É cedo
para dizer se Lula voltará em 2018 para ser candidato a presidente da
República. No entanto, pela entrevista concedida a Carta Maior, o que se
pode afirmar, com toda a certeza, é que ele está pronto e motivado para
encarar mais um mandato – ou melhor, dois.
Ouçam
bem e prestem atenção ao que diz o ex-presidente, lá pelas tantas, em
sua conversa. Ele usa duas analogias que retomam uma metáfora do início
da entrevista. As analogias são a da estação ferroviária e a dos
Dobermans. Um governo, diz ele, é composto por uma locomotiva, que é o
governo; e pelo serviço público, que são as estações. Os governos
passam. As estações ficam. Os governos são efêmeros. A burocracia é
permanente.
Os
políticos são eleitos, têm mandato, precisam de voto e de aprovação
popular. São especialistas na arte de conquistar apoio público para suas
decisões. A burocracia, não. É preciso todo um trabalho de
convencimento. Não adianta obrigá-la a fazer o que não está convencida.
Se a burocracia for convencida, fará com prazer o que deve ser feito. Se
não se convencer, não fará. "Se ela tiver medo, ela fingirá e mentirá
para você" - assevera.
Os
ministros, mestres do convencimento público, nem sempre agem com
presteza burocrática. Para isso, Lula brinca, usaria uns três Dobermans.
Naquilo que é mais importante fazer e de um presidente acompanhar, ele
esfregaria as roupas de seus ministros no nariz dos farejadores e os
soltaria para encontrar seus auxiliares, saber o que estão fazendo e por
que trilhas.
Mas
cobraria dos ministros, também, maior envolvimento com sua própria
burocracia. As políticas andam mal das pernas se os ministros não são
capazes de convencer a sua própria equipe técnica da clareza e correção
de propósitos, da certeza dos objetivos, da lisura dos processos. O
desafio duplo, político e burocrático, deve convergir para o objetivo de
melhorar a ação de governo.
Em
2006, Lula pagou para ver se seria abatido pela maldição do segundo
mandato, aquela que diz que os primeiros quatro anos são insuperáveis, e
os últimos quatro são só ladeira abaixo. Mirando o horizonte, deixa
nítido que não veria risco em uma futura presidência. Muito pelo
contrário. Por melhor que seu governo tenha sido avaliado, ele ainda se
considera longe do último degrau. Lula já faz parte da história, mas
está distante de se pretender passado.
"Eu
talvez fosse o melhor opositor ao meu governo, hoje, porque hoje eu sei
o que eu deixei de fazer e sei que é possível fazer mais" - diz. "Nós
temos uma escada de dez degraus; nós subimos dois degraus, três degraus;
ainda falta muito degrau". Essa é a metáfora. Esse é o recado.
Em
2018, se precisarem de um maquinista experiente, Lula saberá, melhor do
que ninguém, como colocar mais lenha na fogueira. Estará pronto para
subir na máquina e fazê-la seguir em frente, a pleno vapor.
Antonio Lassance, Cientista Político.
(Publicado originalmente no Portal Carta Maior)
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