No contexto de ajuste das contas públicas e demora no repasse de verbas
para o funcionamento das universidades públicas, os gestores das IES deveriam
se acautelar diante da possibilidade (iminente) da deflagração de uma greve
nacional dos docentes universitários. A primeira, aliás, desse segundo mandato
da presidente Dilma. A situação não é nada boa: nem do ponto de vista da manutenção das universidades, nem do ajuste de salário, haja vista uma
inflação de quase 8% ao ano. Diante da crise (e do ajuste fiscal), duas
posturas são esperadas, a do reitor que, comprometido com os interesses e
necessidades da comunidade acadêmica, apoia esse movimento, fazendo-se
solidário com ele; e o papel de gerente interno do Governo Federal. Qual desses
papéis, esse reitor reeleito vai desempenhar?
Há dois aspectos relacionados ao histórico desse gestor que merecem ser
considerados: primeiro, a docilidade e servidão que tem caracterizado sua
gestão, em relação ao Governo Federal (marca, aliás, do seu antecessor). Apesar
do “sorriso de aeromoça”, de sua fácil comunicação social e a imagem de “bom
moço”, o perfil administrativo do atual reitor não deve enganar ninguém: ele é
um fiel servidor das políticas do Governo Federal, não um advogado de sua
comunidade acadêmica. Não se espere desse gestor nenhum gesto de autonomia,
independência ou coragem no que diz respeito à defesa intransigente das
reivindicações dos professores, estudantes e funcionários. Ele deve se
comportar como um servidor (ou serviçal) perante o MEC e a política de
contingenciamento dos recursos federais. 0 outro aspecto está associado à
legitimidade (ou o custo dela) de seu segundo mandato. E aqui a coisa se
complica.
Os métodos utilizados na campanha eleitoral e a forma de angariar
votos entre docentes e discentes nos vários centros da UFPE tornam essa
legitimidade comprometida. As redes de clientelismo que existem e foram
reforçadas, durante a campanha eleitoral, começam na própria reitoria da
instituição universitária, passam pelas pro-reitorias e pelos seus diretores,
pelos órgãos suplementares da UFPE, pelas demais “campi” da nossa universidade,
se estendendo pelos centros e suas diretorias, coordenações de curso e chefias
de departamento. Essas redes são abastecidas por um fisiologismo de corar os
deputados evangélicos, comandados pelo sr. Eduardo Cunha. E não se trata
grandes promessas ou prioridades administrativas. São cargos, editais de
pesquisa, bolsas, equipamentos etc. Essa é a moeda de troca das redes
clientelísticas da UFPE. Como a experiência histórica tem fartamente
demonstrado, esse tipo de apoio é precário e custoso, não merece a menor
credibilidade. Quem troca cargos por apoio sabe quão inseguro e temporário é
esse apoio.
Diga-se, de passagem, que os reitores que se elegeram já na época de
Lula e de Dilma frustraram profundamente os anseios da
comunidade universitária. E se tornaram consultores e conselheiros do Governo Federal. É o velho e conhecido fenômeno do “transformismo”. Uma vez investidos
do cargo de dirigentes universitários, num passe de mágica, mudam de lado e
passam a tratar os docentes e discentes na base do troca-troca.
Menção especial vai para o atual presidente da Associação dos Docentes
da UFPE, prof. Gilberto. Este militante sindical não só procurou desacreditar
os apoiadores da candidatura do professor Edilson, através de várias acusações,
como hipotecou publicamente o seu apoio ao atual reitor. Quem precisa de um
dirigente sindical, como esse, num momento de turbulência e dificuldades para o
financiamento das IES, como o que estamos prestes a atravessar? – Já se vê que
sua postura deve ser a defesa incondicional do seu candidato, à frente da
reitoria da UFPE.
Se não fosse um militante histórico – desde
o Congresso de fundação da Andes, na cidade de Campinas (SP) nos idos dos anos
80 – da minha categoria profissional, eu me desfiliava dessa entidade em
protesto à conduta desprimorosa desse dirigente sindical.
Por tudo, ainda é muito cedo para comemorar. Ganhar não é tudo. Mas
importante é honrar os compromissos assumidos publicamente com aqueles que
acreditaram nas promessas do vencedor.
Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE.
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