Em São Paulo –maior, mais rica e, teoricamente, mais desenvolvida cidade do país—, a campanha eleitoral de 2012 atravessa um período pilântrico. Num instante em que os escândalos pupulam nas manchetes como pulgas no dorso de cães vira-latas, os comitês de campanha das duas principais legendas do país perderam os sentidos. O PT aliou-se ao PP de Paulo Maluf. O PSDB juntou-se ao PR do mensaleiro Valdemar Costa Neto.
Petistas e tucanos potencializam o estereótico que torna iguais todos os políticos. Os pregoeiros da ética informam ao eleitor que, em troca de alguns minutos de tempo de tevê, topam tudo. Ficou-se sabendo que, na principal cidade do país, como na Chicago e na Bagda de outrora, há espaço para Al Capone e Ali Babá. Incorporado às mais vistosas coligações, o rebotalho ganha prontuário novo. E o letreiro da política volta a piscar: é tudo farinha do mesmo saco.
Tudo isso seria apenas divertido se não fosse nefasto –para usar o adjetivo que a petista Marta Suplicy um dia empregou num comentário sobre Maluf. O processo político torna-se cada dia mais obscuro e incompreensível. O eleitor brasileiro sabe cada vez menos o que é um partido. As legendas subvertem a lógica, sacrificam o pudor, entregam-se à depravação dos costumes… Depois, com a candura dos puros, convidam o eleitor a engajar-se num processo que ele não entende.
Repete-se na cena municipal um fenômeno que há anos desvirtua o exercício do poder no âmbito federal. Em pólos opostos, PT e PSDB, os dois grandes rivais da política nacional, juntam-se àqueles que passam pela vida pública à procura de negócios e oportunidades, num processo que aniquila a inocência e converte as eleições em meros contratos de cumplicidade renovados de quatro em quatro anos.
O resultado do espetáculo, triste e cansativo, é conhecido: uma quantidade absurda de escândalos, um puxando o outro, o caso novo atropelando o anterior, as bandidagens antigas se multiplicando em picaretagens novas. Em teoria, a revelação dos malfeitos deveria exercer sobre a política efeitos benfazejos.
Por um lado, o noticiário produz a lamentação do ocorrido. Por outro, exposição das trambicagens deveria surtir um duplo efeito. Os políticos não ousariam reincidir em práticas criminosas. E os eleitores não votariam mais nos suspeitos. O caso de São Paulo ensina outra coisa. Os agentes públicos igualam-se em perversão. E o eleitor, ainda que quisesse, não encontraria bons exemplos nos quais votar. Fica-se com a impressão de que, submetida a um Judiciário que lhes serve impunidade, a banda pilântrica da política sempre prevalece.
Blog do Josias de Sousa, Portal UOL.
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