pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Editorial: Um Brasil suspeito
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quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Editorial: Um Brasil suspeito


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Passei a ler com mais frequência os trabalhos do sociólogo Jessé de Souza, sobretudo em razão da leitura de um dos seus artigos sobre o pensamento do sociólogo Gilberto Freyre. O artigo ao qual faço referência tornou-se emblemático nos estudos sobre o autor de Casa Grande & Senzala, embora Sobrados e Mocambos seja o livro de Gilberto preferido por Jessé de Souza. Mas essa discussão a gente deixa para um outro momento, pois também estamos escrevendo um artigo científico sobre o assunto. Chamo a atenção, no entanto para um livro recém lançado por Jessé de Souza, com o sugestivo título A Elite do Atraso, onde o autor conclui que o problema do Brasil é o ódio ao pobre, ao destrinchar a pedra de toque da aliança antipopular construída no Brasil para preservar o privilégio, aceso aos capitais econômico e cultural, de 20% contra os 80% de excluídos. Antes de sair de casa no dia de hoje, 25, acompanhei a repercussão de uma extensa pesquisa acerca das condições e expectativas de vida da população de São Paulo. Assim como na década de 40 - quando o sociólogo Josué de Castro denunciava o drama da exclusão alimentar através do livro a Geografia da Fome - poder-se-ia falar aqui numa espécie de geografia sobre as perspectivas de vida da população de São Paulo, a partir do espaço geográfico onde ela está localizada. Ou seja, depende dos jardins. Se no Jardim Ângela - um dos bairros mais pobres da periferia - ou se no Jardim Paulista, bairro nobre, de classe média-alta. 

Se o indivíduo vive no Jardim Paulista ou Morumbi, pode ter uma expectativa de vida numa média de até 24 anos superior em relação aos moradores da periferia, vítimas do desemprego; sem saneamento básico das residências; mais vulneráveis a serem atingidos por uma bala perdida; com uma educação precarizada; sem uma assistência média adequada; "suspeitos" pelo simples fato de serem negros ou pobres. Isso somado, diminui sensivelmente a expectativa de vida dos moradores dessa periferia. Pela fala de um dos pesquisadores do Rede Nossa São Paulo, três questões precisam aqui ser postas: a) Há alguns anos essa pesquisa é realizada e a sua série histórica apenas confirma que nada mudou durante esses anos, o que informa que o poder pública não fez muita coisa para mudar essa realidade; b) Como São Paulo é o Estado de maior PIB do país, o que se passa por ali em termos de indicadores sociais talvez possa ser aplicados para outras regiões do país, o que nos parece bastante sensato; c) Para reverter esse quadro, as políticas públicas deveriam ser direcionadas no sentido de procurar equilibrar esse jogo, ou seja, fazer uma opção preferencial pelos pobres, o que no Brasil é uma grande utopia, uma vez que o aparelho de Estado também é controlado por essas elites. 

Era ainda um jovem estudante da UFPE quando um dado nos chamou a atenção. O Recife possui um dos melhores pólos médicos do país. Creio que seja o 3º melhor do Brasil. Ele está localizado ali na Ilha do Leite, um bairro de classe média, onde os aluguéis de imóveis são supervalorizados. Mas, ali como alhures, não se foge à regra das desigualdades sociais do Brasil. Junto a este bairro está localizada uma das maiores favelas do Recife, no bairro conhecido como o Coque. Chegando-se à extremidade da Ilha do Leite, mais um passo e o indivíduo perde 20 anos de sua expectativa de vida. Isso diz muito sobre a nossa realidade social, historicamente marcada por uma elite forjada em 350 anos de trabalho escravo, que tornou-se a mais egoísta e cruel do mundo. Segundo Jessé, esse pacto de privilégios é construído com o apoio decisivo dos estratos médios da sociedade, que são os guardiões desse distanciamento em relação aos empobrecidos. A elite mesmo, essa apenas solta seus "cachorros" contra os pobres, consoantes os seus mais vis e mesquinhos interesses. 

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