pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Merendão tipo exportação ( Sobre o escândalo da merenda, em São Paulo)
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domingo, 28 de fevereiro de 2016

Merendão tipo exportação ( Sobre o escândalo da merenda, em São Paulo)

A quadrilha paulista pretendia estender o esquema a outros estados
por Henrique Beirangê — publicado 28/02/2016 04h35

Nilton Fukuda/ Estadão Conteúdo
Baleia Rossi
Um dos suspeito em um grampo: o deputado Baleia Rossi "abriu portas" no Rio de Janeiro


A Quadrilha do Merendão especializou-se em vender suco de laranja às escolas do estado e prefeituras de São Paulo por preço superfaturado. Um negócio lucrativo feito por meio de uma cooperativa agrícola que deveria adquirir o produto de pequenos agricultores, mas comprava de grandes empresas para baixar custos e inflar os ganhos em contratos fraudados com o poder público
Ao tirar da boca de crianças pobres, a fraude possibilitou só no ano passado ganhos de ao menos 25 milhões de reais. Tudo ia muito bem, até que a gula dos merendeiros ficou cada vez maior e começaram as brigas para quem levava a maior parte do bolo. Como costuma acontecer, uma das partes insatisfeitas decidiu denunciar o esquema. 
As escutas telefônicas mostram que o apetite dos merendeiros não se restringiu a São Paulo. O objetivo era estender a fraude pelo interior do Nordeste, Rio de Janeiro, Paraná e Salvador. A sequência de diálogos grampeados durante a Operação Alba Brancamostra que os dirigentes da Coaf, sediada em Bebedouro, interior paulista, citam nome de políticos que estariam por trás da “exportação” do merendão.
Até o momento foram citados em depoimentos e interceptações telefônicas os nomes dos secretários da Casa Civil, Edson Aparecido; da Agricultura, Arnaldo Jardim; de Logística e Transportes, Duarte Nogueira e do ex-secretário de Educação Herman Voorwald. A operação apura o envolvimento direto do tucano e presidente da Assembleia paulista Fernando Capez, de Baleia Rossi (PMDB) e Nelson Marquezelli (PTB), deputados federais, e Luiz Carlos Gondim (SD), deputado estadual. Todos negam as acusações. 
Em uma conversa entre Carlos Luciano Lopes e um prefeito, até o momento não identificado pela investigação, o vendedor da Coaf trata de negócios no Rio de Janeiro. Lopes afirma que “Baleia abriu portas” no Rio, Campos e Belford Roxo. De acordo com o depoimento de um integrante da cooperativa, o deputado federal e presidente do PMDB paulista Baleia Rossi teria recebido propina por contratos em Campinas e Ribeirão Preto.
O intermediário dos contatos entre a cooperativa e os políticos era o lobista Marcel Ferreira Júlio, considerado foragido pela Justiça. Em um diálogo com César Augusto Bertholino, integrante da Coaf, o lobista cita o Rio de Janeiro. Na transcrição da conversa, Ferreira Júlio diz ter conversado com um integrante da executiva estadual do PMDB de nome Alex, e deveriam falar com o “Paes” ou com o secretário da Casa Civil e para tentar “marcar com o Paes para falar da Coaf”. Os investigadores agora querem saber de Ferreira Júlio se o prefeito Eduardo Paes teve algum contato com os envolvidos.
O lobista estaria interessado em fazer uma delação premiada, mas se recusa a entregar nomes de políticos. Ferreira Júlio garante sempre ter tratado dos interesses do esquema com assessores. Não é o que mostram as gravações. Em um áudio de 11 de dezembro, o lobista conversa com um homem, ainda não identificado, “o deputado falou que esse negócio de contrato deve ser tratado entre vocês”, afirma.
Ainda segundo o relatório do inquérito da Polícia Civil, no Rio de Janeiro teria ocorrido o pagamento de propina por meio de cheques da cooperativa. Em um diálogo em 10 de dezembro com um interlocutor identificado como Célio, Lopes afirma que iria a sete cidades fluminenses com o “operador político”. Em outra ligação, diz que dois representantes da Coaf estariam no estado para “conversarem com o pessoal do PMDB, pois o partido tem a maior parte das prefeituras”.
Segundo Ferreira Júlio, o objetivo do esquema ia além dos contratos com o governo de São Paulo. Em um dos grampos, o lobista diz que o deputado Baleia Rossi queria ser ministro da Agricultura. A nomeação seria como ganhar na loteria: “Podem fazer muita coisa”.
O parlamentar nega envolvimento no caso. “Não interferi, recomendei, pedi ou gestionei em defesa de qualquer empresa fornecedora nas citadas prefeituras ou quaisquer outras. Inclusive, o próprio Cássio Chebabi afirma isso em sua delação, desmentindo o depoimento dessas pessoas.”
Em outro diálogo de 6 de dezembro de 2015 com um homem de nome Esmeraldo, Lopes fala que o responsável pelo “contrato grande da Bahia estava na Coaf”. Em outra conversa, o vendedor cita a capital do estado: “Lá em Salvador vai dar pra fazer negociação”.  
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O ex-presidente da cooperativa Cássio Chebabi, ao lado esquerdo de Alckmin. (Nilton Fukuda/ Estadão Conteúdo)
De acordo com as interceptações, o vendedor trata de negociatas em Campinas e Leme, no interior de São Paulo, mas o negócio principal seria na capital baiana. Lopes fala do dia da publicação do edital de compras e do valor do contrato: “Vai ser mais ou menos 15 milhões de reais”.
O vendedor também menciona negociatas no restante do Nordeste. Em um grampo de 9 de dezembro com uma pessoa de nome Marcos, um contato na Bahia, ele diz que este poderia ficar com o “Nordeste inteiro tirando o Maranhão, que é a família Sarney”. Interessado na influência do contato baiano, o vendedor chega a ter uma discussão com outro integrante da cooperativa por conta das “comissões” que deveriam ser pagas a Marcos.
O vendedor Adriano reclama do aumento das “comissões”, mas Lopes argumenta que “Marcos tem livre acesso na Bahia” e que em “São Paulo tem 166 mil por mês de produtos e na Bahia daria 900 mil unidades por mês”. As investigações mostram que Marcos trabalhava ou tinha acesso privilegiado na administração pública baiana. Segundo Lopes, o contato informava sobre o andamento do edital e teve acesso ao documento antes da publicação no Diário Oficial.

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Na mira, Paraná, Rio de Janeiro e o Nordeste, à exceção do Maranhão, área da família Sarney
Os merendeiros mantinham relações em prefeituras do Sul. Lopes diz em um dos diálogos que “conhece pessoas no Paraná que vendem produtos com amido, pois só serve para engrossar e não faz mal”. O integrante cita um sujeito que seria intermediário no estado. “O cara entende tudo de merenda, tem contatos fortes no Paraná e fornece merenda para Curitiba.”
(Publicado originalmente no site da Revista Carta Capital)

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