Convém aos analistas ficarem muito atento ao discurso dos atores políticos. Primeiro, porque se trata de um discurso eivado de sofismas, quase sempre não representando o que, de fato, eles pensam. Depois, porque pode sinalizar posições políticas definidoras de suas estratégias no jogo. Quando Eduardo Campos ainda era vivo e movimenta-se para pavimentar sua candidatura ao Palácio do Planalto, reaproximou-se do hoje Deputado Federal Jarbas Vasconcelos(PMDB). Como bem defini à época, as suas ambições políticas estavam acima de qualquer rusga localizada. Até então, Jarbas Vasconcelos mantinha uma indisposição antiga com o grupo político ligado ao ex-governador Miguel Arraes, padrinho político de Eduardo Campos. O primeiro encontro entre ambos teria ocorrido em Aldeia e, logo em seguida, nas manhãs de domingo, nos famosos cozidos oferecidos por Jarbas Vasconcelos em sua residência de praia, no bairro do Janga, aqui em Paulista.
Em todos esses encontros, no discurso de Jarbas Vasconcelos, ficava claro que, se Eduardo Campos desejasse mesmo viabilizar-se politicamente teria que se afastar do PT. Eduardo Campos morreu num acidente aéreo, mas não tenho qualquer dúvida de que, certamente, seguiria o conselho do novo amigo. Uma outra conclusão possível é a de que a montagem das urdiduras em torno do afastamento da presidente Dilma Rousseff do poder começaram bem mais antes do que se possa imaginar. O plano de desmoralização política do PT e dos seus líderes, por aquela época, então, já estava sendo articulado. Não seria exagero concluir que, em alguns momentos, em sua fala com a imprensa, o hoje Deputado Federal chegou a "pautar" o discurso do então pretendente ao Palácio do Planalto.
Aqui na província, assim como em todo o país, estamos naqueles momentos de confraternizações políticas de final de ano. Até recentemente, o senador Armando Monteiro, através do seu PTB, reuniu seus correligionários, amigos, profissionais de imprensa e políticos para a sua confraternização de final de ano. Costura-se, aqui, uma nova conformação de força política visando as eleições majoritárias de 2018, possivelmente liderada pelo próprio senador, que seria candidato ao Palácio do Campo das Princesas. Essa conformação de forças ficaria nítida na reta final da disputa política em Caruaru, vencida por Raquel Lyra, filha do ex-governador João Lyra. Lá estiveram presentes próceres atores políticos tucanos e democratas, todos irmanados na vitória de Raquel. Pois bem. Essas mesmas forças estiveram presentes na última confraternização do PTB, que contou, inclusive, com lideranças do Partido dos Trabalhadores, a exemplo do senador Humberto Costa, Teresa Leitão, João Paulo.
Mesmo considerando o fato de que, no Brasil, a formação de alianças na quadra local não refletem, necessariamente, o conjunto de alianças celebradas nacionalmente, é muito improvável que uma aliança do PTB com o DEM e o PSDB possa incluir o PT.Pontualmente, o senador Armando Monteiro já vem afinando o seu discurso neste sentido, emitindo sinais de que seu alinhamento com o PT foi político e não ideológico. Por acaso alguém tem alguma dúvida de que o senador Armando Monteiro é um ator político organicamente vinculado ao capital? Outro que também emite sinais de que já teria dado sua cota de contribuição ao PT é o ex-líder do governo de coalizão petista na Câmara dos Deputados, Sílvio Costa, hoje filiado ao PTdoB, que, em suas posições sobre a PEC 55 amplia o fosso com os antigos aliados.
São discursos de reposicionamento, diante dos novos cenários e correlação de forças que se apresentam. De olho nas eleições presidenciais de 2018, o governador Geraldo Alckmin(PSDB), de São Paulo, se arranja como pode no ninho tucano, mas sabe que as circunstâncias políticas poderiam compeli-lo para fora do partido. Raposa bem felpuda da política, diante de uma circunstância como esta, já teria um outro ninho à sua disposição, mesmo que tenha que dividi-lo com as pombinhas do PSB. Suas últimas falas foram de críticas ao teor da PEC 55, a PEC do teto dos gastos públicos, aprovada recentemente. Observou que não seria possível estipular os gastos de cobertura apenas aos índices inflacionários, uma vez que a saúde pública é dolarizada, a população envelhece, os custos aumentam. Nada mais óbvio na fala de um oposicionista, mas trata-se de um tucano de voz rouca. E assim, consoante as conveniências de ocasião, os políticos vão reformulando seus discursos. No caso deles, aplica-se bem a máxima de que o que ontem ainda é hoje, amanhã poderá não ser anteontem.
Aliás, por falar no governador Geraldo Alckmin, um bom exercício é ficar atento às suas falas sobre o Governo Michel Temer. Temer, como se sabe, anda um pouco na corda bamba, fustigado pelas aves tucanas que desejam montar um ninho no seu quintal; as fissuras observadas em sua base aliada no legislativo; o país na maior crise institucional e econômica de sua história. O líder tucano no Senado Federal, o senador pelo Estado da Paraíba, Cássio Cunha Lima, em entrevista recente, aventou a possibilidade de interrupção abrupta do mandato do presidente Michel Temer, muito antes de 2018. Neste caso, creio que analisando a situação do ponto de vista da linha sucessória natural, o senador lembrou o nome da presidente do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia. É a dinâmica da realpolitik, meus amigos. Quando eles se juntaram para solapar o governo da coalizão petista, o jogo era um. Pouco empo depois, as nuvens políticas já se apresentam de uma outra forma, como enfatizava a raposa Magalhães Pinto.
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