pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Editorial: O que é mesmo a elite brasileira?
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segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Editorial: O que é mesmo a elite brasileira?


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Recentemente, realizamos alguns estudos sobre a democracia brasileira. O objetivo, baseado em grandes teóricos do assunto, tinha como fulcro entender como retrocedemos. Em 2013, os institutos que medem a saúde da democracia no mundo apontavam o Brasil como uma democracia em processo de consolidação. Três anos depois, amargamos esse retrocesso proporcionado por um golpe institucional urdido por diversos atores, entre os quais setores da elite, do judiciário, da classe politica e da mídia, articulados com grandes corporações financeiras. O ex-ministro da Secretaria de Comunicação do Governo Lula, Franklin Martins, concedeu uma longa entrevista num encontro promovido pela CUT. A entrevista, como era de se esperar, repercute bastante nas redes sociais. Há, ali, uma série de posicionamentos importantes para entendermos o momento atual vivido pelo país. Não é preciso concordar com tudo que ele diz, mas, a rigor, suas reflexões nos ajudam bastante neste debate.

Vamos começar pelos pontos com os quais divergimos. Não acreditamos, como ele afirma, que este golpe foi o resultado de um oportunismo político. É como se setores golpistas canalizassem a insatisfação de grupos sociais que se colocavam contra o Governo Dilma, que era um governo fraco e tíbio. Circunstâncias e oportunismo, naturalmente, compõem o cardápio da maioria dessa classe política brasileira, sobretudo se acrescentarmos o fato de que, entre os acertos, estava em jogo o andamento da Operação La Jato. Mas, pelo que pudemos analisar, essas urdiduras foram forjadas em estertores mais consistentes, numa espécie de "onda conservadora" que sacode todo o planeta. E olha que não embarco aqui em nenhuma teoria conspiratória. São os fatos mesmos que nos levam a concluir pelo enunciado. 

Cada leitor abstrai das entrevistas aquilo que melhor lhe convém. Franklin, por exemplo, é bastante feliz em alguns momentos da entrevista, como naquele em que fala nas "reformas" que, tanto em 1964 ou em 2016, estiveram na raiz do golpe. Embora o Golpe de 1964 tenha sido dado com um certo "atraso" - posto que planejado 10 anos antes - o seu estopim foi o anúncio das reformas de base preconizadas pelo Governo João Goulart. Em 2016, foram as reformas sociais em curso, que tirou 40 milhões de brasileiros da extrema pobreza, que provocou a ira dos setores conservadores de nossa sociedade. As políticas sociais de corte inclusivo nas áreas de saúde, habitação e educação - que nunca colocou tantos pobres, negros e índios no circuito das instituições públicas de ensino superior  -incomodou bastante àqueles que gostariam de ver as enormes injustiças sociais do país como algo "natural" e, portanto, que deveria ser mantido "cristalizado". 

Aqui, o jornalista abre um parêntese para fala um pouco sobre a torpeza de nossa elite: Nos últimos meses fui obrigado a repensar muitas coisas. A elite brasileira despreza a democracia. É um grupo de predadores. A nossa elite, na verdade, não é uma elite". Particularmente, teríamos alguns adjetivos aqui para ajudar o nosso jornalista, mas não vamos polemizar. Trata-se de uma elite de imaginário escravista, antidemocrática, insensível, para quem a injustiça social faz parte do seu show e não precisa ser combatida. Lula estava certo quando afirmava que, nos últimos 500 anos, ele teria sido o único a tentar mexer nesses padrões de relações. A nossa elite sente um prazer mórbido de se afirmar nessas "diferenças". Você sabe com quem está falando?

A relação dessa elite com os valores da democracia é tão espúria que, quando eles perdem dentro das regras do jogo, eles puxam o tapetão. Foi assim em 1964, está sendo assim em 2016. Será assim sempre, o que talvez tenha levado o historiador Sérgio Buarque de Holanda a concluir que a democracia entre nós nunca passou de um grande mal-entendido. Muito improvável que valores como a "impessoalidade", por exemplo, possa subsistir num país do homem cordial, do "favor", do tapinhas nas costas. Por vias distintas, outros nomes da intelectualidade brasileira também chegariam a essas mesmas conclusões, a exemplo de Gilberto Freyre, que mantinha divergências pontuais com Sérgio Buarque. Sérgio, que assinou a ata de fundação do Partido dos Trabalhadores, parecia bastante incomodado com este fato. Freyre, talvez nem tanto assim...


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