No dia de ontem, ocorreu uma mobilização dos policiais civis do Estado de Pernambuco. A categoria anda inconformada com as condições de trabalho e a ausência de uma política de recomposição salarial. Segundo o SIMPOL, o sindicato da categoria, o Estado paga o menor salário a um policial civil no Brasil. Quando foi concebido, o Pacto pela Vida previa uma série de medidas com o objetivo de beneficiar o trabalho da Polícia Judiciária, como premiações, promoções por merecimento, investimentos objetivando melhorar as condições de trabalho do policial e coisas do gênero. Algumas dessas promessas ficaram apenas no plano das intenções. Até mesmo os índices de resolutividade de delitos ficaram comprometidos, posto que os inquéritos eram feitos às pressas, não raro significando a sua devolução pela Justiça. Em última análise, até essa estatística, a rigor, precisaria ser revista. A mobilização dos policiais civis foi de advertência, mas tudo caminha para uma possível greve, a julgar pela ausência de diálogo e negociação da categoria com o Governo do Estado.
Aqui pelas redes sociais, sabe-se de uma assembléia decisiva dos professores para o dia 29 de maio onde, provavelmente, será decretada uma greve por tempo indeterminado. Desde o início, afirmamos que esse desfecho seria quase inevitável. O Governo advoga a tese da absoluta ausência de condições de atender ao pleito da categoria, em razão do contingenciamento da receita estadual. Os professores, por sua vez, já não aguentam mais a chafurdação em torno dessa conversa sobre o piso salarial. Mas, o que mais nos chamou a atenção foi uma publicação do Centro Luiz Freire sobre os gastos do Governo do Estado, com publicidade institucional, para convencer a população de que o Governo, digamos assim, vem fazendo seu dever de casa com as questões relacionadas à educação, inclusive tratando dignamente os professores. Foram gastos mais de 800 mil reais com essa brincadeirinha, distribuídos por diversos veículos de comunicação.
Não sabemos precisar o comprometimento da folha de pagamento caso o Governo do Estado resolvesse atender ao pleito da categoria dos professores, mas eles alegam que estão no limite da Lei de Responsabilidade Fiscal. Certamente esse montante seria expressivo em qualquer circunstância, ainda mais para um Estado que estabeleceu acordos com empreiteiras, em negociações não necessariamente muito sadias ao interesse público. Também não vale aqui o raciocínio de que o Governo tem recursos para a publicidade institucional e não tem recursos para recompor as perdas salariais dos professores. Como diria nossos professores de matemática, não daria para comparar essas grandezas. São muito desproporcionais. Agora, numa coisa, tanto os professores quanto as outras categorias de servidores do Estado que criticam a postura do Governo Paulo Câmara têm razão: há uma dinâmica interna de estabelecimento de prioridades bastante invertida e lesiva aos interesses dos servidores e da população.
Para usarmos uma expressão do sociólogo Gilberto Freyre, o Estado está "inchado" de cargos de confiança, como resultado de acordos políticos para abrigar aliados e aparentados. Justiça seja feita, o ex-governador dos olhos verdes, já no final do seu segundo mandato, estava usando a tesoura, que parece ter cegado na gestão do afilhado. Outro grande problema é essa política de renúncia tributária e patrimonial, que, na realidade, compromete a receita estadual e, de quebra, não produz os resultados alardeados. A Arena da Copa, por exemplo, vem se revelando um grande malogro, uma cipoada a ser paga com os recursos dos nossos impostos, de resultados profundamente duvidosos. Um outro fato a ser exposto é a lógica de um Governo sustentada em cima de um mega investimento em publicidade institucional. Nisso, o senhor Paulo Câmara parece reproduzir os ensinamentos do padrinho político. Esse número específico, levantado pelo Centro Luiz Freire, deve ser "fichinha" diante do montante destinado à publicidade institucional. Os pernambucanos só tomaram conhecimento da verdadeira realidade - perdoem-me os professores de língua portuguesa - quando o governador Eduardo Campos morreu. Não se trata aqui de afirmar que isso decorreu de uma "descontinuidade de gestão" - até porque se trata de um ungido - mas que o Paulo Câmara, de fato, encontrou alguns cactos na cadeira que ocupa no Palácio do Campo das Princesas. E tem que aguentar calado as espetadas...
Que nos perdoe o Papa Francisco, mas discutir a relação nessas circunstância é, de fato, muito complicado. Penso que dá divórcio. Na agenda pública dos nossos governantes, educação continua não sendo prioridade. Ainda no dia de ontem, por aqui mesmo, discutíamos o gigantesco fracasso que deve ser esse Plano Estadual e Municipal de Educação, com data limite de entrega prevista para 25 de Junho. Durante os protestos da chamada "Jornadas de Junho", Pernambuco foi um dos Estados mais violentos na repressão aos manifestantes. Esperamos que o senhor Paulo Câmara não radicalize contra os professores, assim como ocorreu no Estado do Paraná. Como professor, eu também estou com vocês. Vamos à luta.
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