pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Editorial: A sutileza do texto de Maria Lúcia Garcia Pallares-Burke
Powered By Blogger

segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Editorial: A sutileza do texto de Maria Lúcia Garcia Pallares-Burke

 


Até recentemente, este editor foi aceito num curso sobre Filosofia da Liberdade, que será realizado aos domingos, em formato remoto, como recomenda os bons manuais de estudos para esses períodos de pandemia. Não se constituiu uma tarefa das mais árduas justificar, para os organizadores do referido curso, porque desejávamos realizá-lo,sobretudo num momento como este que estamos vivendo, de supressão das liberdades individuais e coletivas. Há a exigência de produção de um ensaio no final do curso e isso nos recomendou voltar a ler um livro da historiadora Maria Lúcia Garcia Pallares-Burke, uma espécie de biografia intelectual do escritor Gilberto Freyre. Curioso que Gilberto Freyre gostava de ser tratado como escritor e não como sociólogo. 

Alguns anos atrás, a historiadora e pesquisadora esteve aqui no Recife, especialmente no bairro de Apipucos, durante um período de 04 anos e meio, para a realização deste exaustivo trabalho de prospecção sobre as influências téoricas que contribuíram para a formação do autor de Casa Grande & Senzala. Ao longo da leitura, o leitor chega à conclusão de que Gilberto se revela mais naquilo que ele ocultava do que propriamente naquilo que ele revelava, algo que a sensibilidade e experiência de Maria Lúcia conseguiu perceber, o que engrandeceu enormemente os resultados de sua pesquisa. Outra "cilada" de Gilberto Freyre era a de "abandonar' os textos produzidos depois que os mesmos passavam por uma revisão para uma publicação recente. Há artigos, livros e manifestos do autor com esta característica. Um bom exemplo é a sua dissertação de mestrado, embrião de Casa Grande & Senzala. O texto publicado é bem diferente, conforme observa a autora, do que o apresentado à universidade, quando ele estudava nos Estados Unidos.   

O texto produzido por Maria Lúcia Pallares-Burke - Gilberto Freyre, um vitoriano dos trópicos -  é um trabalho de fôlego, que exigiu amplas pesquisas e leituras da autora, inclusive sobre a episteme e a prática da produção de uma biografia intelectual, neste caso, muito pretenciosa, por se tratar de um autor versátil, que recebeu inúmeras influências. Maria Lúcia recebeu todo o apoio da família Freyre, que facultou a ela amplo e irrestrito acesso aos arquivos preservados do escritor, seja na Fundação Gilberto Freyre, assim como na Fundação Joaquim Nabuco. Lamenta a autora que o filho de Gilberto Freyre, Fernando Freyre,que, à época dirigia a Fundação Joaquim Nabuco, não tenha vivido o suficiente para ver o resultado da pesquisa materializado.

Um livro como o da professora Maria Lúcia Pallares-Burke, esposa do historiador Peter Burke, nos remete a amplas possibilidades de aprendizagem. Sempre que sugere, no texto, alguma crítica ao autor, ela o faz com uma sutileza incomum, de onde depreende-se, igualmente, um bom domínio da linguagem e a habilidade para aparar arestas políticas. Talvez as"beiradas' ou as "entrelinhas' de um livro, para este leitor, seja o essencial ou o mais importante. Por favor não interpretem, com isso, que eu sou um leitor de "orelhas' e "prefácios". Neste caso, retirei o livro da estante à procura das inúmeras referências de autores que se debruçaram sobre o ensaio, um gênero híbrido entre literatura e ciência. Gilberto Freyre era um entusiasta deste gênero e leu muito a este respeito, deixando ótimas referências em sua biblioteca sobre o tema.

    

Nenhum comentário:

Postar um comentário