publicado em 23 de fevereiro de 2015 às 11:05
Prezado colega Joaquim Barbosa,
Você cobrou a exoneração do Ministro da Justiça por ter recebido
advogados das construtoras, alegando no seu Twitter: “Reflita: vc.
defende alguém num processo judicial. Ao invés de usar
argumentos/métodos jurídicos perante o juiz, vc. vai recorrer à
Política?”
Permita-me ponderar, caro colega da UERJ, a Política com P maiúsculo,
conforme você bem escreveu, é a mais nobre das atividades humanas, pois
é a partir dela que se constrói uma sociedade rumo ao eldorado ou rumo
ao abismo.
É conveniente deixar claro que todos nós queremos a punição de
corruptos, o fim da corrupção e a repatriação dos bilhões evadidos. No
entanto, esse problema da Petrobras & construtoras está indo muito
além disso. Já extrapolou as decisões (aplaudidas) de um único juiz e
passou a ser uma questão de Estado.
Explico: (1) Países ricos são aqueles que têm autonomia tecnológica,
isto é, dominam o conhecimento que transforma a natureza em riqueza,
desde os projetos de engenharia até o produto final. (2) Dentre as
grandes empresas sediadas no Brasil, praticamente apenas a Petrobras
& construtoras têm autonomia tecnológica. As outras grandes
empresas, por serem mundiais, produzem bens aqui mas não desenvolvem a
tecnologia no Brasil. (3) Quem domina a tecnologia tem o poder das
decisões econômicas e a primazia dos melhores lucros.
A Petrobras é responsável por cerca de 10% dos investimentos
realizados no País, cujo efeito multiplicador no crescimento da economia
é exponencial. São razões de estado, portanto, que deveriam levar o
governo a interceder politicamente no show de horrores que está
provocando paralisação de setores produtivos da economia, desemprego e
redução do PIB.
O que a Petrobras e construtoras têm de perene são as suas máquinas,
equipamentos, outros bens materiais, o petróleo, trabalhadores e
tecnologia, sinônimo de conhecimento, que nada têm a ver com os desvios
de dinheiro provocados por meia dúzia de dirigentes ironicamente
colocados em liberdade “premiada”.
Digo, por experiência própria vivenciada no poder executivo estadual,
que a corrupção pode ser totalmente debelada sem prejudicar as (únicas)
grandes empresas nacionais que desenvolvem tecnologia de forma
autônoma.
Infelizmente, ao contrário do que se esperava, a forma seletiva de
divulgação de passos inconclusos e não julgados do processo ‘lava-jato”
está acarretando mais malefícios do que benefícios, até porque as tais
delações (absurdamente) premiadas saíram dos bafos de bandidos
confessos.
Mas isso agora é o de menos. O pior é ver os negocistas e golpistas
de plantão se aproveitando de todo esse caldeirão de manchetes
cientificamente encomendadas para enlamear, não os corruptos, mas a
empresa Petrobras e as construtoras visando à enfraquecê-las para
desnacionalizá-las.
Reflita, caro Joaquim, (i) com tantas instituições há décadas sugando
bilhões de dólares da nossa economia sem qualquer reação do judiciário,
ministérios públicos e imprensa; (ii) com um processo criminoso de
privatizações que aniquilou empresas e inteligências brasileiras sem que
houvesse um só pio desses órgãos; (iii) e o que vemos agora é a
exploração malévola para destruir o que de melhor nos resta na
engenharia brasileira.
Se o problema fosse realmente punir corruptos, eles não estariam em
liberdade premiada. O alvo é realmente quebrar as últimas grandes
empresas nacionais de engenharia; e logo a engenharia, um dos ramos do
conhecimento que mais cria postos de trabalho em todas as áreas.
Isso é muito triste para um país que já tem mais de 70% do seu PIB
controlado por não residentes. Será que você e o voluntarioso juiz Moro
conseguem enxergar que existe algo que vai muito além dos
“argumentos/métodos jurídicos” a que você se refere?
Nenhum “argumento/método jurídico” pode estar acima dos interesses da
sociedade, nem pode ser usado para, por consequência, desgraçar a vida
de milhares de famílias inocentes que dependem do funcionamento pleno
das empresas nacionais que geram conhecimento e riquezas.
Lecionei durante 36 anos na Faculdade de Engenharia da universidade a
qual você pertence, a UERJ. Sabemos o quanto é árduo a formação de
engenheiros desenvolvedores de tecnologia. E o que temos visto em todo
esse episódio do “petrolão” é a lubrificação dos dutos que podem, mesmo
que não houvesse intenção, levar o nosso petróleo gratuitamente para
alhures e destruir o que nos resta de tecnologia própria nas empresas de
energia e construção civil-mecânica.
Acredite, caro Joaquim, os abutres já estão a grasnar: “entreguem
tudo às empresas estrangeiras”; e, se elas tomarem conta do pedaço que
nos resta, adeus à soberania e à tecnologia nacional. E isso, acredito,
nem você nem o juiz Moro querem. Certo?
Seria muito bom que juristas de escol colocassem os seus saberes para
impedir a alienação de riquezas e patrimônios nacionais. Que achas da
ideia? Se você puder convide o juiz Moro e apareçam em dois atos em
defesa da Petrobras e Soberania Nacional: dia 24/02, terça-feira, às18h,
na Associação Brasileira de Imprensa, e no dia seguinte, 25/02,
quarta-feira, às 17h, no Clube de Engenharia.
O que está em jogo são os destinos soberanos do Brasil. Quebrem-se os
políticos e dirigentes corruptos, mas não a grande estatal e a
engenharia nacional.
Cordialmente.
Weber Figueiredo da Silva, D.Sc.
(Publicado originalmente no site Viomundo)
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