pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Impresso em crise: A cabeça da serpente.
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sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Impresso em crise: A cabeça da serpente.

IMPRESSOS EM CRISE

A cabeça da serpente

Por Jota Alcides em 03/02/2015 na edição 836
 
A crise dos jornais no mundo inteiro é a pior em mais de 400 anos de história. Grandes e tradicionais jornais, nos países desenvolvidos e nos emergentes, ou estão fechando ou estão sendo vendidos. Causa principal: explosão da internet, já alcançando 3 bilhões (2014) de pessoas no mundo.
Desde a expansão da internet nos anos 1990, a receita dos jornais nos EUA só tem caído. Em 2012 foi a mais baixa dos últimos 50 anos, segundo recente revelação da mídia, 15% mais baixa do que a receita de 1956.
Nem o Japão, sempre apontado como imune à crise dos jornais, escapa. Suas tiragens permanecem enormes – o Yomiuri Shimbun, maior diário japonês, vende 10 milhões de exemplares diários matinais e 3,6 milhões vespertinos (mais do que todos os jornais brasileiros juntos). A circulação no Japão caiu somente 6,3% na última década, ainda pequena se comparada com os 10,6% nos Estados Unidos. Entretanto, os jornais japoneses começam a sentir os efeitos mais fortes da internet na queda de publicidade: faturaram, em 2009, 565,5 bilhões de ienes (US$ 6,2 bilhões), contra 858,4 bilhões de ienes em 1998, segundo a revista britânica The Economist.
Nos Estados Unidos, na Europa, no Japão e na América do Sul o diagnóstico é o mesmo: a internet está derrubando a circulação e a publicidade dos jornais. Com essas duas fontes de receita em queda, agrava-se a crise.
Jovens mais distantes
No Brasil, já se foram, extintos, grandes e tradicionais títulos do mercado impresso:Jornal do BrasilTribuna da ImprensaDiário Popular e Jornal da Tarde. O Globo demitiu mais de 100 profissionais nãos últimos meses, o Estadão está demitindo, o Estado de Minas está demitindo e o Diário de Pernambuco, mais antigo jornal em circulação na América Latina, um patrimônio histórico dos Diários Associados de Assis Chateaubriand, acaba de ser vendido.
É uma crise tão grave que os donos de jornais no Brasil e no mundo estão atordoados, não sabem o que fazer. Quando a internet explodiu, muitos jornais aproveitaram para fazer marketing de avanço tecnológico. Alguns, como o Jornal do Brasil, chegaram a anunciar orgulhosamente suas edições na internet. Mal sabiam que estavam alimentando uma gigantesca, poderosa e insaciável serpente.
Como agora sabem disso, os jornais da Alemanha fazem alguns ensaios diferentes. Há 30 anos, o diário Abendzeitung, de Munique, tinha 300 mil leitores. Hoje, sua circulação é de apenas 107 mil exemplares. Em Berlim, Hamburgo e Munique os jornais perderam cerca de 30% de seus leitores durante a última década. Na Alemanha e em todo o mundo, além da internet, dos altos custos de produção e da queda de publicidade, os jornais ainda enfrentam outro problema: os jovens estão cada vez mais distantes dos jornais e mais próximos da internet, e os mais velhos, tradicionais assinantes de jornais, estão morrendo sem substitutos. O que fazer?
Conteúdo da internet
Alguns jornais da Alemanha, como o Süddeutsche, estão agora fazendo o contrário do que fizeram muitos jornais no mundo: separando suas edições impressa e online. A equipe impressa produz o jornal diário, que fecha às 17 horas e precisa ser capaz de atrair os leitores até o dia seguinte; e a equipe online produz o jornal em tempo real. É o primeiro ensaio para evitar que a edição online canibalize a edição impressa.
Durante os primeiros anos de explosão da internet, os donos de jornais acreditaram que deveriam colocar seu conteúdo gratuitamente nos próprios sites porque isso acabaria atraindo mais leitores e compradores de seus produtos impressos. Sabem hoje que isso resultou numa grande falácia.
Mas sabem também, hoje, que os jornais são os principais alimentadores de conteúdo da internet. Então, pergunta-se: o que acontecerá se todos os jornais do mundo saírem da internet? Não apenas um, ou dois, ou três, mas todos, no mundo todo, unidos pelo instituto de sobrevivência e articulados pela Associação Mundial de Jornais.
É uma solução radical e ousada, mas é a única salvação dos jornais para manter viva a história iniciada por Relation, o primeiro jornal impresso da história mundial, exatamente em 1605 na franco-germânica Estrasburgo, conhecida como uma das capitais da Europa. Tirar o conteúdo de todos os jornais da internet é degolar a cabeça da serpente.
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Jota Alcides é jornalista e escritor

(Publicado originalmente no Observatório da Imprensa)

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