Até recentemente, aqui em Pernambuco, a governadora Raquel Lyra(PSDB), através de uma portaria publicada no Diário Oficial do Estado, assinou a demissão de uma penca de servidores de cargos de confiança, todos eles indicados pelo PL. Comenta-se nos escaninhos da política local que nem os motoristas escaparam da degola. Embora os flertes da governadora ao Governo Lula tenham se consolidado nos últimos meses, neste caso em particular, esta não teria sido a motivação maior para ela se afastar do PL,de forma tão radical, um partido que, inclusive, contribuiu para a sua eleição ao Governo do Estado.
Como se sabe, a orientação nacional do partido é no sentido de que os tucanos permanecerão em cima do muro, com projeto de se tornarem uma terceira-via, como opção ao eleitorado antipetista e antibolsonarista. No caso dessas demissões, no entanto, pesou uma atitude concreta. A governadora não estava contando com os votos desse partido durante votações importantes na Assembléia Legislativa. Recordamos desse eposódio diante do impasse que atravessa o Governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sob uma crise de governabilidade, diante das refregas das ruas e do Legislativo, onde sofreu duas derrotas fragorosas recentemente.
Na realidade, a derrota não foi do Governo Lula, mas da sociedade brasileira, conforme enfatizamos por aqui. A nefasta experiência de um governo de corte protofacista mergulhou o país numa espiral de instabilidade institucional sem precedentes e consolidou uma agenda que se contrapõe ao respeito aos direitos humanos, assim como ao ordenamento constitucional. Isso é muito complicado. Outro dia o Ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski afirmou que o Estado de São Paulo teria autonomia, mas seria aconselhável que seguisse as normas federais que estão sendo definidas sobre o uso de câmaras nos uniformes dos policiais.
O danado é que o Estado mais importante da Federação está se configurando como uma trincheira de enfrentamento a essas políticas, esgarçando o emprego de uma agenda ultraliberal, com o apoio explícito de setores conservadores da sociedade, dos meios de comunicação e do empresariado da Faria Lima. Bordões como bandido bom é bandido morto ou privatizações a qualquer custo, pelo andar da carruagem política, nesses tempos bicudos, tem animado muita gente.
Para além dessas conjectutas, em termos práticos, hoje, o Governo Lula não reuniria as mesmas condições do Governo Raquel Lyra no uso da caneta para responder aos seus auxiliares que não seguem a orientação do Governo. Tornou-se refém, na medida em que existe uma autonomia para a movimemtação das emendas parlamentares sem a rubrica do Palácio do Planalto. Mesmo quando o Governo assina essas rubricas, as respostas são insatisfatórias, como se viu nessas últimas votações sobre as Fake News e a PEC da Saidinha. Sugere-se que os partidos que ocupam ministérios na Esplanada foram aqueles mais infiéis nessas últimas votações.
Ainda em termos práticos, instaurou-se uma crise no Governo Lula 3. O Governo tem três problemas imediatos a enfrentar. Em relação a dois deles haveria algum arranjo possível: Corrigir os equívocos na condução da articulação política e dotar a gestão de projetos e políticas públicas de alcance social efetivo, atingindo os diversos estratos sociais, o que talvez possa reverter a tendência renitente de desaprovação do Governo. Parece até um descalabro, mas há quem esteja sugerindo por aqui talvez um nome do Centrão para fezer essas articulações. A outra questão, sobre a guerra de narrativas acerca de uma agenda civilitória para o país, essa, infelizmente, não há muito o que se possa fazer.O momento é realmente muito difícil.
Os evangélicos, por exemplo, que vão aos presídios com suas pregações de vida eterna, de conversão de detentos, engrossaram as fileiras daqueles que impediram a aprovação de direitos humanitários para a população carcerária do país, a terceira população carcerária do mundo, mantida em verdadeiras masmorras, sem as condições mínimas de cumprirem suas penas em condições minimamente razoáveis. Tempos confusos, meus caros leitores.
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A política brasileira está doente.