Há poucas horas tivemos acesso ao documento concebido pelo professor Roberto Mangabeira Unger, ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, com proposta para o Brasil, Pátria Educadora, o lema do segundo Governo Dilma Rousseff. Como se sabe, todo documento escrito pelo professor de Harvard exige leituras e releituras. Talvez possamos abrir aqui uma exceção para aqueles que leem o documento já com o propósito de desqualificá-lo, como alguns colunistas dos jornalecos golpista. Não é este o nosso caso. Vou ler com aquela atenção de quem, de fato, almeja por melhorias substantivas de nossa educação e quem tem o respeito necessário pelo professor Roberto Mangabeira Unger. Esse respeito vem de longas datas, de uma época em que o mesmo realizou conferências no CFCH-UFPE, penso que já na condição de ministro do Governo Lula. Trata-se de um cidadão excêntrico, polêmico, mas, independentemente desses traços de personalidade, o vejo, em diversos momentos, profundamente preocupado com os rumos do país, sobretudo no capítulo concernente ao papel a ser exercido pelo andar da baixo da pirâmide social. Antes de entrarmos na polêmica desse documento atual, ele tem uma tese que nos agrada bastante. Observando o perfil - e a insensibilidade da intelectualidade brasileira, que, historicamente provém dos estratos sociais médios - Mangabeira assegura que a verdadeira revolução social seria promovida pela chamada contra-elite, ou seja, quem mudaria a face deste país seriam os estudantes pobres que estão tendo acesso ao ensino superior. Nos governos da coalizão petista tivemos avanços substantivos nesse aspecto, com programas como o Reuni. Pesquisas da Fundação Joaquim indicam que para 83% desses jovens egressos, sobretudo no processo de expansão do ensino superior público para regiões do interior, os pais não tinham curso superior. Não custa repetir, uma verdadeira revolução. Mangabeira já se aproximou de diversos políticos brasileiros. Nos parece que a ideologia não seja muito bem o seu norte. Aliás, isso não se constitui necessariamente uma crítica, posto que o professor Clóvis em suas aulas de Ciência Política já nos informa que o termo hoje não serve sequer para definir os partidos políticos. Confessamos que ficamos preocupados com a saída de Marcelo Neri daquela Secretária, assim que Dilma tomou posse. Afinal, ninguém mais identificado com os "assuntos estratégicos" do país. Neri foi substituído por Roberto Mangabeira Unger, que, conforme informamos, já havia assumido a pasta antes, no Governo Lula. E eis que Dilma nos surpreende, solicitando a ele um plano refundador da educação nacional. E ele começa bem, para além das críticas dos jornalecos especializados em atingir o Governo Dilma. Como qualquer megaplano, irá exigir bastante negociação com a sociedade, pois pretende envolvê-la diretamente no processo. Mangabeira fala de "forças tarefas" para ajudar os pais dos alunos com dificuldades em acompanhar seu desenvolvimento na escola; agentes comunitários que se envolveriam diretamente nas atividades das escolas com baixo índice de qualidade social da educação etc. O Plano está estruturado em 04 eixos: federalismo, currículo, qualificação e valorização docente, além do aproveitamento de novas tecnologias. Atinge o principal gargalo de nossa educação: o ensino básico. Em termos de federalismo há aqui um ponto que já causou polêmica com o ex-ministro da educação e hoje senador da República, Cristovam Buarque. Na proposta de Mangabeira, não há uma preocupação com a "refederalização" ou "desmunicipalização" da educação básica, como parece ser a preocupação do senador. Há, de fato, algumas arestas políticas que precisam ser aparadas. O plano foi concebido sem a ouvida do filósofo Renato Janine Ribeiro, que hoje ocupa o Ministério da Educação. Sequer foi convidado no momento do lançamento do programa. Faltou aqui um pouco de vaselina política. Um outro aspecto a ser observado - e nisso Orlando Tombosi - o jornalista do tal jornaleco tem razão - é a pouca sintonia com o Plano Nacional de Educação. Muito aqui para nós, pensamos que Mangabeira - do alto de sua auto-suficiência acadêmica - sequer leu o plano. Um outro aspecto que nos inquieta é o aproveitamento de experiências bem-sucedidas pelos reformadores empresariais da educação, mas aqui há de se dar o desconto necessário ao nosso conhecido preconceito a tudo que vem do capital. Vamos aproveitar esse espaço aqui nas redes sociais e na blogosfera para debater as questões diretamente relacionadas ao assunto. Quem nos acompanha já deve ter observado que, nos últimos meses, o tema educação, passou a assumir uma relevância maior nas nossas discussões. Quanto às ideias tidas como inexequíveis ou politicamente inviáveis do professor Mangabeira Unger, esperamos, sinceramente, que elas se materializem e este país deixe de ser um gueto e torne-se, de fato, uma nação.
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