pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO
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quarta-feira, 14 de dezembro de 2011



O XADREZ POLÍTICO DAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS DO RECIFE EM 2012. Afinal, ninguém se apresentou para colocar o guizo no pescoço do gato. João da Costa é o candidato do PT à reeleição. 

  

José Luiz Gomes escreve:

                                   A expressão vem se tornando chichê de marqueteiro, mas corresponde à realidade dos fatos. As pesquisas sempre representam uma fotografia do momento, em alguns casos, podendo indicar tendências que, também, em função do tempo, podem ou não se confirmarem. Outro dado é que cada político interpreta a pesquisa de acordo com suas conveniências. A pesquisa do Instituto Exatta, publicada pelo jornal Folha de Pernambuco, por exemplo, aponta uma variação, em cenários distintos, entre 3% e 10% para o provável candidato do PSDB, Daniel Coelho. Suas pupilas só enxergaram os 10%, festejando esse índice.

                                   Apesar do entusiasmo do Secretário de Turismo da Prefeitura do Recife, André Campos, com os resultados apresentados pela última rodada de pesquisas realizadas pelo Instituto, onde o atual prefeito, João da Costa, desponta com índices oscilando entre 25% e 30% das intenções de votos, convém manter uma certa cautela, sobretudo em função de alguns indicadores apresentados pela mesma pesquisa. A avaliação do prefeito João da Costa caiu 05 pontos percentuais em relação à última pesquisa, de 45% para 40%, além de apontar que o chefe do Executivo Municipal sofre uma rejeição em torno de 40% do eleitorado.

                                    Uma taxa de rejeição alta constitui-se num dos maiores complicadores numa eleição. Nas eleições paulistas, por exemplo, o recall de Serra é sempre apresentado como um dos grandes trunfos tucanos. A última pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha, no entanto, aponta uma rejeição superior a 30% para Serra, com 49% dos eleitores afirmando que não votariam de jeito nenhum num candidato indicando pelo atual prefeito, Gilberto Kassab, seu afilhado político, a quem declarou apoio incondicional. Netinho e Russomano partem ambos com índices em torno de 20% das intenções de voto, mas não teriam “fôlego ético” para chegar ao final da corrida.  

                                    Entrando no páreo como um azarão, o candidato de Luiz Inácio Lula da Silva, Fernando Haddad, que aparece com 4% das intenções de voto, de repente, pode surpreender. Apesar de novato nas urnas, seu índice de rejeição é bem menor e conta com um padrinho que, aparentemente, pode sim transferir prestígio. 48% dos paulistas ouvidos pelo Datafolha declararam que estão dispostos a votarem num candidato indicado por Lula.

                                   Em sua fala ao jornal de Folha de Pernambuco, André chega a afirmar que João da Costa terá o apoio de Lula e do governador Eduardo Campos. É preciso lembrar a André Campos, que se tornou idéia fixa de Lula derrotar o PSDB em São Paulo, onde deverá concentrar todos os seus esforços em 2012. Lula já tem um time de jovens políticos para coordenar naquela região, de olho no Palácio Bandeirante em 2014, eleição para qual deverá puxar outra carta da manga. Se tudo der certo, materializa-se o sonho petista de desbancar o PSDB do seu ninho mais emplumado. Fragilizado pela doença, temos dúvidas sobre as reedições das caravanas, sobretudo em ambientes tão carregados como o nosso. Dilma já afirmou que não entrará em bola dividida, embora Recife figure entre as capitais prioritárias para o Partido dos Trabalhadores.

                                   Eduardo Campos, por sua vez, encontra-se numa situação bastante confortável, o que lhes permite acompanhar o desenrolar das eleições recifenses de camarote. Pode emprestar um apoio informal à candidatura petista – seja lá qual for o João escolhido, possivelmente o da Costa-; alimentar o gato clorofilado tucano com algumas pescadas amarelas palacianas, em função da aliança branca com Sérgio Guerra; manter em banho-maria a candidatura do Ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho – no momento mais preocupado com a paralisação das obras de transposição do Rio São Francisco -, e ainda conta com um reserva de luxo, pronto para entrar em campo, no Palácio do Campo das Princesas: Maurício Rands,  um petista amarelado, mais confiável aos seus planos. 

                                   Há uma fábula de Jean de La Fontaine onde relata-se que, em assembléia, os ratos decidem colocar um guizo no pescoço do gato para avisar de sua presença, evitando, assim, serem pegos de surpresa pelo seu maior inimigo. Um rato mais velho, experiente, que acompanhou toda a assembléia em silêncio, pede a palavra para fazer uma pergunta que se tornaria célebre, muitas vezes invocada pelo deputado Ulisses Guimarães, sempre que submetido a situações difíceis de serem equacionadas durante a Constituinte: quem vai por o guizo no pescoço do gato?

                                   É esta a situação em que se apresenta o quadro sucessório recifense, mais precisamente no contexto da Frente Popular, cujos assembleístas  já chegaram à conclusão sobre as dificuldades de reeleição do prefeito João da Costa – apesar do otimismo de alguns com a sua performance nas pesquisas -  mas ainda é preciso definir quem reuniria as condições ideais de colocar o guizo no pescoço do gato, informando-o sobre o teto de zinco quente e escorregadio que ele terá que percorrer, com um sério risco de despencar do telhado. Também precisam informar que, caso decida fazer o trajeto, muitos não o acompanhariam nesta aventura, encerrando melancolicamente o ciclo petista na gestão da cidade do Recife.

                                   Sejam lá quais forem os resultados das urnas – afinal João da Costa ainda conta com a máquina, algo nada desprezível numa campanha – sua gestão entornou o caldo do ponto de vista político e administrativo. Tentou se desprender da herança de João Paulo e o seu modo petista de governar e se perdeu na tentativa de imprimir uma marca própria. As diversas mudanças ocorridas na imagem institucional da sua gestão à frente da Prefeitura da Cidade do Recife dão a dimensão de um problema concreto: Ou não se tinha o que mostrar ou o que foi feito se mostrou insuficiente diante das demandas da população.    

                                   O colunista Ricardo Noblat, que teria iniciado sua carreira no Jornal do Commércio, comentou com o deputado federal João Paulo que, durante encontro ocorrido num restaurante, em Brasília, teria ouvido da eminência parda José Dirceu a afirmação de que ele seria o candidato do Partido dos Trabalhadores no Recife. A condição seria ele manter-se calado, algo que contradiz com o temperamento do ex-prefeito. Na medida em que as “flores do recesso” estão sendo colhidas, o quadro sucessório no Recife vai ficando cada dia mais complicado no contexto da Frente Popular, alimentando as expectativas e as “costuras mitigadas”, ou seja, envolvendo setores situacionistas e da oposição, como uma possível aproximação entre o deputado Sílvio Costa Filho e Raul Jungmann, conforme especulam os jornais de hoje.  

                                   Neste aspecto, o silêncio não é um dos atributos de João Paulo, que vem se pronunciando de maneira contundente sobre os temas envolvendo a sucessão no Recife, participando ativamente dos debates sobre mobilidade urbana, um tema fulcral das eleições de 2012.  Às vezes,  temos dúvidas sobre o discurso do ator político João Paulo, sobretudo considerando-se o ambiente onde ele é pronunciado. No Programa Ponto Final, por exemplo, afirmou categoricamente que o prefeito João da Costa terá grandes dificuldades de reeleição, podendo comprometer os projetos da Frente Popular. Argumenta João Paulo que o prefeito sofre uma grande rejeição entre setores da classe média e dificilmente construirá uma unidade em torno do seu nome. Uma avaliação corretíssima. Com os integrantes da Comissão Eleitoral do PT, a impressão que passa é que João Paulo declara-se impedido quando questionado sobre o assunto. Do contrário, o que explica o fato de o PT nacional está endossando essa aventura do matuto que tomou água de barreira?

                                   Por falar nos “Joões”, outra informação que a cúpula nacional petista precisa saber é que, dificilmente, poderão celebrar uma união entre eles. João Paulo ficou bastante magoado com a tese levantada pelo prefeito para o afastamento entre ambos. Nos estúdios da TV Jornal, durante o intervalo da gravação de um programa, ficaram ambos bunda com bunda. Até onde se sabe, bunda com bunda não celebra acordo.  O senador Armando Monteiro, presidente do PTB, também abandonou as coxias sobre o assunto, vindo à boca do palco para pronunciar-se a respeito do tema. O PTB foi o primeiro partido da Frente Popular a deixar a administração do prefeito João da Costa. Desde então, as relações apenas se complicaram, tornando-se difícil, se não inviável, uma reaproximação entre o PTB e o prefeito.

                                   A rigor, o PTB não tem problema com o PT nem com João Paulo. Caso se viabilizasse uma candidatura de João Paulo pela Frente Popular, certamente o partido mandaria para o chuveiro mais cedo o jovem deputado estadual, Silvio Costa Filho, cuja candidatura vem se fortalecendo a cada dia. Outra hipótese é uma possível dobradinha, mas isso precisaria ser previamente acertado com o governador, agravando ainda mais os problemas na Frente.

                                   Na hipótese do projeto de reeleição de João da Costa, certamente o PTB, nas circunstâncias atuais, não o acompanhará por observar na gestão do Recife problemas administrativos e políticos. O termo exato usado pelo senador Armando Monteiro é “insuficiência”.  O Partido dos Trabalhadores tem duas situações limites em capitais importantes para os projetos da agremiação: Fortaleza e Recife, onde os chefes do Executivo Municipal encontram problemas políticos e estão com suas gestões mal avaliadas pela população. Em conversas reservadas com Lula, em São Paulo, onde oficialmente teria ido para fazer uma visita, o senador Humberto Costa sinalizou com a possibilidade de Lula tentar sanar o imbróglio recifense, encontrando um acordo para unir os dois “Joões”, sob pena de colocar em risco a hegemonia petista no Palácio Antonio Farias. Voltamos a insistir: Lula está muito preocupado com quadro político em São Paulo, tornando-se difícil envolver-se na briga dos “Joões”.     

                                   Embora João da Costa mostre-se receptivo à idéia, sobretudo por conhecer o potencial eleitoral de João Paulo, este se mostra bastante reticente, já tendo descartado a hipótese. A indisposição entre ambos saiu do campo político e entrou para a seara pessoal, deixando João Paulo bastante magoado com a declaração do prefeito de que ele queria continuar mandando na Prefeitura.

                                   Entremeado por um período nebuloso em que dirigentes da agremiação, caso de Rui Falcão, andaram afirmando que a situação no Recife ainda não estava definida, mais recentemente os dirigentes petistas passaram, então, a considerar como legítimo o pleito a reeleição do matuto que tomou água de barreira. Em sua última fala, pareceu-nos muito mais preocupado em atingir o PSB, Rochinha criticou a postura do partido de Eduardo Campos em provocar o lançamento de uma candidatura na capital pernambucana, colocando em risco a unidade da Frente Popular.

                                   Por outro lado, também não se pode supor o alheiamento dos dirigentes da agremiação sobre o cinzento quadro eleitoral atualmente vivido pelo chefe do Executivo Municipal. A questão é: quem vai colocar o guizo no pescoço do gato? João da Costa, embora fragilizado, agrega em torno de si as principais correntes petistas no Estado, todas com assento no Palácio Antonio Farias. Logo após o afastamento do PTB do governo municipal, promoveu uma reforma administrativa contemporizando uma penca de partidos menores, formando uma coalizão de Governo cuja descontinuidade certamente provocaria alguns problemas.
           

                                   Em São Paulo, Lula conseguiu dirimir um conflito que poderia ser administrado pelos dispositivos naturais das vias democráticas, impondo o nome do Ministro Fernando Haddad como candidato do partido para as eleições de 2012. O “efeito Marta”, como ficaria conhecido, poderia ser aplicado no Recife? A situação de São Paulo é bastante peculiar. Lula está colocando um novato no pleito, sem nenhuma experiência eleitoral, apenas com o seu prestígio, ancorado em teses exaustivamente discutidas no nosso blog, como um candidato de "cara nova", com perfil ideológico do centro para a esquerda. 

                                   No caso do Recife, o quadro é bastante distinto. Nós temos um gestor aferrado à cadeira de prefeito, com o monte de séquitos que desejam a continuidade da gestão em razão de suas acomodações no Palácio Antonio Farias, contemporizando a maré alta do Capibaribe nos finais da tarde, rodeados de frondosos manguezais. Outro dia até comentava pelo blog que uma das maneiras de tirar o matuto da cadeira é através dos mecanismos da democracia, o mais saudável, portanto. Se o PT não encontrou uma solução para o assunto, então, melhor que o eleitorado do Recife decida quem vai colocar o guizo no pescoço do gato.

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