Conheci o professor Durval Muniz quando ele esteve na Fundação Joaquim Nabuco para receber o prêmio Nelson Chaves, conquistado pelo seu livro A Invenção do Nordeste. Depois disso, alguns encontros nos cursos de especializações organizados na região. A Invenção do Nordeste é um livro "decepcionante". Menino forjado num imaginário constituído pelos romances de José Lins do Rego - discípulo de Gilberto Freyre - o livro de Durval, ao contrapor-se à construção de um imaginário imagético-discursivo sobre a região, causa um impacto inicial em quem o ler. Em certa medida, todos nós - inclusive o próprio Durval, possivelmente antes de ler Foucault - somos do nordeste do alpendre, da cocada, das arribaçãs, do carro de boi, do umbu, do bode, do Alto do Moura, do Engenho Corredor, do Rio Paraíba, das castanhas de caju, do licor de pitanga, dos canaviais, das mulatas de bunda de tanajuras, dos verdes anos no eito. Quando Durval começa a desconstruir essa "imagem", apresentando-a apenas como um discurso construído ao longo de décadas, imbuído de interesses estratégicos em jogo, o livro, neste sentido, nos causa uma grande "decepção". Ao mesmo tempo em que nos causa uma grande "decepção", o livro nos desvela o engendramento "montado", inclusive com o apoio da academia, para a invenção de uma região, o Nordeste. Trata-se de um livro de "fôlego". Durval deve ter lido centenas de livros sobre o assunto, além de ter realizado pesquisas em inúmeras instituições. Algo que penso ser curioso e nunca tive oportunidade de perguntá-lo é porque ele não menciona, em sua bibliografia, o Museu do Homem do Nordeste, embora a Fundação Joaquim Nabuco - como não poderia deixar de ser - tenha sido uma das instituições investigadas. Durval, depois de ter sido merecidamente outorgado com o prêmio Nelson Chaves, voltou à Fundaj para realizar algumas palestras, além de compor comissão para repensar a exposição do Museu do Homem do Nordeste. O livro de Durval tornou-se um clássico e a sua edição em inglês deve sair em setembro, motivo de orgulho para o mestre e sua legião de admiradores, nos quais nos incluímos. Ficamos aqui torcendo que o livro conquiste tantas edições internacionais quanto Casa Grade & Senzala, do sociólogo Gilberto Freyre, um dos principais responsáveis pela "invenção" do Nordeste. Muito menos pelo seu livro clássico, mas por uma série de ações, discursos, orientações e criações, caso da própria Fundação Joaquim Nabuco, um templo de perpetuação das idéias do sociólogo do Solar de Apipucos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário