publicado em 7 de julho de 2013 às 13:36
Somos um país ou somos ratos?
7 de Jul de 2013 | 06:10
por Fernando Brito, no Tijolaço
A revelação de que os Estados Unidos violam, em escala gigante, o
sigilo das telecomunicações no Brasil não admite vacilações ao nosso
país.
Não pode ser tratada com descaso, usando argumentos pueris como “todo
mundo sabe que os EUA tem capacidade tecnológica para vigiarem o que
quiserem”.
Poder para fazer não é a mesma coisa que fazer, assim como é muito diferente ter a bomba atômica e explodir uma delas.
Chegamos ao intolerável paradoxo de vermos que o país que se diz
modelo da democracia violar, em plano mundial, a privacidade das
comunicações telefônicas e cibernéticas dos cidadão de todo o planeta –
inclusive e especialmente os brasileiros – num inacreditável volume de
bilhões de ligações mensais.
Até agora, se sabia que faziam isso com seus próprios cidadãos, com
as pessoas que vivem sob seu controle militar no Oriente Médio e,
depois, com uma Europa ajoelhada moralmente, ao ponto de querer ocultar
sua covardia negando pouso ao avião presidencial da Bolívia, talvez
porque nada possa um índio como aqueles que, no colonialismo, massacrou
aos milhões.
A partir da tarde de ontem, porém, é conosco.
Não somos melhores que ninguém, mas temos de cuidar de nós mesmos, se nos pretendemos um país adulto e soberano.
Está acima de ideologias. Nem o mais radical neoliberal diria que a
regra do mundo deveria, ao lado do laissez faire, laissez passer,
incluir um laissez écouter.
É um atentado às nossas leis e- mais grave – às mínimas regras de convivência entre as nações.
O Governo brasileiro jamais colocou ou colocaria obstáculos a
qualquer investigação sobre ramificações terroristas antiamericanas em
nosso país.
Mas nem o mais americanófilo brasileiro, civil ou militar, aceitaria
que todas as comunicações feitas neste país fossem monitoradas por uma
agência de espionagem.
Muito menos que as empresas – ainda que de origem estrangeira,
operando sob as leis brasileiras – cedam gentilmente, sabedoras ou não,
o acesso a seus (e nossos) registros de telefonemas, e-mail e todo o
tipo de mensagem eletrônica, inclusive as redes sociais, a um Big
Brother Sam na base de um é ir chegando e grampeando.
Que o Governo Obama tenha perdido o senso e os limites nessa questão,
que queira transformar o homem que revelou seu esquema global de
espionagem em um fantasma perambulando pelos desvãos do mundo, que tenha
chegado ao ponto de usar seis vezes um Espionage Act de 1917 que, em 90
anos e uma Guerra Mundial no meio, só três vezes antes havia sido
invocado, problema dele.
Que espione nossas telecomunicações, problema nosso.
A reação diplomática do Brasil deve ser a mais dura e clara.
Teremos a solidariedade de todo o mundo, enojado com essa
monstruosidade e chocados de ver a reação pusilânime de governos
nacionais que, eleitos por seus povos, prestam a mais rasteira
vassalagem a quem viola a privacidade de seus cidadãos.
Não somos um Rato que Ruge, como no conhecido filme de Peter
Sellers, em que um pequeno país se insurge contra os Estados Unidos.
Mas certamente não podemos nos comportar como ratos diante do grande e gordo gato.
PS do Viomundo: CPI para saber quais empresas
permitiram espionagem de suas redes no Brasil e para perguntar ao Paulo
Bernardo se ele autorizou.
(Publicado originalmente no blog Viomundo)
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