pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO. : O carrão do negão.
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quarta-feira, 13 de maio de 2015

O carrão do negão.



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José Luiz Gomes escreve:


Parte considerável dos estudos do sociólogo Gilberto Freyre foram realizados em universidades americanas. Ali ele fez o mestrado e, por muito pouco, não concluiu o doutoramento. Bastava apresentar à banca uma versão inglesa de sua famosa obra Casa Grande & Senzala, como lhe foi sugerido por um dos seus professores. O mestre de Apipucos, que escrevia tão bem, informou ao seu interlocutor que não sabia "dançar em inglês". Bailava na língua portuguesa. Quando Gilberto informou a um amigo que pretendia voltar ao Brasil, foi aconselhado a não fazê-lo, pois o Recife não era apenas cruel com alguns políticos, mas com todos aqueles que conseguiam alguma projeção. Em suma, uma cidade de invejosos. Darcy Ribeiro, em conversa com João Goulart, conseguiu convencê-lo a nomear o sociólogo Josué de Castro para o seu ministério. 

Em conversas reservadas, pediu que o estudioso da fome mantivesse segredo absoluto sobre o assunto. Vaidoso, Josué começou a espalhar na província que seria indicado ministro. Não deu outra. Dentro da própria agremiação partidária, surgiram uma leva de pessoas a desqualificar o sociólogo para assumir o ministério, enquanto alguns "mais capazes" se sentiam preteridos. Afinal, Josué de Castro​ só vivia fora do país. De fato, Josué de Castro viajava bastante, mas isso era apenas mais um indicador do prestígio internacional que ele havia conquistado, a partir de suas reflexões sobre o problema da exclusão alimentar no país, principalmente na região Nordeste. 

Desde então, pelo que observamos pela imprensa e pelas redes sociais no dia de ontem, esse quadro não mudou muito. As colunas de políticas baixaram tanto o nível que ficaram parecendo com os programas do tipo Leão Lobo ou das revistas Tititi, preocupados unicamente em revelar segredos das estrelas, do tipo quem está comendo quem. Quem já foi vítima dessas ilações sabe muito bem o que isso significa e os interesses obscuros embutidos nessa prática. Em Pernambuco isso já atingiu o limite do suportável. Até os instrumentos de Estado são utilizados para atingir a honra ou denegrir com calúnias e difamações quem se coloca contra os desmandos dos grupelhos políticos hegemônicos, alinhavados com os interesses do capital. 

Trata-se de um dispositivo azeitado, bastante lubrificado, acionado no momento certo. Já comentamos isso numa outra oportunidade. Reparem que qualquer mobilização contra o Governo Dilma Rousseff, na província, e o Estado amanhece com os muros pichados com os dizeres que foi o PT que matou aquele ex-governador dos olhos verdes ou camisas com aquela famosa frase: Não vamos desistir do Brasil. Possivelmente em razão da luta que se trava entre empreiteiras, órgãos públicos e setores da sociedade civil em torno do Projeto Novo Recife, pessoas ligadas ao Grupo Direitos Urbanos tiveram suas vidas devassadas, caso do Deputado Edilson Silva e Leonardo Cisneiro. Do primeiro, descobriram que ele comprou um suposto carrão, dessas caminhonetes de cabine dupla, avaliada em R$ 120.000,00. 

Sobre Cisneiro, informaram que o mesmo é professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco e dá expediente no gabinete de Edilson Silva, o que se constitui num problema, posto que, a princípio, ele não dá aulas na ALEPE. Ainda nesta semana, publicamos no blog um artigo do professor Michel Zaidan Filho​ sobre a campanha que elegeu Edilson Silva como o primeiro deputado do PSOl eleito em Pernambuco. Foi uma verdadeira campanha do tostão contra o milhão. Um megafone, um tamborete, muito cuspe e disposição. Um bom trabalho pelas redes sociais, e ele estava eleito. Edilson é um sujeito transparente, vem realizando um bom mandato, os proventos de Deputado Estadual já lhes faculta o acesso a um bem como um carrão, adquirido em suaves prestações. Para esta situação, deixando as ilusões e as idealizações de lado, temos que usar a filosofia pragmática ou maquiavélica. Tanto do lado do negão, quanto do lado dos seus acusadores. 

Todo político deseja o poder. É a característica do campo social onde eles atuam. Vamos deixar de ser ingênuos, porque a Assembleia Legislativa do Estado não é, necessariamente, um lugar de orações. Até sua "bancada evangélica", possivelmente, possui outras motivações para além da salvação da alma. E o poder, por sua vez, impõe seus ritos. É típico desse campo social, para usarmos uma expressão cara ao sociólogo francês Pierre Bourdieu. Muito pouco provável que o senhor Edilson Silva continuasse indo para a ALEPE com a sua famosa bicicleta, na qual fazia campanha. Seus algozes, por sua vez, não se orientam por nenhuma moral elevada, mas por uma tentativa inequívoca de tentar prejudicá-lo, apontando-o como uma pessoa "vendida"; que se sujeitou aos "apelos do capital e do consumismo"; um político da "vala comum como outro qualquer"; um ex-pobre que está se "lambuzando" nas benesses proporcionadas pelo exercício do poder; uma baita "decepção". Sinceramente, não vejo aqui como condenar o negão. E falo com a intimidade de um eleitor. O que merece a nossa reprovação é esse botequim de fofocas e bisbilhotagem institucionalizada que tomou conta do Estado de Pernambuco, cujos setores da imprensa é apenas um dos aspectos do problema. 

Isso é mais comum do que se imagina. Quando o "sistema" não possui contra-argumentos sobre uma determinada questão - o caso do projeto Novo Recife se aplica bem a esta situação - parte-se para a tentativa de desqualificar os atores políticos e, consequentemente, diminuir o impacto do seu "discurso". Para isso, utiliza-se de todos os aparatos possíveis e imagináveis, alguns deles ilegais. O capital compra bens tangíveis e simbólicos, consciências igualmente. Transformar espaços de discussão política em colunas de Leão Lobo é o de menos. Caberia agora a nossa gloriosa Polícia Civil do Estado esmiuçar e descobrir como este documento "vazou" do DETRAN.

P.S do Realpolitik: A foto da caminhonete acima foi tirado por um leitor e encaminhada ao blog de Jamildo, publicado pelo JC, assim como o documento do carro, onde o Deputado Edilson Silva, do PSOL, aparece como proprietário. O difícil é entender como este cidadão teve acesso ao documento, cuja liberação não seria tão simples.Também gostaríamos de acrescentar que não sabemos nada sobre a situação funcional de Leonardo Cisneiro, impossibilitando-me, portanto, de emitir algum juízo de valor sobre o assunto. Observaríamos, entretanto, que, se houve uma cessão legal do órgão de origem, a UFRPE, não há nenhuma irregularidade na situação.


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