Não tenho dúvidas de que o governador Paulo Câmara(PSB) faz todos os esforços ao seu alcance para superar os problemas de segurança pública no Estado. Pode não ter sido feliz até o momento, mas se esforça. Afinal, segurança pública deverá ser o mote da campanha de 2018, usado à exaustão pelos seus opositores, com o propósito de não permitir o seu projeto de reeleição. Agora, sinceramente, algumas medidas anunciadas - não sei se precipitadamente - por vezes surpreende, como esta última que anuncia uma premiação aos policiais pela apreensão de drogas e de menores infratores. Apreensão de drogas até que se entende, mas de menores...? Isso é coisa para deixar a pesquisadora Ronidalva Melo, falecida recentemente, de cabelos em pé, se remexendo na tumba. A pesquisadora da área de segurança pública, pertencente aos quadros da Fundação Joaquim Nabuco, até recentemente, havia produzido um minucioso trabalho sobre as instituições que aplicam medidas de caráter sócio-educativas - ou de "de ressocialização" - a esses jovens, concluindo pela absoluta incapacidade da FUNASE em enfrentar o problema dos menores infratores. Aliás, as unidades hoje convivem com rebeliões constantes, não raro, com o registro de mortes de menores em conflitos. Não raro, como afirmamos.
Confesso que gostaria muito de saber sobre o fundamento que o governador se baseou para anunciar essa medida, já bastante criticada pelos parlamentares da oposição. Estamos aqui diante de um problema estrutural dos mais complexos, governador. Seria de bom alvitre ouvir o seu staff da área de serviço social ou dos serviços de psicologia da Secretaria da Justiça para inteirar-se do problema em sua real dimensão. Se o sistema de ressocialização ele já não funciona a contento para as unidades prisionais que abrigam adultos, com os menores infratores o drama é ainda maior. Um dos problemas observados pelo pesquisadora Ronidalva estava relacionado à ausência de uma articulação maior com outras secretarias que, de fato, poderiam oferecer alguma possibilidade de reorientar a vida desses adolescentes, como a Secretaria de Educação do Estado, por exemplo, sua "menina dos olhos".
Levantamentos indicam que um percentual muito pequeno de menores em situação de rua não possuem família. Por absurdo que possa parecer, as ruas, às vezes, se constituem em espaços mais seguros para esses jovens, alguns deles vítimas constantes de abusos sexuais e violência domésticas em casa. Existe gente séria tratando do assunto, mas convém ficar atento aos picaretas que angariam patrocínio para as suas atividades com a exploração desse drama, inflando esses dados estatísticos. Muitos menores são apreendidos sob a rubrica de "atitudes suspeitas", seja lá o que isso signifique, uma vez que a sua própria condição o coloca neste rótulo automaticamente, sobretudo numa sociedade como a nossa, onde para ser suspeito basta ser negro, pobre ou puta. Observem a reação do público quando um deles toma um transporte coletivo, por exemplo. Numa circunstância como esta, premiar os policiais pela apreensão desses menores, torna o quadro ainda mais nebuloso, longe de se constituir em alguma solução para qualquer coisa.
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