@ig.com @oliveirafatima_
Por que o clã Sarney ganha eleições? Sabe-se que quem vota no opressor não o vê como tal; ou vê e o prefere! É a “síndrome de Estocolmo” na política – em si, a síndrome é um transtorno psicológico em vítimas de diferentes processos de dominação, decorrente da falta de visão correta da realidade, cujo mecanismo de proteção é a defesa do opressor.
Na prática, uma prisão emocional, como no conto “A Bela e a Fera”, de Gabrielle-Suzanne, dama de Villeneuve (1740), que na política é perpetuada com o apoio de um marketing político embotador de consciências. Vide a campanha publicitária em curso com poder extraordinário de vincar no imaginário as bodas de ouro do “amor” dos Sarney pelo Maranhão!
Diante do que urge ampliar a percepção popular de quão nefasto tem sido para o Maranhão e seu povo o domínio político do clã Sarney desde janeiro de 1966, quando o patriarca da família, José Sarney, sob a moldura eleitoral das Oposições Coligadas, assumiu o governo com um discurso contra a oligarquia de Vitorino Freire (1908-1977) – pernambucano que mandou no Maranhão entre 1946 e 1965, sem nunca ter sido candidato a governador! Quando Sarney se elegeu, os dois outros candidatos foram Renato Archer e Costa Rodrigues. Os três, crias do vitorinismo.
Por paradoxal que possa parecer, a penitenciária de Pedrinhas é o que Sarney e seus prepostos, ao longo dos anos, fizeram dela, pois, embora inaugurada pelo governador Newton Belo, em 12.12.1965, é a obra dos Sarney no poder que exibe as vísceras dos desmandos do clã, além dos indicadores que revelam a extrema vulnerabilidade social do nosso povo, vítima de desamor contínuo por 50 anos!
Paulo César D’Elboux, em “A Trajetória Comunicacional de José Sarney”, afirma que “para se manter por tanto tempo assim no poder, o político deve ter um bom trabalho de marketing político”.
Sarney é tido como o pioneiro do marketing político no Maranhão. Ele disse: “Talvez eu possa dizer que, no Maranhão, pela primeira vez, nós introduzimos uma campanha planificada… Para isso utilizamos também, pela primeira vez no Estado, a comunicação musical, com jingle”.
Trata-se do “Meu voto é minha lei” (letra de Miguel Gustavo, na voz de Zezé Gonzaga). Em suma, de comunicação Sarney entende muito e é dono do maior grupo privado de comunicação do Maranhão, o Sistema Mirante de Comunicação (TVs, rádios e o jornal “O Estado do Maranhão”).
Indagado por D’Elboux sobre marketing político, Sarney declarou:
“É imprescindível. Primeiro, a ação política, 50% ou mais dela é feita pela palavra. A maneira de se massificar as ideias que as palavras têm é através dos instrumentos que se tem. A imprensa é o mais antigo de todos, depois os meios que a gente dispõe hoje. Ninguém pode fazer política, a não ser no anonimato, se não tiver condições dela ser do conhecimento, ser massificada. É uma obrigação do político, é quase que uma extensão da personalidade. Ninguém pode ter sucesso político se não for capaz de expor suas ideias para que os outros possam comungar delas… Todas as campanhas, esses marqueteiros sabem que sou muito palpiteiro e muito rigoroso em matéria de criticar. Tenho coragem de dizer a eles o que está certo e o que está errado”.
O desafio de derrotar Sarney é monumental. Exige travar a luta de ideias num campo em que ele não é apenas experiente e detém os principais meios de comunicação do Estado, mas também considera decisivo, tanto que ruma para o “tudo ou nada” nas próximas eleições.

(Publicado originalmente no Viomundo)

A conivência do Psol com os Black Blocs



Ao contrário do que pretendia, não é o Psol que parece estar influenciando os Black Blocs. São os Black Blocs que estão dando a linha do Psol.




O Psol cometeu o grave erro de se associar aos Black Blocs. Das duas, uma: ou o partido assume o equívoco publicamente, revê sua aliança explícita com os mascarados e se afasta desse grupo de uma vez por todas, ou ele que se prepare para ser duramente rejeitado na política pelos setores democráticos.

Se o Psol tem uma convicção a defender, que o faça. O que se viu desde a morte do cinegrafista Santiago Andrade é um partido que finge que não tem responsabilidade sobre o ocorrido e, tal qual um Black Bloc, mascara suas posições na hora de enfrentar a sociedade.

Após as manifestações de junho de 2013, quando foi expulso dos protestos como tantos outros partidos, o Psol estreitou sua relação com os Black Blocs. Mas continua posando de bom moço na hora de dar entrevistas.

Membros de sua Executiva defendem as táticas de violência de rua dos Black Blocs, enquanto seus deputados citam candidamente a não-violência de Gandhi e lamentam a morte do cinegrafista.

Ao contrário do que pretendia, não é o Psol que parece estar influenciando os Black Blocs. São os Black Blocs que estão dando a linha do Psol.

Pouco importa se o sujeito que disparou o rojão que vitimou Santiago Andrade é ou não do gabinete de Marcelo Freixo (Psol-RJ), se é ou não filiado ao Psol, se votou ou não no Psol, se receberá ou não assistência jurídica de algum parlamentar do Psol.

O que importa é a posição política, oficial ou oficiosa, que o Psol tem empunhado nas ruas, não apenas ao lado, mas de mãos dadas com os mascarados.

Por mais que tente tapar o sol com a peneira, está evidente que o Partido flertou com os Black Blocs. Brincou com fogo e se queimou, mas ainda não se arrependeu.

O cinegrafista da Band era, antes de tudo, uma pessoa comum, um cidadão brasileiro, um trabalhador.

O criminoso que tirou a vida dessa pessoa e que irá provavelmente reclamar da criminalização dos protestos não atacou ícone algum da imprensa burguesa.

Não fez sequer cócegas em qualquer corporação midiática.

Não chegou nem perto de atacar qualquer rede de comunicação.

Ele simplesmente atacou e destruiu um trabalhador. Alguém que era feito da mesma substância que as crianças, jovens, idosos, trabalhadores e estudantes da estação de trem onde também foi explodido um rojão desse mesmo tipo, horas antes.

As pessoas da estação tiveram a sorte que faltou ao cinegrafista.

Na página do Psol, até romper o dia da morte de Santiago Andrade, não havia sequer uma única nota do Partido sobre o episódio.

Até mesmo os Black Blocs do Rio de Janeiro divulgaram um comunicado lamentado a “infelicidade” pela morte do cinegrafista. O Psol não chegou a tanto.

Seus parlamentares juram que são adeptos da não violência, mas esperaram o cinegrafista estar em coma para dar as primeiras declarações.

Marcelo Freixo demorou ainda mais. Só abriu o bico para esboçar alguma explicação quando alguém lançou contra ele a acusação de ter relações diretas com o agressor.

Ou seja, resolveu romper o silêncio com  intuito de defender a si próprio. Já não se fazem mais revolucionários como antigamente.

Enquanto aguardamos a nota oficial do Partido sobre o incidente, é possível entender qual é a do Psol com os Black Blocs com a leitura do esclarecedor texto “Tática Black Bloc: condenar, conviver ou se aliar?”.

O texto é assinado por ninguém menos que o Secretário de Organização da Executiva Nacional do PSOL, Edilson Silva.

A resposta do membro da Executiva é a de que o Psol deve conviver e aliar-se para tentar ganhar adeptos entre os Black Blocs.

O Secretário Nacional do Psol é um verdadeiro apaixonado pelos mascarados. Certamente contagiou muitos outros de sua organização.

Diz que os Black Blocs têm como “diferencial mais saliente, e porque não dizer sedutor” “a coragem e o desprendimento com que se lançam diante da repressão estatal."

Acrescenta: "não nos parece que o conceito da tática Black Bloc seja algo retrógrado ou mesmo indesejável em essência e propósitos originais. É algo progressivo, politicamente moderno, trazido pelas mãos da dialética na história”.

Vale grifar o “progressivo” e o “moderno”.  O “trazido pelas mãos da dialética na história” bem poderia ter sido abreviado com um “inexorável”.

"A tática existe e veio pra ficar, gostem ou não a direita, a esquerda e quem mais quiser dar palpites”, diz Edilson Silva.

Tendo citado a direita, a esquerda e os palpiteiros, ao Psol só sobrou mesmo o centro. Ou seja, sobrou espaço suficiente para tocar fogo em rojões, mirando a cabeça das pessoas, e lançar coquetéis molotovs sobre policiais, durante a noite; e de dia fazer acordos com o PSDB, o PPS e o DEM nas votações do Congresso, como tem sido a praxe do partido.

O Secretário do Psol enaltece os Black Blocs e denuncia “as escaramuças de falsos representantes em uma esfarelada democracia de faz de conta”.

Acho que Randolfe Rodrigues, Chico Alencar, Marcelo Freixo e tantos representantes esfarelados do Psol precisam dizer alguma coisa para se defender. De preferência, algo que não seja faz de conta, como quer o entusiasta dos fogos de artifício.

A recomendação expressa, até que apareça alguém que diga algo em contrário, é a de colocar "os movimentos e partidos da esquerda coerentes, como o PSOL, dialogando com a tática Black Bloc, respeitando todas as táticas e o máximo possível as sensibilidades mais positivas da opinião pública e da consciência das massas”, “disputando a hegemonia”.

Interessante o texto falar em coerência, sensibilidade e consciência, três coisas que andam em falta no Psol.

“Talvez esteja aí o nosso desafio nesta questão da tática Black Bloc", conclui a bula psólica.

“Quem mais deve estar preocupado com isto são os governos que já estavam acostumados com conflitos de resultados previsíveis".

Engraçado; por um momento, imaginamos que quem deveria estar preocupado com esses resultados previsíveis deveria ser o Psol.

Nada disso. Os estandartes do Psol estão muito à vontade servindo de pano de fundo da ação direta dos cavaleiros das trevas, dos justiceiros das ruas que agem contra tudo e contra todos: contra o capital e contra os trabalhadores - trabalhadores como Santiago Andrade e como o Seu Itamar Santos, aquele que teve o fusquinha queimado com a família dentro, escapando por pouco de uma tragédia.

Eis a turma que o Psol acha progressista, moderna e que veio pra ficar.

Aí está o que o Partido Socialismo e Liberdade hoje defende, seja quando fala, seja  quando cala.

Está na hora de uma mobilização suprapartidária que condene a violência como tática de luta política. Quem sabe o Psol adira e isso sirva para passar um recado efetivo, à sua militância, de abandono da aliança com os mascarados.

Mas se, ao contrário, o Psol está cansado de ser um partido que duela com as armas da democracia e preferiu virar um grupelho que ataca o primeiro que aparece pela frente, que fique com seus Black Blocs e faça bom proveito.


(*) Antonio Lassance é cientista político.
 
(Publicado originalmente no portal Carta Maior)

Dilma ataca PSB e PSDB: "pessimistas e caras de pau"

Pernambuco 247 - A presidente Dilma Rousseff (PT) partiu para o ataque contra os presidenciáveis do PSB e do SDB. Embora sem citar nomes, durante um ato de comemoração me homenagem aos 34 anos de fundação do PT, Dilma taxou os seus opositores de “pessimistas” e “cara de pau” por afirmarem que o modelo de governo da legenda está esgotado. Tanto o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), como o senador mineiro Aécio Neves (PSDB), já fizeram afirmações sobre o assunto.
Para a presidente, as declarações feitas pelos prováveis adversários na campanha presidencial de que o modelo de governo petista está esgotado “é mais do que uma mentira, mas uma agressão ao bom senso e à autoestima dos brasileiros”.  “Eles têm a cara de pau de dizer que o ciclo do PT acabou. Esses pessimistas agora aproveitam alguns desequilíbrios da conjuntura internacional, muito difícil para todos os países, para dizer que o fim do mundo chegou. O fim do mundo chegou sim, mas chegou para eles, e isso faz muito tempo”, discursou Dilma durante evento em São Paulo.
O presidente nacional do partido, Rui Falcão, também  condenou os críticos do governo Dilma ao dizer que eles “são especialistas em mofo”, “doutores em bolor que não conseguem  mudar o Brasil”. Embora também não tenha citado os nomes dos pré-candidatos das legendas vistas como adversárias, Falcão classificou os discursos de Aécio Neves e de Eduardo Campos como representantes do que ele classificou como “neopassadismo” e “novovelhismo”. O que chamam de novo é cobrir de paetês velhas oligarquias e falsas alegorias”, disse. “O neopassadismo quer trazer alguns dinossauros de volta à política brasileira e, no novovelhismo pensam que discursos fáceis serão capazes de mudar o Brasil e fascinar os eleitores”, completou.

(Publicado originalmente no Pernambuco 247)

Editorial do JN: Um exercício de hipocrisia!


Quem manda não ter uma Ley de Medios ? Quem manda não ter Chefe de Polícia ?
PiG usa a "liberdade de patrão" para anunciar a queda da Dilma !

O jornal nacional dedicou 97′ a um raro “editorial”.

Chamou de “editorial”.

Se o critério fosse explicitar a “opinião do patrão”, 99% das “reportagens” deveriam vir com o selo “editorial”, uma vez que o jn do Gilberto Freire com “i”(*) se sustenta na editoria “o Brasil é uma m…”.

O “repórter” da Globo, na Avenida Paulista, incentiva manifestante a protestar contra a Dilma.

No Rio, a Globo se sentou à frente da casa do governador e, na Avenida Rio Branco e na Central do Brasil, deu inesgotável cobertura às “manifestações democráticas”.

O William Bonner abandonou  uma cerimônia de entrega do “Oscar” de “efeitos especiais”, no Dolby Theater, em Los Angeles para ancorar, das 15h às 23h, ininterruptamente, as manifestações em todo o Brasil, em junho.

Fenômeno jamais visto na história da Globo: derrubar toda a programação do horário nobre e seu encaixe comercial para se dedicar a um evento “jornalístico”, sem break.

A Globo conseguiu capturar o movimento dos doentes infantis do transportismo, que falavam fino com os tucanos e resolveram falar grosso com o Haddad – com a ajuda, claro, da Polícia do Alckmin.

As suaves apresentadoras da GloboNews dirigiam as manifestações – o Maracanã é aí em frente ! ; isso mesmo, pela direita você sobe na ponte !

Vamos combinar, diria o PML: a Globo e o PiG manipulam as manifestações para derrubar a Dilma.

Com a lógica do “estamos numa Democracia” – não perca o retumbante vídeo “Black bloc usa o direito de resposta contra a Globo” -  a Globo e seus frágeis aliados – Folha (**) e Estadão – estimulam um movimento que pode ter o efeito de um putsch na abertura da Copa.

Mas, se não for na Copa, será mais adiante e mais adiante.

Como diz o notável analista de manifestações, Marcelo Freixo, na pág.  A6, do PiG cheiroso, o “Valor”, onde “defendeu as manifestações”, mas condenou a “escalada de violência”, é claro, e previu com a certeza dos profetas do caos:

“A gente está vivendo um momento preocupante (sic). A Copa do Mundo vai acirrar os ânimos, a crise do Governo (Sergio) Cabral vai acirrar os ânimos. Este é um ciclo difícil de ser quebrado.”

Claro !

É difícil de ser quebrado, porque os Governos Estaduais são ineptos.

Não sabem lidar com esse tipo de ameaça à ordem publica – leia “Não vai ter Copa é um caso de polícia”.

O Governo Federal não criou a Guarda Republicana.

O Governo Federal não tem Chefe de Polícia, porque o zé da Justiça é inepto, inapetente, e carece de  autoridade  moral para enfrentar os vândalos (e os puros).

Não era ele quem deveria estar, ontem, na televisão, em rede nacional, a consolar a viúva do Santiago e anunciar medidas para estancar o Golpe (em marcha) ?

(Ou seria melhor levar o Bernardo Plim-Plim para assegurar o sagrado direto de a Globo derrubar a Dilma, desde que fique “neutra” no Paraná?)

Diante de uma monumental desordem pública, estimulada e fortalecida pela Globo, o Governo Federal não pode se esconder sob a desculpa constitucional de que isso é “problema estadual”.

E como o ciclo é difícil de ser interrompido, o melhor negócio para os Golpistas é esticar a corda, o “ciclo” do Freixo, até a Dilma cair.

Mas, a batata da Globo assou.

A morte do cinegrafista da Band é um mau presságio.

E se ele fosse da Globo ?

É difícil, porque a Globo prefere cobrir as manifestações de helicóptero e repórteres desconhecidos e não identificados.

Mas, a batata da Globo assou – clique aqui para ver o que manifestantes jogaram na sede da Globo em São Paulo.

Se houver mais e mais mortes – como antecipa (com contido gáudio) a manchete da Folha “País (sic) tem a 1ª (sic) morte por ataque de manifestante em protesto”.

Primeira, mas não a única, nessa série de “um ciclo difícil de ser quebrado”.

Qual era o objetivo da manifestação em que o cinegrafista da Band foi assassinado ?

Protestavam contra o que ?

Qual a diferença entre o que os manifestantes da Central queriam e os pleitos dos “rolezeiros”, que o PiG endeusou ?

E a turma da doença infantil do transportismo ?

Protestou quando o Presidente Barbosa impediu o Haddad de aumentar o mesmo IPTU que o ACM Neto aumenta em Salvador e os tucanos aumentaram desde que chegaram ao poder há 20 anos (ciclo por se encerrar) ?

Basta que seis pedestres atravessem o sinal na Avenida Paulista com a Augusta que a Globo – de helicóptero, com a câmera fechada – transformará num ato do “ciclo”.

Este é um Golpe da e na televisão.

Como o que tirou Chávez temporariamente do poder, em 2002.

Chávez voltou em 47 horas.

O Golpe provocou não uma, mas 27 mortes.

Portanto, segundo a Folha, há 26 por acontecer.

O Chávez voltou.

Dilma voltaria ?

Com essa Globo ?

Como esse Supremo ?

Com esse Senado ?

Com essa bancada do PT no Senado ?

Ora, Bonner, ora Gilberto Freire, esse jogo é mais bruto do que vocês pensam.

O gênio saiu da garrafa.

Pergunta aos filhos do Roberto Marinho – eles não têm nome próprio – se eles estão felizes com o “ciclo”.

E se a Dilma não cair ?

E se o fogo se espalhar ?


Paulo Henrique Amorim


(*) Ali Kamel, o mais poderoso diretor de jornalismo da história da Globo (o ansioso blogueiro trabalhou com os outros três), deu-se de antropólogo e sociólogo com o livro “Não somos racistas”, onde propõe que o Brasil não tem maioria negra. Por isso, aqui, é conhecido como o Gilberto Freire com “ï”. Conta-se que, um dia, D. Madalena, em Apipucos, admoestou o Mestre: Gilberto, essa carta está há muito tempo em cima da tua mesa e você não abre. Não é para mim, Madalena, respondeu o Mestre, carinhosamente. É para um Gilberto Freire com “i”.

(**) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que matou o Tuma e depois o ressuscitou; e que é o que é,  porque o dono é o que é; nos anos militares, a Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.


(Publicado originalmente no Coversa Afiada)

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Eduardo Campos tem parentes no governo: secretário nega nepotismo

publicado em 9 de janeiro de 2013 às 10:51

Eduardo e Renata Campos:  Parentes do ilustre casal ocupam cargos estratégicos, de confiança, na administração pública do Estado de Pernambuco. Fotos: Portal do Governo de Pernambuco
por Conceição Lemes, Chico Diniz e Daniel Bento
Nome completo: Eduardo Henrique Accioly Campos.
Cargos anteriores: deputado estadual, deputado federal, secretário da Fazenda, ministro da Ciência e Tecnologia.
Posto atual: governador de Pernambuco, iniciando o sétimo ano no comando do Palácio do Campo das Princesas. Tempo suficiente para que os desafetos no Estado já o chamem pejorativamente de “imperador”.
O fato é que, gostem ou não os oponentes, Eduardo Campos está em ascensão no cenário político brasileiro, figurando como um dos nomes cotados para disputar a presidência da República em 2014. Maior liderança do PSB (é seu presidente nacional),  o neto e herdeiro político de Miguel Arraes simboliza o “novo”. Tem apenas 47 anos.
Os adversários torpedeiam. O “novo” estaria recorrendo a velhas práticas, típicas dos antigos coronéis da política, como o ex-governador Antonio Carlos Magalhães, já falecido, e o senador José Sarney (PMDB-AP): espalhar o nome da família por obras do Estado e empregar parentes em cargos de confiança.
Que o governador homenageie a memória do avô, dando eventualmente o seu nome a alguma obra importante, compreende-se. Muito considerado até hoje pelos conterrâneos, Arraes é um dos nomes históricos da política não apenas regional, mas brasileira.
Nessa cota, pode-se colocar, por exemplo, o Hospital Miguel Arraes, no município de Paulista, inaugurado em 2009, e a velha Avenida Norte, antes Estrada do Limoeiro. No início deste ano, ela se tornou a Av. Norte Miguel Arraes, a maior do Recife.
Situação diferente da parentada de Eduardo ou da primeira-dama Renata Campos, que é economista e auditora concursada do Tribunal de Contas do Estado (TCE-PE), cedida ao governo de Pernambuco.
O Viomundo teve acesso a uma lista com nomes de familiares do ilustre casal, ocupando cargos estratégicos, de confiança, na administração pública, e submeteu-a a Evaldo Costa, secretário de Comunicação de Pernambuco, para saber a posição do governo a respeito.
Evaldo Costa nega nepotismo:
Antes de mais nada, informo que a relação que você  enviou mistura pessoas que não têm nenhum vínculo com o Governo do Estado de Pernambuco com outras sem parentesco com o governador. Ou seja, não faz o menor sentido.
 Pernambuco foi o primeiro estado brasileiro a aprovar uma lei antinepotismo.
Por iniciativa do governador Eduardo Campos, foi aprovada pela Assembléia Legislativa a Lei Complementar Nº 097, de 01 de outubro 2007. Para que se dimensione o pioneirismo, basta mencionar que a União Federal só aprovou sua legislação antinepotismo em 2010 e, ainda assim, o fez na forma de Decreto, de nº 7.203, de 4 de junho de 2010.
 Ressalto, por fim, que não há um único caso de nomeação de servidor público em Pernambuco em desacordo com a legislação vigente no estado e no país.
 MÃE E DOIS TIOS OCUPAM CARGOS NO GOVERNO FEDERAL
Realmente, três dos citados na lista não atuam na administração estadual mas na federal. Os três, filhos de Miguel Arraes, são Ana Lúcia Arraes de Alencar, Luís Cláudio Arraes de Alencar e Marcos Arraes de Alencar, respectivamente, mãe e tios do governador.
Ana Arraes é advogada. Deputada federal pelo PSB por dois mandatos consecutivos, foi nomeada ministra do Tribunal de Contas da União (TCU) pela presidenta Dilma Rousseff, em 26 de outubro de 2011.
Luís Cláudio é médico. Em fevereiro de 2011, cedido pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), assumiu a chefia do serviço de pesquisa da Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobras), vinculada ao Ministério da Saúde. O ônus do salário é da UFPE.
Luís Cláudio, segundo o seu Currículo Lattes, é ainda coordenador do Centro de Pesquisa Clínica do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip).
O Imip, por meio de contrato com o governo de Pernambuco, gere quatro importantes hospitais da rede estadual: Metropolitano Miguel Arraes, Dom Hélder Câmara, Dom Malan e Pelópidas Silveira. Gere também seis Unidades de Pronto-Atendimento – as UPAs de Olinda,  Paulista, Igarassu, Barra de Jangada, Jaboatão Velho e Cabo de Santo Agostinho.
Marcos Arraes, administrador de empresas, também trabalha na Hemobras. Integra a diretoria executiva, ocupando o cargo de diretor administrativo-financeiro. Nos contratos feitos pela Hemobras, assina pela empresa como contratante. É também o presidente-substituto.
Durante os dois mandatos do ex-presidente Lula, foi chefe do escritório da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), em Brasília. A Finep é instituição vinculada ao Ministério de Ciência e Tecnologia, comandado de janeiro de 2004 a julho de 2005 por Eduardo Campos.
Ainda que qualificados – Luís Cláudio é considerado uma das referências nacionais em transmissão sanguínea HIV/Aids e hepatites B e C –, quase certamente pesou nas nomeações dos três o fato de o PSB fazer parte dos partidos da base de apoio político dos governos Lula e Dilma.
Isso é de praxe. Acordos entre partidos, prevendo indicações de nomes para determinados postos, fazem parte do jogo político. Foi assim, vale relembrar, que Eduardo Campos se tornou ministro do primeiro governo Lula.
SOBRINHOS, TIA, SOGRO, CUNHADA, EX-CUNHADO, PRIMOS EM POSTOS NO ESTADO
O que mais chama a atenção na lista à qual o Viomundo teve acesso é a presença de três gerações de familiares de Eduardo e Renata Campos na administração estadual, inclusive jovens:
Arthur Leal Arraes de Alencar – Filho de Marcos Arraes (Hemobras) e primo do governador. Em 30 de dezembro de 2010 (último dia do primeiro mandato de Eduardo Campos), foi nomeado assessor de apoio técnico operacional da administração do Distrito Estadual de Fernando de Noronha (a nomenclatura do cargo é CAA-3), a partir de 1º de janeiro de 2011, ganhando mensalmente R$ 2.159,44. Arthur tem 21 anos de idade. É o mais jovem da família na gestão do primo.
Carla Ramos Santos Leal — Mãe de Arthur, segunda esposa de Marcos e tia do governador. Desde janeiro de 2009, trabalha como chefe de administração do Palácio do Campo das Princesas. Segundo o Portal Transparência do Governo de Pernambuco, ganha R$ 7.308,00 por mês.  Carla é a responsável por gerir a verba de suprimentos do Palácio, apelidada de “caixinha”, recurso legal usado para cobrir pequenas despesas urgentes.
Cyro Andrade Lima – Médico, ex-secretário da Saúde de Pernambuco e sogro do governador. É pai da primeira-dama, cujo nome completo é Renata de Andrade Lima Campos. Desde maio de 2011, integra o conselho de administração Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa), a estatal de água e esgotos pernambucana. Recebe R$ 3,7 mil para participar de uma reunião mensal. O Diário Composiano, publicação dos trabalhadores  da empresa, já denunciou o caso.
Ana Elisabeth Andrade Lima (Bebeth) — É  irmã de Renata Campos e cunhada do governador. Médica, com mestrado em Saúde Pública e especialista em Medicina da Família e da Comunidade, tem currículo para o cargo que ocupa: é gerente da Política de Saúde do Estado, tendo sob sua coordenação o comitê-executivo do Mãe-Coruja, programa liderado pela primeira-dama e voltado à redução de mortalidade infantil. O Portal da Transparência do Governo de Pernambuco informa que o salário de Ana Elisabeth é R$ 10.664,78.
Rodrigo de Andrade Lima Molina e Marcela de Andrade Lima Molina – São filhos de Bebeth e sobrinhos de Renata e Eduardo Campos.
Rodrigo tem 27 anos e estava lotado inicialmente na chefia de gabinete do governador. De 26 a 29 de abril de 2009, viajou para Houston, Texas (EUA), como integrante da comitiva do governo, por solicitação da chefia de gabinete de Eduardo Campos. Em fevereiro de 2011, já gerente de Finanças da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, cujo secretário era Geraldo Júlio, atual prefeito, recebeu poderes para “assinar contratos, convênios e instrumentos congêneres”. Salário: 3.953,43.
Marcela ocupa cargo comissionado de gestora técnica na Secretaria de Governo. Ela foi nomeada em 7 de outubro de 2011, com data retroativa a 1º de outubro daquele ano.
Segundo o Diário Oficial de Pernambuco, de 10 a 26 de março de 2012, a pedido da Secretaria-executiva de Relações Internacionais, da Secretaria de Governo, viajou a Havana para integrar a comitiva do Programa Mãe-Coruja Pernambucana, coordenado pela própria mãe. A Secretaria de Governo não tem relação operacional com esse programa. Salário: R$ 4.651,09.
Aurélio Molina – Médico, ex-marido de Bebeth e ex-cunhado da primeira-dama e do governador. É secretário-executivo de Desenvolvimento da Educação de Pernambuco, além de lecionar na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Pernambuco. Salário: R$ 4.916,86.
Francisco Tadeu Barbosa de Alencar – Conhecido apenas como Tadeu Alencar. É primo do governador e atual secretário da Casa Civil. Em 2007, quando Eduardo Campos o chamou para ocupar a procuradoria-geral do Estado, era procurador-geral adjunto da Fazenda Nacional, onde entrou por concurso.  No segundo mandato de Eduardo, migrou para a poderosa secretaria da Casa Civil. Também é membro do Conselho de Administração da Compesa.
José Everardo Arraes de Alencar – Ou Everardo Norões, como é conhecido. Poeta,  dramaturgo e primo do governador. Segundo o Diário Composianojá integrou o conselho de administração Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa).
Atualmente, preside o conselho editorial da Companhia Editora de Pernambuco (CEPE), para o qual é remunerado assim como os demais integrantes da equipe, como regulamenta portaria de 2008. Após indicação da diretoria da editora estatal, os nomes são ratificados pela Secretaria da Casa Civil.

Thiago Arraes Alencar Norões – É filho de Everardo Norões e primo em terceiro grau do governador. Substituiu Tadeu Alencar no comando da Procuradoria Geral do Estado de Pernambuco. Procurador de carreira, ele foi indicado por Eduardo Campos para ser o procurador-geral neste segundo mandato.  Salário: R$ 29.811,78, segundo o Portal da Transparência do Governo de Pernambuco.
Paulo Câmara — Secretário da Fazenda de Pernambuco e primo em segundo grau  do governador. Considerado um técnico bastante competente, é casado com a juíza Ana Luíza, filha de Vanja Campos, prima de Eduardo. Vanja foi chefe de gabinete de Miguel Arraes durante o segundo mandato, entre 1986 e 1990.
ENTRA E SAI DE PRIMOS NO TRIBUNAL DE CONTAS DE PERNAMBUCO
O TCE-PE, assim como os seus congêneres, é o principal organismo de fiscalização das contas públicas estaduais. Aí, também há parentes do ilustre casal.
Marcos Coelho Loreto, primo da primeira-dama, é um deles. Desde 2007, é conselheiro o TCE-PE. Foi chefe de gabinete de Eduardo Campos nos dois primeiros anos do primeiro mandato. Foi ainda seu assessor especial do Ministério de Ciência e Tecnologia em 2004.
O outro é o advogado João Carneiro Campos, irmão de Vanja Campos e primo do governador. Ex-desembargador eleitoral, ele foi nomeado em março de 2011 para o cargo vitalício de conselheiro do TCE-PE.
Flávio Rubem Accioly Campos Filho, primo em primeiro grau de Eduardo Campos, trabalhou durante quatro anos no TCE-PE. Em janeiro de 2007, poucos dias após o governador tomar posse, Flávio foi nomeado para cargo em Comissão de Assessor da Presidência, mais precisamente secretário da Coordenadoria de Controle Externo do órgão. A seu pedido, segundo o Diário Oficial, foi exonerado a partir de 2 de janeiro de 2012.
Seu filho, Flávio Rubem Accioly Campos Neto, atualmente com 27 anos, também ocupou cargo comissionado no governo estadual. Foram cinco anos nessa condição até que, em 2012, se desligou para disputar uma vaga na Câmara Municipal do Recife. Primo em segundo grau do governador, foi assessor da Secretaria Especial de Juventude e Emprego durante o primeiro mandato de Eduardo. Também trabalhou na gerência de redução de danos da Secretaria de Saúde.
SOTELO: USUFRUEM PRIVILÉGIOS QUE O CIDADÃO COMUM NÃO TEM
Nepotismo é uma palavra de origem latina. Vem de nepote +ismo.  Nepote, segundo o Dicionário Houaiss, significa: 1. sobrinho do sumo pontífice; 2. Conselheiro papal; 3, por extensão de sentido, indivíduo especialmente protegido ou predileto; favorito.
Tanto que, na Idade Média, nepotismo servia para denominar a autoridade que os sobrinhos ou netos do papa desempenhavam na administração eclesiástica. No serviço público, passou a ser sinônimo de favorecimento sistemático à família.
Nepotismo, explica o site do Ministério Público de Pernambuco, acontece quando parentes do agente público ou membro do poder são contratados para empregos temporários, cargos comissionados ou colocados em função gratificada apenas por causa do laço de parentesco.
O secretário de Comunicação de Pernambuco, relembramos, nega nepotismo na gestão Eduardo Campos: “Não há um único caso de nomeação de servidor público em Pernambuco em desacordo com a legislação vigente no estado e no país”.
Evaldo Costa refere-se à lei estadual complementar 097/2007, aprovada pela Assembleia Legislativa e sancionada por Eduardo Campos.
Costa refere-se também ao decreto federal nº 7.203, de 4 de junho de 2010, assinado pelo então presidente Lula  (clique AQUI para ler sobre as leis que vedam o nepotismo nos órgãos públicos).
A despeito de ambas, há ainda a 13ª Súmula Vinculante do Supremo Tribunal Federal (STF), que veda o nepotismo nos Três Poderes, no âmbito da União, dos estados e municípios.
“A lei estadual, a federal e a Súmula 13 do STF consideram nepotismo a contratação de parentes até terceiro grau”, esclarece o advogado Vladimir Rossi Lourenço, ex-vice-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, a OAB Nacional. “O nepotismo abrange os parentes em linha reta (avós-netos) quanto colateral (tios-sobrinhos), até terceiro grau e afins: sogra, sogro, cunhado, cunhada.”
Trocando em miúdos. É considerado nepotismo o político contratar:
* Esposo ou esposa
* Filho (a), neto(a) e bisneto(a)
*Pai, mãe, avô, avó, bisavô e bisavó
*Irmão, irmã, tio(a) e sobrinho(a)
*Parentes da esposa ou esposo: pai, mãe, avô, avó, bisavô, bisavó, filho(a), neto(a), bisneto(a), tio (a), irmão, irmã, sobrinho(a)
* Cônjuge do filho (a), neto(a) e bisneto(a)
* Cônjuge do tio (a), irmão, irmã e sobrinho(a)
A legislação pernambucana, especificamente, prevê excepcionalidades no parágrafo único do artigo 1.
Ficam excepcionadas as nomeações ou designações de servidores públicos ativos ou inativos, que exerçam ou exerceram cargos de provimento efetivo, no âmbito da Administração Pública federal, estadual ou municipal, observada a compatibilidade do grau de escolaridade exigido para o cargo de origem e a qualificação do servidor com a complexidade inerente ao cargo em comissão ou função a ser exercida, vedada em qualquer caso, a subordinação direta ao agente determinante da incompatibilidade.
“A lei pernambucana admite a possibilidade de contratação de parentes concursados, efetivos no serviço público e que atendam às exigências de escolaridade”, avalia Lourenço. “Por exemplo, não é possível nomear um parente que passou em concurso para merendeira de escola pública (nível básico) para um cargo em comissão que exija nível superior, mesmo que tenha grau universitário.”
O jurista Márcio Sotelo Felippe, ex-procurador do Estado de São Paulo, aponta três problemas:
Primeiro, as excepcionalidades da lei pernambucana estão em desacordo com a Súmula Vinculante 13, do STF, que não as prevê. A incompatibilidade com a Súmula é frontal. Aliás, o decreto federal 7.203/10, do governo Lula, sofre da mesma inconstitucionalidade.
Segundo, essas excepcionalidades abrem uma porteira para a nomeação de servidores parentes das autoridades para postos com remuneração maior do que as que têm nos cargos de origem.
Terceiro, abrem também caminho para a nomeação de servidores aposentados, parentes das autoridades, que não têm mais nenhum vínculo com a administração pública.
“Embora se possa discutir qual o exato efeito da súmula vinculante diante da lei estadual, o fato é que a súmula expressa a posição do Supremo, por isso é  preciso que isso seja levado ao STF”, diz Sotelo. “Tanto a lei pernambucana quanto o decreto federal violam o princípio  da razoabilidade, ou seja, do bom senso. A pretexto de proibir o nepotismo, podem acabar consolidando a prática. Parece gozação. Fecha uma porta e escancara outra.”
– E contratar primos e primas não é nepotismo? – alguns devem estar questionando, uma vez que não estão listados na relação que postamos um pouco acima.
O advogado Vladimir Rossi Lourenço, que foi quem levou esse debate para a OAB Nacional, responde:
“Pela lei contratar primos, independentemente do grau, não é nepotismo. Porém, não é ético nem moral. O fato de a lei limitar a relação de parentesco até o terceiro grau não implica porta aberta para a contratação de primos e a prática do nepotismo”.
Atualmente, sete primos  – antes eram nove – ocupam cargos na administração estadual de Pernambuco, além de, pelo menos, mais dois sobrinhos, uma tia, o sogro, uma cunhada e um ex-cunhado. Não estão incluídos aí os dois tios e a mãe do governador que estão em postos na administração federal.
Será que essas pessoas seriam contratadas se não fossem parentes de Eduardo e Renata Campos?
O fato de serem parentes não lhes facilitou de alguma forma o acesso a esses postos?
“Se a Súmula 13, do STF, fosse observada em sua lógica e espírito, vários familiares do governador Eduardo Campos até terceiro grau não poderiam estar nesses cargos”", observa Sotelo. “As suas nomeações podem até estar dentro da lei pernambucana, mas usufruem privilégios que o cidadão comum não tem”.

(Publicado originalmente no site Viomundo)