Um bom enxadrista passa horas e horas examinando o tabuleiro
para decidir sobre uma jogada que encurrale o adversário ou impeça a primazia
ou vantagens de seus movimentos. Uma jogada mal calculado tanto pode prejudicar
o jogador que tomou a iniciativa, como acordar o adversário sobre suas possíveis
manobras, levando-o a tomar medidas preventivas, prevenindo-se contra eventuais
investidas. Em outras palavras, uma jogada mal calculada pode trazer algumas conseqüências
imediatas e, pior, “entregar o jogo” ao adversário. Em muitas rodas políticas
começam a surgir especulações sobre os últimos movimentos do governador Eduardo
Campos, sugerindo que talvez houvesse aí algum ingrediente de açodamento e precipitação.
Se não, vejamos: a) Não se sabe se a presidente Dilma teria ficado
rigorosamente convencida sobre os seus argumentos em razão das rusgas criadas
com o PT. Eduardo Campos tentou convencê-la de que o PSB estaria bem mais
próximo do seu projeto de reeleição do que alguns setores do próprio PT. Dilma,
que vive às turras com o PT paulista, em certa medida, pode até ter concordado
com o governador pernambucano. Teria ouvida da presidente a promessa de um
possível não envolvimento pessoal nas eleições recifenses. Logo em seguida, a
presidente Dilma concedeu uma audiência ao senador Humberto Costa, reafirmando
a sua disposição em participar do pleito no Recife, fato bastante comemorado
pelos petistas. b) Em encontro mantido com os caciques da legenda, Recife – que
sempre foi prioridade para o partido – mesmo diante das circunstâncias
particulares que envolvem as eleições em Belo Horizonte e São Paulo – foi posta
como prioridade das prioridades. Apesar da largada acanhada de Geraldo Júlio –
não se enganem – Recife terá uma das eleições mais polarizadas e acirradas. A
tendência natural é que Geraldo Júlio equilibre o jogo daqui para frente. Caso
o candidato do governador seja derrotado pelo PT, não há dúvida de que Eduardo
acusará o choque. Sairá chamuscado do episódio, turvando, em certa medida, seus
projetos presidenciais. c) O PMDB – apesar de uma possível articulação com o
PSB no plano nacional – bate uma cravo e outra na ferradura. As raposas da
legenda manobram com os diversos cenários possíveis, sendo um deles repetir a
dobradinha das últimas eleições, ou seja, PT-PMDB. A demasiada “autonomia” de
Eduardo reacendeu na legenda a preocupação em perder a prevalência junto a
presidente. Matreiros, começaram a trabalhar em duas frentes: garantir os
espaços de sua invejável e desejável musculatura política e, numa outra frente, chegar mais cedo ao Planalto para
não aborrecer a presidente, como ocorreu até recentemente, quando Dilma
convocou Michel Temer para pedir sua ajuda para contornar o impasse das
eleições mineiras. Temer, numa resposta rápida, retirou a candidatura do PMDB,
dando uma prova de lealdade a presidente. d) O próprio Temer, em entrevista
recente ao jornal Folha de São Paulo, em tom inigmático, chegou a insinuar
alguns possíveis recados. Numa dessas mensagens cifradas endereçadas ao governardor de Pernambuco,
teria usado a expressão: apressado come cru. e) Os jornais de hoje trazem a notícia de uma grande devassa em curso nos Ministérios ligados ao PSB, ou seja, Integração Nacional e, ainda mais preocupante, no Ministério da Ciência e Tecnologia, na época em que aquela pasta foi ocupada pelo hoje governador, Eduardo Campos. Comenta-se que a manobra teria o dedo de José Dirceu. Pay attention, Eduardo!!!
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