O comportamento de alguns setores da mídia brasileira chega a ser patético. Quando há a necessidade da realização de matérias que esclareçam a população sobre desvios de conduta na gestão da máquina - de acordo com as conveniências e as verbas de publicidade estatal recebidas - esses órgãos simplesmente ignoram os fatos ou praticam uma espécie de indignação seletiva, poupando ou minimizando aqueles políticos com os quais mantém uma relação de proximidade perigosa. Noutros, posam de vestais da ética, fingindo cumprir o papel de fiscalizadores da conduta dos nossos homens públicos, mas, na realidade, prestando-se ao serviço vil de assassinos de imagens, utilizando-se de recursos dúbios ou mesmo plantando informações inverídicas ou ilações. Creio que o caso do famoso tríplex do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se enquadra nesta observação.
Com este assunto, muito tinta já foi gasta, abordando-o sob os mais distintos aspectos. Li algo sobre o "patrimonialismo" de corte petista e até sobre uma recusa à conciliação de classe, que Lula teria tentado - em vão - materializar no Brasil. O que nos inquieta, entretanto, é a sanha de alguns órgãos da imprensa, numa cruzada disposta a tudo, no sentido de "condenar" o "execrar" o ex-presidente Lula, muito antes dos devidos esclarecimentos ou provas em contrário. Impressiona-nos como "jornalistas" estão tratando este caso, apontando Lula como, de fato, proprietário deste tal tríplex do Guarujá e, quem sabe até mesmo, proprietário do sítio de Atibaia. Benefícios supostamente auferidos em transações nebulosas com empreiteiras, quando de sua permanência no Palácio do Planalto.
O Instituto Lula foi criado com outra finalidade, mas, a julgar pelo andar da carruagem política, o seu setor jurídico será o epicentro das atividades daquele órgão, em razão da saraivada de ilações que estão sendo imputadas ao ex-presidente. No dia de ontem, o Instituto Lula publicou uma longa matéria no sentido de esclarecer a opinião pública acerca da real participação de Lula na Cooperativa Bancoop, que envolve o tríplex do Guarujá. Lula era epenas um cotista da cooperativa, com cotas um pouco acima de R$ 40 mil reais, devidamente declaradas à Receita Federal.
É possível que o Lula tenha visitado o imóvel, assim como consideramos estranho essa relação entre a construtora OAS com a Bancoop, uma cooperativa administrada durante anos pelo senhor João Vaccari Neto, tesoureiro do Partido dos Trabalhadores, envolvido - este parece um caso concreto, com provas irrefutáveis - até a medula em falcatruas cometidas com o dinheiro público. O caboclo já está cumprindo pena. Entra naquela galeria dos petistas que não honraram os compromissos da ética na condução dos negócios públicos, assumida em praça pública.
Vamos aguardar, senhores, que essas investigações movidas pelo Ministério Público de São Paulo, e no bojo da Operação Lava Jato, possam esclarecer, por exemplo, se, de fato, a OAS retribuiu a agentes públicos as benesses auferidas nas transações com a estatal Petrobrás, fornecendo imóveis como pagamento de "propina". Por enquanto, apenas especulações. O problema é que, na ânsia de massacrar o ex-presidente, esses órgãos estão deixando a ética jornalista - e até o jornalismo de um lado - para praticaram o mais vil linchamento moral de um cidadão. Um bom exemplo disso é o tal barco adquirido pela ex-primeira dama Marisa Letícia, no valor de um pouco acima de 4 mil reais, com emissão de nota fiscal de compra e tudo mais. O que prova isso, afinal? Qual a relação com o fato de Lula ser o suposto proprietário do sítio? Ao ex-presidente Lula, sequer, tem sido respeitado o direito ao princípio da presunção de inocência ou observada a prerrogativa legal de que todos são inocentes até prova em contrário.
No momento, nada foi provado sobre a propriedade daquele tríplex, tampouco a nota fiscal de compra de um barco no valor de 4 mil reais, muito menos, prova de que Lula seja o dono do sítio de Atibaia. Prova, apenas, que Dona Marisa Letícia toma os cuidados devidos ao realizar uma compra: pede a nota fiscal. Por enquanto, malgrado as mazelas que envolvem essa tal cooperativa - isto sim já muito evidente, com inúmeros credores lesados - nada há contra o ex-presidente, o que desaprova a conduta de alguns setores da imprensa, descaradamente agindo de má-fé, sob o manto de propósitos escusos. A simples possibilidade de uma eventual candidatura de Lula em 2018, possivelmente, é a motivação que desencadeou esse processo.
A charge que ilustra o texto é de autoria do chargista Renato Aroeira
Nenhum comentário:
Postar um comentário