pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Editorial: O tiro no pé dos tucanos.
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sexta-feira, 3 de março de 2017

Editorial: O tiro no pé dos tucanos.


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É certo que o PSDB nunca se conformou com os resultados das eleições presidenciais de 2014. Perderam nas urnas, ganharam no tapetão, através do apoio explícito às urdiduras golpistas que culminaram com o afastamento da presidente Dilma Rousseff da Presidência da República. Num intricado arranjo político, engoliram Michel Temer(PMDB), mas sempre na perspectiva de que ele cumpra um mandato de transição e abra as portas do Palácio do Planalto para novos inquilinos. Quando essas negociações golpistas com o PMDB ainda não estavam entabuladas, os tucanos entraram com uma ação na Justiça Eleitoral alegando irregularidades de campanha na chapa Dilma/Temer, irregularidades, segundo eles, suficiente para anular a eleição de ambos, o que implicaria na entrega do poder ao hoje senador Aécio Neves(PSDB). Com um profundo conhecimento dos estertores da política brasileira,  ficamos sem entender muito bem como o senador Aécio Neves (PSDB) concordou com esta sandice. A julgar pelo andar da carruagem política, ele deve estar profundamente arrependido. 

Confesso que gostaríamos de saber, igualmente, a reação da cúpula tucana ao depoimento prestado pelo empreiteiro Marcelo Odebrecht no dia de ontem. Passada as refregas daquele pleito, golpe institucional em processo de consolidação, quais eram, de fato, as expectativas do tucano em relação a este depoimento. As nuvens políticas hoje se apresentam com um outro formato, para lembrar da raposa mineira Magalhães Pinto. Dilma Rousseff hoje se dedica a cuidar dos netos e Michel Temer encontra-se encastelado no Palácio do Planalto, guindado ao cargo através de um expediente político que se sabe pouco republicano e, portanto, menos susceptível às filigranas legais. A cena política brasileira, como observou o jornalista Josias de Souza,do UOL, hoje encontra-se profundamente conspurcada por uma dinâmica eminentemente corrupta, envolve até mesmo antes próceres propositores da ética na política, como o PT. Um dos graves equívocos do PT foi ter sucumbido à corrupção estrutural do nosso campo político. 

O depoimento de Marcelo Odebrecht é mais um daqueles depoimentos que traz alguns elementos trágicos, mas didático, quando se trata do processo apodrecido do nosso sistema político. A construtora mantinha um departamento de propina, com executivos pagos para realizarem essas operações como o campo político. Centenas de políticos estavam em suas listas, assim como dezenas de partidos políticos, todos devidamente "apelidados" para dificultar a identificação. Caju, Acarajé, Viagra... um acervo inestimável para os nossos novos folcloristas. Fico a imaginar como esses executivos eram avaliados em suas funções. Pela capacidade de cooptarem políticos no sentido de viabilizarem os grandes projetos da empreiteira? Possivelmente sim, uma vez que o tal "Departamento de Propina" movimentava verbas fabulosas. Somente nas eleições de 2014, a empreiteira teria disponibilizado o montante de R$ 200 milhões para serem distribuídos entre os políticos e partidos. Por dentro e por fora. 

Não creio que a imagem da ex-presidente Dilma Rousseff saia chamuscada depois do depoimento do empreiteiro Marcelo Odebrecht. A grande mídia andou divulgando outras versões - já desmentidas pela assessoria da ex-presidente - mas o fato concreto é um alerta do Marcelo Odebrecht no sentido de avisar ao marqueteiro, os operadores e os candidatos Dilma Rousseff e Michel Temer sobre os riscos da operação de injeção de recursos por "fora", o que poderia acarretar problemas no futuro. O que se pode concluir diante dessas informações? que Dilma sabia. E quem não sabia? Nosso sistema político é um câncer em estágio de metástase, que subverte os princípios mais comezinhos do nosso fazer política.

Chamuscada mesmo - ainda mais - ficou a imagem do senador tucano Aécio Neves(PSDB), candidato à Presidência da República naquele pleito. O depoimento de Marcelo Odebrecht é bem mais robusto no sentido de comprometê-lo em negociações nebulosas com a empreiteira. Marcelo cita seu envolvimento direto nas articulações junto à empresa no sentido de arrecadar recursos - também por fora - para as suas campanhas e as campanhas dos seus afilhados políticos. Diz o ditado popular que macacos velhos não costumam por as mãos em cumbuca, pela imprecisão sobre o que poderão encontrar ali dentro. O PSDB não tomou alguns cuidados básicos, mesmo sabendo o que poderia encontrar na cumbuca. O senador Aécio Neves conhece muito bem como funciona essas engrenagens de financiamento de campanhas. Por que diabos, mesmo assim, tentou empacar a chapa Dilma/Temer, acusando-a de um delito que ele própria sabia ser tão comum. Comum ao ponto de respingar sobre ele?

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