pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO. : Roberto Numeriano responde ao PCB, qu o expulsou da agremiação.
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terça-feira, 9 de outubro de 2012

Roberto Numeriano responde ao PCB, qu o expulsou da agremiação.

 
"Eu já havia decidido sair das diretrizes, renunciar a condição de dirigente estadual. Não pretendia me desfiliar, apenas ficar numa posição mais discreta para militar por algumas mudanças dentro do partido."

"O partido está impedindo a construção do próprio partido, adotando uma interpretação integrista da tática. E isso eu combato veementemente. Até a discussão política no partido está sendo judicializada. Parece a Igreja Católica no tempo da Idade Média."

"Ninguém vê jovens militando pelo PCB. E isso não é porque comemos criancinhas", brincou. "É porque não fazemos o partido atraente. SWe o partido não mudar, não vai a lugar nenhum."

"Dentro do partido muitos ficam sonhando que, de uma hora para a outra, haverá uma revolução. Eles idealizam isso. Mas eles não veem que isso é antidialético", criticou. "O partido está ficando engessado, como o PSTU. E esse modelo de partido é perigoso para a democracia."

Nesta terça-feira (9), Numeriano emitiu uma nota pública explicando seu posicionamento diante do caso. Veja a íntegra da nota.

Já é fato público que o Partido Comunista Brasileiro (PCB) me expulsou no dia 7, mal foi aberta a apuração dos votos, no Recife. Na Nota Pública colocada no site do Partido, registraram até o horário da postagem: 17h. A Nota segue abaixo, para quem a desconhece. Mas é necessário que me defenda, até porque o texto mente, em alguns pontos, e noutros escreve meias verdades (que é uma forma requintada de mentir).

Antes de tudo, eu já havia comunicado oficialmente ao PCB, por meio de email enviado a três dirigentes a pelo menos dois meses, que no dia 08 de outubro renunciaria formalmente aos cargos diretivos do Partido nas três instâncias (Secretário de Organização no Recife, Secretário Estadual de Finanças, licenciado, e membro do Comitê Central). Na mesma ocasião, pedi que não mais me enviassem correspondências do Comitê Central, pois não julgava honesto, politicamente, tomar conhecimento de assuntos internos restritos, dado o fato de ter decidido renunciar. Também registrei que continuaria filiado ao Partido.

Assim decidi porque ocorreram fatos, nesta campanha, dos quais discordei politicamente. Um deles é público, pois diz respeito ao meu apoio à candidatura do ex-militante Luciano Morais, também recentemente expulso por se manter candidato a vereador em Paulista, após o PSDB ter declarado apoio à chapa majoritária de Sérgio Leite. Mas a causa foi anterior, embora com substância política semelhante, e envolveu a candidatura de Edvalmir Carteiro, em Timbaúba. Edvalmir, que tinha grande chance de ser eleito numa chapa proporcional, foi obrigado a sair da mesma porque à ultima hora, por força da legislação eleitoral que impõe a cota de mulheres nas chapas proporcionais, uma professora aposentada, filiada ao PSDB, foi chamada para compor. Edvalmir saiu candidato isoladamente. E perdeu.

Minha resistência a estes fatos decorreu de algo anterior, que venho observando na cúpula dirigente do Partido: o progressivo fechamento político-ideológico do diálogo democrático interno. E o maior exemplo disso é uma interpretação que chamo de mecanicista e integrista (ultra-radical) da sua tática política. Nunca defendi, é claro, alianças com partidos de direita, mas não podemos ser vítimas desses partidos quando, numa composição eleitoral, por motivos extemporâneos e alheios a nós, arranjos de última hora e contingências de legislação impõem fatos como o que descrevi. Não houve culpa dessas duas municipais do Partido, pois em ambos os casos suas direções respaldaram o processo. A partir da decisão contrária da Comissão Política Nacional, os dois candidatos foram obrigados a tomarem outro rumo.

Do ponto de vista formal (e segundo a legislação eleitoral) o PCB tinha todo o direito de nos punir. E assim fez. Expulsou o Luciano por desobediência e a mim pelo apoio ao que julgo melhor para a luta política e social do Partido. Sabia dos riscos que corria. Exerci o direito de discordar, mas, nos últimos tempos, o dirigismo de cúpula no Partido imagina ser possível resolver e zerar por meio de "canetadas" em resoluções, circulares, normas etc o livre exercício do contraditório. Alegam que descumpri princípios do "Centralismo Democrático" (CD). Formalmente, sim, mas não politicamente, pois não existe sequer a possibilidade da dialética sem a possibilidade de transigir. Essa cúpula ultra-radical (CPN) e maioria do Comitê Central imagina que o debate político-ideológico deve ser moldado por tribunas em tempos de congresso, conferências etc. Por isso mesmo, radicalizou na aplicação do CD. Foi fiel, não por acaso, à interpretação integrista da tática.

E agora passo a responder a essa Nota que, redigida e divulgada com a sanha de me "desonrar" politicamente, a rigor expôs o Partido de maneira vergonhosa. (Talvez nem fosse redigida se as intenções de voto para o "camarada" Numeriano apontassem a possibilidade do mesmo disputar um segundo turno). Na prática, essa Nota comprovou o que venho observando e sentindo politicamente.

Há tempos observo esse engessamento do Partido. Uma lenta e progressiva estreiteza político-ideológica que aos poucos, se a militância de base não reagir, vai transformá-lo numa seita política, a exemplo do que é hoje o PSTU. Quis resistir a esse processo. Jamais recusei uma tarefa a mim delegada, como militante. Sobretudo nos últimos quatro anos, quando, com grande sacrifício intelectual, profissional e familiar, tratei, ao lado Luciano e do Aníbal, de recuperar a ação política e a organização política do Partido no Estado. Disputei três eleições majoritárias consecutivas com duas ou três pessoas ao meu lado. Nunca fiz "corpo mole", mesmo porque, como servidor público, jamais me permitiria "fazer" de conta que sou candidato, pois meu salário é pago com o salário do contribuinte e deve ser honrado. Levo isso muito a sério e é por isso que, em 18 anos de serviço público, faltei ao trabalho apenas nove vezes, por doença atestada (crise de labirintite).

A CPN mente quando afirma que o Partido teve "suficientes motivos" para me substituir por outro camarada. Não podia, porque não havia razão política respaldada (mesmo na "lei burguesa", a qual essa direção integrista e ultra-radical vive tanto a destratar, mas logo quer se valer dela quando é questionada politicamente). Apoiei publicamente o Luciano Morais e postei no meu facebook pessoal algumas fotos da campanha de Sérgio Leite, do PT, a prefeito do Paulista. Em essência, foi esse o motivo "suficiente" para retirar a candidatura. Esse extremismo me assusta, como me chocou a ação de militantes do PCB em Paulista indo às casas comunicar que o Luciano tinha sido expulso do PCB.

A CPN mente quando diz que não o fez para não "prejudicar as importantes campanhas" dos militantes Délio e Elvira. Mente porque, a rigor, não havia campanha nas ruas. Com grande sacrifício pessoal, esse grande comunista e intelectual que tenho a honra de conhecer, meu camarada Délio Mendes, fazia uma bela campanha simbólica, e a Elvira somente no final da disputa imprimiu alguns panfletos (na campanha inteira, sequer me chamou para um ato que tivesse organizado). Tínhamos, na verdade, duas "campanhas conceituais" dos vereadores.

A CPN mente com grave cinismo político quando diz que "valoriza" a "grande possibilidade" de eleger o Edilson Silva. Se assim fosse, a militância do Recife e do Paulista não deixaria o militante Numeriano sozinho, a tocar uma campanha de três meses custeando quase toda a despesa de material, sendo redator, repórter, assessor, motorista etc. E eu nem queria sair candidato a prefeito (pois já havia passado pelo mesmo nas campanhas de 2008 e 2010). Fui voto vencido e me curvei à decisão da maioria. E depois, por força dos entendimentos com o PSOL e decisão da Executiva Estadual, saí candidato no sacrifício. E, apesar de em geral solitário todo esse tempo (o Délio e o Henrique me ajudaram na medida de suas possibilidades), fiz o máximo possível para ajudar o camarada Edilson e honrar o compromisso com o PSOL. No entanto, devo dizer, pois nunca me calo diante do que considero injusto, o PCB não se empenhou, organicamente, nessa campanha. Assim o fez em 2008 e 2010, quando muitos se reuniram para "entrar na batalha", mas ao final somente eu, o Luciano e o Aníbal fomos sangrar de verdade nas ruas. Fiz vários chamamentos para o Partido se integrar à campanha. Inutilmente: o PCB, há tempos, faz apenas "campanhas conceituais". Imaginei que pudesse ser diferente, em função da coligação. No fim das contas, a CPN é que é, em si, uma "crise política". E, como precisam transferir a outrem seus erros, Luciano e Numeriano, não por caso foram abatidos pela radicalização que toma conta do Partido.

A CPN mente quando diz que "traí" o Partido. Quisera que, Brasil afora, muitos militantes estivessem "traindo" o Partido nos termos do que fiz. Seríamos, creio, salvos dessa sanha radical, integrista e mecanicista que imagina ser possível criar uma realidade e enfiá-la nas formulações táticas e estratégicas do PCB. Traem o Partido os que estão transformando o seu legado heróico em algo datado, livresco, saudosista. Traem o Partido os dirigentes cupulistas que se imaginam acima do bem e do mal. Traem o Partido os que querem o grande PCB transformado num PSTU, cheio de rancor pequeno-burguês, a destilar ódio irracional sobre a luta de classes. Traem o Partido os que, do alto de suas gestões burocráticas, imaginam ser possível transformá-lo num instrumento da ação política libertadora da classe trabalhadora sem buscar no povo os instrumentos e motivação. O PCB não precisa de semelhantes paladinos, pois nossa sociedade já cansou do socialismo retórico de alguns supostos clarividentes.

Por fim, vale registrar o uso reiterado, na Nota, do pronome possessivo: "sua candidatura" e "sua campanha". Como assim, "sua candidatura" e "sua campanha"? Até ontem, eram de uma coligação, pelo menos em tese. O fato é que temos no texto um curioso ato falho que, por si mesmo, diz tudo. Foi, realmente, uma "campanha do Numeriano", cumprida como manda a tradição do PCB dos velhos tempos de homens como Prestes e Gregório: com honestidade, empenho, vigor e, sobretudo, dentro do programa social, político e ideológico do PCB e do PSOL. O resultado aí está, na forma de quase sete mil votos que honraram a todos nós que, militantes para além da palavra, transformam em ato a vontade de mudar a sociedade no rumo do socialismo.

Essas tradições, vocês, dirigentes de cúpula que odeiam eleições "pequeno-burguesas", estão matando. Essas tradições, vocês, dirigentes mecanicistas que amam a retórica socialista, apequenam quando no dia da apuração dos votos do candidato da Frente de Esquerda, expulsam-no sumariamente como num auto de fé de Torquemada. Se quiseram demonstrar "coerência de princípios" e "unidade ideológica", peço olharem no facebook as manifestações de crítica ao Partido. É isso o que de verdade lamento: essa inquisição tosca atingiu em essência ao Partido.

Aquele abraço. Vamos em frente
Roberto Numeriano

PS: Quem desejar adquirir um pequeno livro que redigi tratando dos caminhos do PCB, PSOL e PSTU, intitulado O Culto da Ilusão das Formas, basta me comunicar. Acredito que pode provocar uma reflexão sobre a luta da esquerda socialista.

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