pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Editorial: O linchamento de Lula
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quarta-feira, 15 de março de 2017

Editorial: O linchamento de Lula


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No dia de ontem, 14, Lula compareceu a 10º Vara de Justiça, em Brasília, onde prestou depoimento num processo que responde por suposta tentativa de obstrução das investigações da Operação Lava Jato, denúncia gerada a partir da delação premiada do ex-senador Delcídio do Amaral, que o acusa de tentar comprar o silêncio de Nestor Cerveró, ex-presidente da estatal Petrobras. Lula, em seu depoimento, depois de negar as acusações contra ele, externou ao juiz suas apreensões em torno de uma eventual prisão, massacrado que é sistematicamente por setores da mídia, acusando-o disso e daquilo, numa especie de "torcida" por uma prisão iminente do ex-Presidente da República. Nesta torcida estão não apenas setores da mídia, mas até um delegado da Polícia Federal que antecipou uma provável prisão do líder petista para os próximos meses. Sem falar, naturalmente, naquela legião de "coxinhas" espalhados por todo o Brasil. 

Até recentemente, li um artigo onde o autor enfatiza a distinção de tratamento dada pela justiça aos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso. Sua referência é aquele juiz do Paraná, que, segundo o autor, esmerou-se na oitiva concedida por Fernando Henrique Cardoso, na Justiça Federal do Paraná, na mesma proporção em que trata Lula com o desprezo de um futuro condenado. Não vamos aqui entrar no mérito das afinidades políticas, até porque não é esta a ênfase da observação do autor do artigo. Sua ênfase está relacionada à questão de classe. FHC foi, de berço, um homem da Casa Grande. Lula apenas um ex-sindicalista, de origem pobre, que negociou com a elite a possibilidade de tornar-se Presidente da República. É mais ou menos aquela mesma distinção entre os ricos de origem e os emergentes, que podem amealhar dinheiro, mas não terão como esconder suas origens - ou capital simbólico - relevada nos mais ínfimos detalhes. Podem até ter um equipamento de som ultramoderno, como lembrava Collor de Mello numa das campanhas presidenciais, mas suas preferências musicais recaem sobre um Tayroni ou Waldick Soriano. 

Lula costuma usar muito essas analogias, que se constituem num dos pontos fortes de sua comunicação com as massas. De acordo com a imprensa, mesmo nervoso, abusou dessas analogias durante a sua ouvida naquela Corte, como no momento em que o juiz teria perguntado sobre a a sua profissão e ele enfatizou sua condição de "torneiro mecânico". Num outro momento, afirmou que que o seu maior patrimônio é a defesa de sua honra, pois deseja andar de cabeça erguida, uma tarefa natural para a elite, mas um esforço imenso para quem vem de baixo e não aceitou a cangalha. Minha previsão é a de que Lula, em algum momento, será condenado. Isso parece fazer parte do script golpista. A engrenagem mói nesse sentido. Uma consequência menor, se a elite considerar mais prudente, talvez seja a sua inelegibilidade. 

Ele já se movimenta como candidato. De acordo com um jornalista aqui de Pernambuco, em encontro recente com a comunista Luciana Santos(PCdoB), ele teria confirmado a intenção de candidatar-se nas eleições de 2018. Há quem afirme tratar-se apenas de uma estratégia no sentido de ajudá-lo em sua defesa. Sua condição de potencial candidato pesaria sobre o seu julgamento. Ele deixaria de ser apenas um ex-presidente que pendurou a chuteira. Isso, de fato, tem um peso. Numa declaração recente, a "governabilidade" voltou a ser invocada por ocasião do julgamento das contas de campanha da chapa Dilma/Temer no TSE. Circunstâncias políticas já são naturalmente complicadas e, circunstâncias políticas de caráter golpista, então...Se, de fato, confirmar sua candidatura, o ex-presidente terá grandes obstáculos a remover pela frente. Além de livrar-se de uma encrenca jurídica de 05 processos movidos contra ele, terá que superar entre o eleitorado o "estigma" habilmente construído contra ele pelo mídia conservadora, que montou contra o ex-presidente uma espécie de programa intensivo de linchamento de reputação. Não preciso aqui discutir as consequências dessas urdiduras.  

Soma-se a isso a contingência de estarmos presenciando - aqui e alhures - a ascendência de atores e partidos políticos conservadores, de direita. Se noutros tempos a sua preocupação seria com os tucanos, hoje quem aparece no seu retrovisor  são candidatos como Jair Bolsonaro. Quando este cidadão vem aqui ao Recife é efusivamente ovacionado no Aeroporto dos Guararapes e por onde circula, acompanhado por uma trupe de seguidores ensandecidos, em sua maioria jovens. Quando ele ainda aparecia na rabeira das pesquisas de intenção de voto, já se sabia que o cenário poderia mudar em seu favor, como, de fato, vem ocorrendo. Estamos num ambiente político global que o favorece, conforme explicitamos. Alguém lembrou que os problemas econômicos, trazendo no seu bojo o desemprego estrutural, uma recessão braba, a erosão de direitos poderiam levar os eleitores a sentirem saudades "daqueles tempos". Convém não esquecer, entretanto, que o atual governo, com o apoio de uma poderosa mídia, responsabiliza o PT por essas mazelas. 

O PT, por sua vez, é um partido que encontra-se bastante fragilizado, para quem se coloca a necessidade premente de reinventar-se. Uma saída pelo esquerda não é tão simples, posto que as pontes nunca foram bem construídas. Nem quando o PT era governo. Uma boa dimensão dessas dificuldades pode ser traduzida numa declaração recente do Deputado Federal Chico Alencar(PSOL), em entrevista concedida a uma rádio aqui do Recife, onde afirmou que o partido terá candidatura própria nas próximas eleições presidenciais. E, uma rearticulação política via hostes conservadoras - numa malograda reedição da famosa conciliação de classe - não recomendaria nem ao mais enrustido eleitor ideológico do partido, pois até ele sabe aonde isso levou: depois de uma pseudo lua-de-mel, uma retomada do poder por estas forças conservadoras, que não pretendem entregá-lo de volta - dividi-lo seria um termo mais apropriado - com os petistas de jeito nenhum. É neste cenário extremamente desfavorável que Lula pretende lançar-se à cena política, mais uma vez, disputando as eleições presidenciais de 2018. 

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