pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Michel Zaidan Filho: Charada ao sabor dos interesses governistas
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segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Michel Zaidan Filho: Charada ao sabor dos interesses governistas




 Artista plástico que confeccionou a alegoria do Galo da Madrugada diz que olhos azuis foram uma charada. Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem.



                        Indagado sobre o significado dos "olhos azuis" da alegoria carnavalesca, público-privada, "O Galo da Madrugada", o artista plástico responsável pela confecção da fantasia respondeu que era uma charada, um enigma carnavalesco a ser decifrado pela imaginação dos foliões. Charada de fácil decifração esta, considerando as relações mais do que promíscuas entre produtores e artistas pernambucanos com o prefeito e Governo do Estado.

                         Quando o jornalista Bruno Albertim  ocupou o cargo de Secretário de Turismo da Prefeitura do Recife, disse ele que o principal produto turístico daquela secretaria era o carnaval do Recife, já apelidado por muitos como o "maior do mundo".  Se o antigo folguedo popular  da cidade  Mauricéa é ou não o maior do mundo, uma coisa é certa: ele tornou-se uma das propagandas mais eficientes para vender o Estado e o município ao mundo.


                          A  engenhosa e cara operação simbólica para transformar os festejos momescos no "principal produto turístico" de Pernambuco é o resultado de uma sinergia de esforços e ações público-privadas, que conta naturalmente com o interesse da mídia em co-patrocinar o evento. De forma que, às vezes, se torna muito difícil distinguir o que é público do privado, o que é oficial do espontâneo, do popular. O Carnaval é um desses festejos pagãs, carregados de simbolismo (daí a estética do grotesco) que foi convenientemente domesticado pelas nossas elites em vista de seus objetivos e interesses. É uma empresa? É uma válvula de escape? É um rito pagão? Ou uma forma de angariar consenso popular através do rico patrocínio público da folia carnavalesca? - Talvez seja tudo isso e algo mais.


                        Se houve algum princípio de inversão ou transgressão simbólica na organização do carnaval, nas últimas décadas, é que se transformou de coisa marginal e suja em um megaespetáculo televisivo, por onda posam e desfilam celebridades oriundas  de uma cultura de massas barbarizada, que junta crime, violência, pornografia, futilidades e denúncias de corrupção praticadas por agentes públicos. A quem serve o carnaval, afinal de contas?

                        Ao invés de uma revolta simbólica contra os poderes dominantes, através de alegorias grotescas e demoníacas, a folia momesca tornou-se um instrumento de marketing e venda dos mais diversos apetrechos. Mais o pior negócio é o estado de  euforia, brilho, felicidade e satisfação que supõe provocar no imaginário do povo, tendente a torná-lo mais receptivo e tolerante às desgraças e descalabros do Poder Público e da própria estrutura social, quando se for a folia.

                        Como povo parcialmente socializado pela ética puritana do trabalho, o "ethos carnavalesco" nos faz diferente das sociedades de índole cristã reformada. E há muitos estrangeiros que admiram esse espírito dionisíaco e bacante, sobretudo nas mulheres. Mas não nos deixemos enganar: a saudosa maloca da música de um Adoniran Barbosa deu lugar a um arremedo televisivo de barraco de escola de samba,  povoada de atrizes mais ou menos brancas e arremediadas, loucas para convencer o distinto público da novela das oito de que vale a pena ser brasileiro, carioca, pernambucano e recifense. Afinal de contas, se não temos o melhor prefeito e governador do mundo, temos o maior bloco carnavalesco do planeta. E isso é pouco?

Michel Zaidan Filho é historiador, filósofo, cientista político, professor da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD/UFPE. 

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