pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

O xadrez político das eleições municipais de 2024 no Recife: Bolsonaristas preparam o time para a disputa.

 



Até recentemente, ocorreu um grande encontro em Brasília, reuindo o staff do bolsonarismo do Estado de Pernambuco e a cúpula nacional do PL. O encontro contou com a presença do presidente de honra da legenda, o ex-presidente Jair Bolsonaro, além do presidente de fato do partido, Valdemar da Costa Neto. A discussão girou em torno das próximas eleições municipais, ou seja, como os bolsonaristas do Estado estão se preparando para o próximo pleito. Já existem alguns nomes definidos para a dipsuta em cidades importantes, a exemplo de Jaboatão dos Guararpares, segundo maior colégio eleitoral do Estado, onde o atual prefeito, Luiz Medeiros, tentará a releeição, numa disputa que promete ser acirrada, pois o ex-prefeito Elias Gomes, hoje filiado ao Partido dos Trabalhadores, também planeja sua volta.  

Embora existam problemas no plano nacional, por aqui, não se pode falar de infidelidade dos partidos que estão participando da base alidada do Governo Lula. De pronto, o Ministro dos Portos e Aeroportos, Sílvio Costa Filho, do Republicanos, declarou apoio ao nome de Elias Gomes, durante encontro entre as legendas. Os projetos dos bolsonaristas para as eleições municipais de 2024 são ambiciosos. Segundo observou o próprio Valdemar da Costa neto, o plano é eleger mais de mil prefeitos, de preferência com algumas capitais na conta. 

Ainda não há um nome definido para a disputa do Recife, embora o ex-Ministro do Turismo do Governo Bolsonaro, Gilson Machado, se movimente como candidato. O ex-ministro obteve mais de um milhão de votos nas últimas eleições, quando disputou o Governo do Estado, uma votação surpreendente para quem estreava nas urnas. Nos bastidores, sabe-se que a família Ferreira também disputa a indicação. conforme já discutimos em outros momentos, o bolsonarismo possui uma expressiva capilarirade política no Estado de Pernambuco. Sabemos disso até por experiência própria, quando cutucamos o vespeiro por ocasião da primeira eleição de Jair Bolsonaro, em 2018. 

Por razões até mesmo históricas, o país possui essa "permeabilidade" natural ao ideário bolsonarista. Os arranjos politicos para 2024, passam, necessariamento, pelo palanque que está sendo montado para 2026. Anderson Ferreira, presidente da legenda no Estado, sempre esteve ao lado da governadora  Raquel Lyra em todos os monentos das eleições passadas, exceto quando teve que disputar o voto dos pernambucanos nas eleições para o Governo do Estado. Não tendo passado para o segundo turno, voltou a ficar ao lado da futura governadora, sendo contemporizado com a abertura de espaço no Governo. A família Ferreira assumiu o DETRAN de porteira fechada  

Pouco se sabe sobre os arranjos políticos do Campo das Princesas, de olho nas eleições municipais do próximo ano, mas é sabido que uma das prioirdades é atrapalhar o projeto político do atual gestor, João Campos, do PSB, que lidera todas as pesquisas de intenção de voto, com uma aprovação que ultrapassa os 70%. Nas atuais cricunstâncias, João Campos reúne todas as condições de se reeleger. O ponto de corte é 40%, segundo estudos do bruxo Antônio Lavareda, e o prefeito tem 70%. 

Demonstrando um certo desconforto no ninho tucano, o destino da governadora Raquel Lyra é uma grande incógnita. Ela faz questão de confundir os especuladores. Comenta-se que, sob os auspícios do próprio Lula, ela poderia ser convidada a ingressar na legenda petista. O convite ao Ministro da Pesca, André de Paula, do PSD, para compor a sua base aliada, sugere que ela possa ingressar no PSD, com um partido para chamar de seu. O próprio Gilberto Kassab, Presidente Nacional da legenda, teria entrado no circuito das negociações pessoalmente. 

Outro dia um jornalista local elencou quem seria os candidatos à Prefeitura do Recife no próximo ano. Há uma penca de nomes que hoje guardam alguma relação de proximidade com a gestora do Estado, a exemplo da vice, Priscila Krause, Daniel Coelho e Túlio Gadelha. Difícil saber, portanto, quem receberá suas bençãos, caso se confirme as previsões do jornalista e todos, de fato, confirmem suas postulações. 

Fiel escudeiro do bolsonarismo, o ex-ministro Gilson Machado se mantém no páreo. O PL pretende tomar a bastilha pelo Senado Federal, ou seja, elegendo milhares de prefeitos agora, criando as condições para a formação de uma maioria no Senado Federal, assumindo a presidência da Casa, criando a musculatura suficiente para um enfrentamento direto ao STF e ao Executivo, leia-se o Governo Lula. Por enquanto, nada melhor do que afastar os maus presságios e recarregar as baterias para os embates de 2024. O ex-presidente Jair Bolsonaro estará passando as festas de final de ano na paradisíaca praia de São Miguel dos Milagres, no litoral norte de Alagoas, hospedando-se na pousada do seu ex-Ministro do Turismo.   

   

Editorial: É Salles prefeito ou Nunes prefeito, Bolsonaro?



Hoje eles tentam salvar a aparente normalidade da relação entre ambos, mas elas já foram bem complicadas no passado. Estamos nos referindo ao senhor Valdemar da Costa Neto, Presidente Nacional do PL, e o ex-presidente Jair Bolsonaro, presidente de honra da legenda. Apesar de saber que o ex-presdiente pode representar muito para aquele grêmio partidário, em razão, sobretudo, do seu capital político ainda preservado. Falam as más línguas que a raposa Valdemar tenta maximizar os seus ganhos políticos no PL, administrando a influência do clã Bolsonaro sobre o partido. 

Num episódio recente, depois de muita impolgação da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, que sinalizou para uma candidatura ao Senado Federal pelo Paraná, o presidente da legenda veio à público desautorizá-la de forma enfático - e até machista, segundo alguns - afirmando, categoricamente, que ela não seria candidata. Em São Paulo ocorre uma situação igualmente emblemática para entendermos essa relação. O ex-Ministro de Meio Ambiente do Governo Bolsonaro, o hoje Deputado Federal Ricardo Salles havia pleiteado o apoio do PL para viabilizar sua candidatura rumo à Prefeitura de São Paulo. 

A resistência de o partido em apoiá-lo ficou tão evidente que o ex-ministro anunciou que estaria desistindo da candidatura. Algum tempo depois, novos ventos sopraram favoravelmente, quando o ex-presidente o tratou como prefeito em evento recente. Tudo sugeria que o PL havia abandonado o projeto de reeleição do atual prefeito, Ricardo Nunes, do MDB. Hoje, 22, já surgiram novas informações em torno do assunto. Conversas de bastidores entre Nunes e Valdemar teriam zerado o jogo, e o presidente da legenda informa que o ex-presidente irá apoiar o nome de Ricardo Nunes para a Prefeitura de São Paulo.

A gestão de Nunes já acomoda alguns nomes ligados ao partido na administração, o que tornaria a hipótese de não apoiá-lo ainda mais complicada. Caberá ao ex-presidente Jair Bolsonaro indicar o nome que dev compor a chapa, na condição de vice. Eles desejam um bolsonarista raiz para se juntar ao projeto de reeleição de Ricardo Nunes. Quanto mais se aproxime da extrema-direita, tanto melhor. A julgar pelo comportamento de levas de bolsonaristas pelas redes sociais, eles endossavam o nome do ex-ministro do Meio Ambiente, que nunca escondeu sua identidade de bolsonarista radical.  

 

Editorial: Quaquá pode se complicar.



O próprio conselho de ética do PT poderia ter tomado alguma providência em relação à atitude do parlamentar Washington Quaquá(PT-RJ), que agrediu fisicamente um colega de parlamento, durante uma visita do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Câmara dos Deputados, no bojo das comemorações pela aprovação da Reforma Tributária. Além da agressão física, Quaquá proferiu expressões de caráter homofóbico contra o Deputado Federal Nikolas Ferreira, do PL de Minas Gerais, o Deputado Federal mais votado nas últimas eleições. De um modo geral, temos observado cenas desagradáveis por ali, absolutamente incongruentes com o chamado decoro parlamentar. 

Até a Polícia Legislativa já foi acionada para retirar parlamentar do plenário durante as sessões das comissões. Mais recentemente, por muito pouco, o Deputado Federal Givan da Federal(PL-ES) não entra em embate corporal com o senador Hamilton Mourão, depois de desaprovar a sua atitude de cortesia com o Ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, quando do seu périplo em busca de apoio para aprovaçao na sabatina do Senado Federal. Flávio Dino, aliás, deixou de comparecer a vários convites de comissões, alegando temer, inclusive, por sua integridade física. 

O que se pode concluir é que descemos algumas degraus da escala civilizatória que deveria reger o comportamento adequado dos parlamentares durante os trabalhos do Poder Legislativo. O presidente Lula, por exemplo, foi violentamente atacado, sob o coro de "chegou o ladrão". A agressão de Quaquá será submetida ao Conselho de Ética da Câmara e já existe uma recomendação expressa do presidente Arthur Lyra(PP-AL) de que seja usado o rigor necessário em relação ao asssunto. Pelo andar da carruagem política, até para que sirva de exemplo, Washington Quaquá pode ir para o sacrifício para salvar as aparências de normalidade.

Pelo andar da carruagem política, vamos continuar neste climão pelos próximos anos, com tendência a piorar mais ainda. Ambos os lados, lulistas e bolsonaristas, equivocadamente, fazem questão de alimentar essa polarização política. Por questões estratégicas, naturalmente. Quando questionado a este respeito, o parlamentar agressor enfatiza que não se arrepende e informa que daria outras tantas tapas no representante do PL bolsonarista. O PT, talvez em razão das agressões verbais sofridas pelo morubixaba, mantém um silêncio sepulcral em torno do assunto.  

Charge! Mor via Folha de São Paulo

 


quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Editorial: Caso Marielle Franco esclarecido integralmente.


A engenharia institucional é bastante complexa e, em tal contexto, sabe-se lá as ponderações de Lula para indicar o senhor Flávio Dino para a vaga aberta no Supremo Tribunal Federal. Há várias hipóteses possíveis e não vamos fazer por aqui mais um exercício de especulação. O que está em jogo, agora, são as movimentações de bastidores em torno da indicação de um substituto para assumir a vaga deixada no Ministério da Justiça e Segurança Pública. O morubixaba petista sofre uma pressão danada para solucionar rapidamente o problema. Hoje andou circulando a notícia de que o programa criado pelo ministério, visando bloquear telefones celulares roubados com apenas um clique, pode cacificar as aspirações do atual secretário-executivo da pasta, Ricardo Cappelli. 

Nada contra Cappelli, mas diante do enredo que está se formando em torno do assunto, acreditamos ser improvável. Aos apressados, Lula já avisou que só indica um nome para o ministério em meados de janeiro, depois das festas de final de ano. Lula ,que esteve no dia de ontem na Câmara dos Deputados,  deve comer o peru do Natal com os membros da Suprema Corte, segundo se especula. Lendo agora a coluna do blogueiro Ricardo Noblat, nos ocorreu um fato curioso. Será que teremos tempo para o ainda ministro Flávio Dino fechar com chave de outro a sua pasagem no Ministério da Justiça? 

Quando assumiu a pasta ele vaticinou que uma de suas missões seria esclarecer, em sua integralidade, o assassinato da vereadora Marielle Franco. Noblat informa que o assunto voltou a ser ventilado na pasta, sugerindo que teremos novidades em breve em torno do assunto. Como se sabe, a banda podre do aparato de segurança pública atrapalhou bastante as investigações sobre o assassinato da vereadora. O crime precisou ser federalizado para se chagar às conclusões sobre o ocorrido, assim como as circunstâncias que o teriam motivado. 

Hoje já se sabe que quem o executou, surgindo hipóteses sobre as motivações, assim como os mandantes do crime. Marielle foi assassinada porque o seu trabalho atrapalhava os negócios de grupos milicianos que operavam em redutos onde a ex-vereadora atuava. Atrapalhar esses esquemas pesados significa, quase sempre, uma sentença de morte. Tem muita gente envolvida, recebendo seu quinhão subterrâneo, que nem precisa declarar à Receita Federal. O negócio é tão atrativo que até grupos evangélicos não resistiram à tentação e estão mancumunados com a milícia. Outra hipótese que se especula é a da competição eleitoral, ou seja, o voto fechado das favelas sob o controle das milícias. Vamos aguardar a Polícia Federal dá nomes aos implicados diretamente no crime. 

Editorial: Piqueteiros desafiam Milei na Praça de Maio.


Países que passaram por experiências autoritárias, caso do Brasil, Chile e Argentina, costumam, por razões óbvias, possuírem um aparato de segurança pública com tendências violentas, talvez como reflexo daqueles tempos, onde, como advertia o saudoso Pedro Aleixo, o guarda da esquina tinha plenos poderes para baixar a lenha. Ontem estávamos lendo uma matéria sobre os artifícios utilizados por algumas corporações militares para burlar o uso das câmaras nos uniformes, que foram instaladas com o propósito de filmarem suas ações, minimizando eventuais violações de direitos e excessos nas operações de abordagem. 

No Chile, os antigos carabineiros, polícia que atuava no período sombrio da Ditaduta do general Augusto Pinochet, mantiveram seus instintos de perversidades quando são requisitados para repremirem mobilizações populares nos dias atuais: Ao empregaram as polêmicas balas de borrachas, miram sempre nos olhos dos homens ou nas partes íntimas das mulheres. Mal assumiu o Governo na Argentina, o aloprado Javier Milei editou um pacote de medidas visando proibir manifestações contra o seu governo, onde se prevê a proibição de piquetes, além da exclusão dos indivíduos dos programas de concessão de recebimentos de benefícios sociais do governo.

O pacote foi batizado de AI-5 do Milei, numa alusão ao nosso famigerado Ato Institucional Número 5, que representou uma espécie de golpe dentro do golpe durante o Regime Militar. A população do país andino saiu às ruas justamente para protestar contra esse pacote de medidas. Assim como no Chile, diferentemente do Brasil, a população daquele país não costuma se intimidar com bravatas, a julgar pela coragem das Mães da Praça de Maio, que cobraram durante décadas aos militares o paradeiro dos filhos desaparecidos durante a ditadura militar naquele país. 

Governos fracos, sem um consenso razoável nas instituições, diante de graves dificuldades econômicas, não raro, procuram apoio dos militares. É o que está ocorrendo na Argentina, onde Javier Milei já declarou que governará com os militares. Durante uma ação humanitária de socorro às vítimas de uma enchente, Javier Mileir apareceu nas imagens usando uma farda militar, o que suscitou muita polêmica. A Argentina está se transformando num laboratório de experimentos de governo de extrema-direita ou, como desejam alguns analistas, num modelo de democracia iliberal, com vários e indesejáveis viéses, inclusive o autoritário.  

Editorial: Congresso ou ringue de luta livre.



Final de ano, Reforma Tributária aprovada, seria inevitável a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no plenário da Câmara dos Deputados. Como estamos literalmente cindidos entre Governo e Oposição, seria inevitável, igualmente, as hostilidades dos bolsonaristas contra o presidente, assim como as reações dos petistas, como o Deputado Federal Washington Quaquá, que partiu para a agressão contra um bolsonarista que soltava o verbo contra o presidente Lula. Hoje, dia 21, as redes sociais estão repletas de pedidos de cassação de um lado e do outro, ou seja, para cassar o Quaquar, seria necessário, antes, cassar a tropa de choque de bolsonaristas que xingaram o presidente Lula. 

O que ocorreu no dia de ontem é o prenúncio do que nos aguarda o novo ano legislativo, com o comprometimento das condições mínimas de governabilidade. As poupudas emendas parlamentares correm soltas, com autonomia de voo, chegando ao Executivo apenas na hora de pagá-las, desta vez com boletos agendados, como mais uma inovação. O termo toma lá, dá cá já entrou em desuso, assim como o próprio conceito de presidencialismo de coalizão, conforme estamos enfatizando por aqui. É encrenca das brabas governar com tantas hostilidades assim.

A Reforma Tributária passou, mas é inegável o saldo negativo do Governo, quando se analisa, por exemplo, os inúmeros vetos aos vetos do Executivo em questões cruciais como o marco temporal, que marca uma posição identitária do Governo Lula. Com a espertise políica acumulada ao longo dos anos, o Centrão irá fortalecer a sua bancada através de uma poderosa federação que deve reunir três partidos e uma penca de deputados e senadores. Estima-se que 150 deputados e 17 senadores, sob a batuta de Ciro Nogueira, ex-Ministro da Casa Civil do Governo Bolsonaro.

Para 2024, aguarda-se, igualmente, a abertura dos trabalhos da CPI do Abuso de Autoridade, proposta pela Oposição, que deve concentrar seus esforços contra setores do Poder Judiciário. Na medida em que Lula tenta reconstruir as pontes com o Poder Judiciário, deixa insatisfeito alguns setores de apoiadores mais orientados ideologicamente. O próximo impasse diz respeito à escolha de um nome para substituir o Ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino.  

Editorial: Estado da Cultura. 18 bilhões de renúncia fiscal. Vamos com calma.


Tivemos uma experiência bem clara sobre o que significou o desastre do Governo Bolsonaro para a cultura brasileira. A tragédia só não foi maior em razão das iniciativas de entes federados, como, no caso de Pernambuco,  o programa FUNCULUTURA, reconhecidamente um dos maiores fundos de apoio à cadeia cultural do país. Existiam algumas categorias ou áreas específicas abomindas pelo Governo anterior, sob o argumento de que se tratavam de redutos hostis, de agrupamentos de pessoas que se identificacam com o petismo e que, portanto, não estavam entre as prioridades. Neste período, o audiovisual passou por uma crise inominável e até a Cinemateca Nacional, com um acervo preciosíssimo,  entrou em processo de autocombustão. 

De fato, o bolsonarismo enfrentava algumas resistências em setores como o cultural, o acadêmico e, seria um pouco demais exigir que um governo com tal perfil tivesse a isenção necessária de governar para todos. Essas hostilidades eram alimentadas, em alguns casos, pelas teses de filósofos como Olavo de Carvalho, então guro dos bolsonaristas. Em apenas um ano, com o propósito de reverter tal situação, o Governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva investiu indiretamente em projetos culturais um montante maior do que os quatro anos do Governo Bolsonaro. 

Através da Lei Rouanet, a cadeia cultural abocanhou a espantosa cifra de R$ 16 bilhões de reais, em renúncia fiscal, algo que foi alvo de muitas especulações pelas redes sociais no dia ontem. Nada contra a Lei Rouanet, nada contra o Governo resgatar e investir num setor fundamentalmente importante. O que se discute é a renúncia fiscal de um montante dessa natureza, com um governo em crise, que acumula um déficit público da ordem de R$ 200 bihões de reais. Os investimentos foram muito festejados, mas é preciso ter a consciência de que o derrame fará falta na hora de ajustar essas contas. 

As negociações com as categorias de servidores públicos - alguns dos quais com a granada de Paulo Guedes ainda no bolso, se é que ela já não explodiu - por exemplo, não avançaram muito. No orçamento já aprovado, não há previsão de recomposição de perdas para a categoria em 2024. Quando o Governo Lula iniciou, essas perdas somadas durante o congelamento imposto pelo Governo Bolsonaro, já atingiam mais de 60%. O aumento concedido em 2023, da ordem de 9%, está muito aquém das necessidades da categoria. Interromper essa política de recomposição logo no ano seguinte, sugere que teremos muitos problemas pela frente. Observem que, ainda em campanha, Lula fez referência a tal injustiça. Quando no Governo, seus assessores se comprometeram em desarmar a tal granada.   

Charge! Laerte via Folha de São Paulo

 


quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Editorial: Datena filia-se ao PSB com pinta de candidato.



No dia de ontem, o apresentador José Luiz Datena assinou sua ficha de filiação ao PSB, em evento prestigiado por figuras ilustres da legenda, inclusive a Deputada Federal Tabata Amaral, possível candidata do partido à Prefeitura de São Paulo nas próximas eleições. Especula-se que o apresentador filiou-se à legenda socialista com o propósito de compor a chapa, na condição de vice, o que seria bastante provável. Não é a primeira vez em que o apresentador insinua algum projeto político, algo que nunca se consolidou. No último momento ele acaba desistindo da ideia, voltando a fazer o que sempre fez como apresentador de programa de televisão. 

Embora integre a base aliada do Governo Lula, os socialistas sabem que, neste momento, convém a um partido político adquirir musculatura. O Planalto preocupa-se com essas movimentações, mas, por outro lado, não vem tratando o grêmio partidário com os mesmos mimos dedicados ao Centrão. Os socialistas têm perdido espaço no Governo nas sucessivas minirreformas ministeriais. Já se prenuncia uma próxima para janeiro. O partido, por exemplo, reinvindica a vaga deixada pelo futuro Ministro do Supremo Tribunal Federal, Flávio Dino, no Ministério da Justiça e Segurança Pública. Há um pleito  institucional pelo nome de Ricardo Cappelli, atual Secretário-Executivo da pasta, o que, convenhamos, não será uma tarefa das mais simples. 

Embora talve fosse este o desejo do titular da pasta, a lista de pretendentes ao cargo é grande e envolve uma engenharia política das mais complexas, tudo indicando que o morubixaba já definiu que seria estrategicamente essencial reconstruir as pontes desgastadas com a Suprema Corte. Um arranjo possível seria desmembrar a pasta, criando o Ministério da Segurança Pública, principalmente neste momento de recrudescimento dos índices de violência urbana. Ainda assim, são escassas as possibilidades de os socialistas preservarem a parte que lhes cabe desse latifúndio. 

Teremos uma disputa das mais renhidas na capital paulista, mas, pelo andar da carruagem política, talvez se reproduza, também ali, a tendência de polarização que se apresenta em todo o país. As primeiras sondagens de pesquisas de intenção de voto sugerem isso. A Deputada Federal Tabata Amaral não aparece muito bem nas primeiras sondagens, mas tem potencial de crescimento, sobretudo porque vem sendo apontada como a candidata da Faria Lima. Vamos aguardar o processo de "decantação" natural. Ainda é cedo. 

Editorial: Afinal, quem é o Ricardão do PL em São Paulo?

O impasse já se tornou tão evidente que, aborrecido com o desfecho, sem uma sinalização efetiva do apoio do partido, o ex-Ministro do Meio Ambiente do Governo Bolsonaro, Ricardo Salles(PL-SP), havia resolvido retirar sua candidatura entre os postulantes que disputarão a cadeira do Edifício Matarazzo no pleito de 2024. O tempo passou e o próprio capitão Jair Bolsonaro fez questão de renovar as esperanças do ex-auxiliar, sinalizando que ele poderia ter o seu apoio na disputa pela Prefeitura de São Paulo. Diante dos novos ventos, o Deputado Federal Ricardo Salles resolveu entrar novamente no páreo, criando uma ciumeira danada no outro Ricardo, o Nunes, atual prefeito da cidade, candidatíssimo à reeleição. 

É curiosa e, muito mais do que curiosa, complexa essa relação. O PL, enquando partido, já participa da gestão de Ricardo Nunes(MDB-SP), o que o contingencia o partido a apoiá-lo nas próximas eleições. Na realidade, temos aqui um impasse entre a direção nacional da legenda, representada por Valdemar da Costa Neto, que tem compromissos em se integrar ao projeto de reeleição do atual gestor da cidade, e a liderança carismática de Jair Bolsonaro, presidente de honra do partido, e o seu principal cabo eleitoral. Houve tempo em que a proximidade demasiada com o ex-presidente poderia se constituir num problema, pois a radicalização afugentaria parcelas do eleitorado. Hoje a leitura é a de que quanto mais radicalização melhor, o que, em última análise, entende-se como importante ter o apoio explícito do ex-presidente.   

Num encontro recente, o ex-presidente teria tratado o ex-auxliar como prefeito e há a possibilidade de Salles, sob os auspícios do PL, deixar o partido de mentirinha e filiar-se a uma outra legenda, consolidando o projeto de viabilizar sua candidatura. Acompanhando de perto as movimentações, Ricardo Nunes teria feito algumas sinalizações positivas em direção ao ex-presidente Jair Bolsonaro. O prefeito precisa precaver-se contra os assédios políticos sobre a sua base de sustentação. Na semana passada, o morubixaba petista estabeleceu algumas entabulações com a sua Secretária de Relações Internacionais, Marta Suplicy, com o propósito de torná-la vice de Guilherme Boulos. 

O presidente Lula está entrando de corpo e alma nas eleições municipais paulista por entendê-las como cruciais para o embate presidencial de 2026. É preciso manter um relativo equilíbrio na região, se se deseja renovar o contrato de inquilino do Palácio do Alvorada, principalmente num momento em que há registros de perda de apoio político em redutos tradicionais como o Nordeste. Nas eleições presidenciais passadas, a performance obtida pelo então candidato Fernando Haddad foi fundamental para alçar Lula à condição de Presidente da República.     

Editorial: 54% dos brasileiros aprovam o Governo Lula, segundo o Genial\Quaest


Saíram duas pesquisas recentes sobre a avaliação do Governo Lula. Uma realizada pelo respeitado Instituto Paraná Pesquisas e uma hoje, dia 20, divulgada pelo Instituto Genial\Quaest de Minas Gerais, ambos institutos igualmente conceituados. Os dois institutos consolidaram suas espertises durante o processo eleitoral passado, quando estiveram bem próximos dos acertos dos escores de intenção de voto, numa performance até melhor do que a dos grandes institutos do mercado de pesquisas. Convém fazer tais considerações por aqui, sobretudo em razão dos graves equívocos cometidos pelos institutos durante o último pleito.  

Se condiderarmos as margens de erro, há muito mais convergência do que discrepâncias nos números apresentados por ambos os institutos. No Genial\Quaest, o petista aparece com 54% de aprovação, enquanto no Paraná Pesquisas, o escore de aprovação é de 51,6%, com índices, portanto, dentro da margem de erro. O levantamento do Paraná Pesquisas foi realizado entre os meses de outubro e novembro, enquanto o Genial\Quaest aferiu o humor dos brasileiros sobre o Governo Lula já no mês de dezembro. Nos dois institutos, 43% dos brasileiros rejeitam o Governo do petista, classificando-o de ruim ou péssimo, um índice com tendência de crescimento, conforme se depreende pelos resultados de pesquisas anteriores ao período supramencionado.

Como estamos vivendo num momento de polarização bastante aflorada, por razões, óbvias, os opositores do Governo Lula se concentram nesta tendência de ampliação do número de brasileiros que desaprovam o Governo. Diante das contigências impostas pelas dificuldades no campo econômico, de fato, os dados deveriam preocupar o Planalto. Principalmente se considerarmos as próximas eleições municipais de outubro de 2024, quando, em princípio, a situação da base governista não é das melhores nas principais capitais do país. Ao contrário da tropa de choque escalada pelo bolsonarismo, que lidera em cidades importantes. 

No dia de ontem, estávamos lendo uma matéria sobre os planos do bolsonarismo para as próximas eleições municipais, onde o Pl pretende eleger um exército de mil prefeitos, criando as condiçõe ideais para, em 2026, formar uma base de senadores capaz de interceder, precisamente, na composição e correlação de forças no Congresso Nacional. A ideia é tornar o PL majoritário, o que abre o regimento para que o partido assuma a direção da Casa, produzindo a musculatura política necessária para peitar o STF e fustigar o Governo Lula.  

Charge! Leandro Assis e Triscila Amaral via Folha de São Paulo

 


terça-feira, 19 de dezembro de 2023

Editorial: Afinal, Michelle Bolsonaro é ou não é candidata ao senado pelo Estado do Paraná?


A política, conforme advertia o mestre florentino, é um campo minado. Se ele não afirmou isso, deve ter pensado. Convém cercar-se de todos os cuidados possíveis para não pisar numa dessas minas e, simplesmente, explodir. Até recentemente, diante da inelegibilidade do capitão Jair Bolsonaro, o nome de sua esposa, Michelle Bolsonaro, passou a entrar no retrovisor do PL como uma alternativa para entrar na vida pública, disputando algum cargo eletivo. Pretenções presidenciais talvez não fosse a alternativa imediata, mas uma disputa para o Senado Federal estaria de bom tamanho. Percorrer o país ajudando candidatos da legenda também estaria nessa agenda.  

Pilontando o capital político bolsonarista - praticamente intacto desde as últimas eleições presidenciais, conforme atesta o Instituto DataFolha, o nome da ex-primeira-dama foi sondado em pesquisas realizadas pelo Instituto Paraná Pesquisas, que apontou que ela poderia escolher, entre um elenco de Estados específicos, aquele Estado da Federação pelo qual desejasse ser candidata, pois liderava as intenções de voto. O Paraná estava entre esses Estados. Diante da iminente cassação do mandato do ex-juiz da Lava-Jato, Sérgio Moro, O Estado deverá realizar eleições extraordinárias para suprir a sua vacância na Câmara Alta. 

Assim, começaram as movimentações de Michelle Bolsonato no Estado, participando de eventos do PL Mulher, em alguns casos contando com a presença do ex-presidente Jair Bolsonaro. Fizemos até uma postagem por aqui, observando que, caso fosse confirmada a candidatura, teríamos um avant premiere do que seria o embate entre o PL e o PT nas eleições de 2024, uma vez que a Presidente Nacional do PT, a Deputada Federal Gleisi Hoffmann, é candidatíssima à vaga. Eis que ontem começaram surgir rumores que desestimulam o seu projeto político. Nos bastidores, é sabido que a família Bolsonaro não se entende sobre este assunto.

Difícil entender o que estaria por trás da rucusa do Presidente Nacional do PL, Valdemar da Costa Neto, ao deixar de dá sinal verde ao projeto político da ex-primeira-dama. Salvo se ele está pretendendo preservar a candidatura do jornalista Paulo Martins, que ficou em segundo lugar na disputa, que seria o candidato natural da legenda. E, por falar em Senado Federal, o senador Cleitinho, antes do Progressistas, de Minas Gerais, deixa a legenda para ingressar no PL, somando-se à tropa de choque que inferniza a vida de Lula no Congresso Nacional.  

Editorial: Acabou a lua- de-mel do Governo Lula com os servidores públicos.


Nunhum Governo pode dizer que vai bem acumulando um déficit público da ordem de mais de cem bilhões de reais. O mais grave é quando se avinzinham eleições, onde as torneiras dos gastos não podem ser fechadas, sob pena de um fracasso rotundo nas urnas. O próprio Governo Lula não se entende sobre o assunto. O núcleo político do presidente - digamos assim, a critério de apenas diferenciar o núcleo político e o núcleo econômico - defende a tese de que seria um "austericídio" limitar os gastos com políticas públicas neste momento. O Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, por razões óbvias, defende o contrário, o controle dos gastos e ajustes necessários no sentido de zerar esse déficit. 

A proposta de zerar o déficit público em 2024, por outro lado, seja lá quem for o vencedor dessa queda de braços, deve ser solenemente abandonada. O Governo Lula já começa a criar algumas rusgas com setores historicamente identificados com o petismo, como uma boa parte de categorias dos servidores públicos federais, que ficaram sem quaisquer perspectivas de recomposição das perdas salariais para o próximo ano. Durante o Governo Bolsonaro, alguma categorias chegaram a acumular pedas salariais superiores a 60%. 

Ao longo dos anos, com o poder aquisitivo em queda livre, a tal granada a que se referia o ex-Ministro da Economia, Paulo Guedes, realmente explodiu, produzindo seus efeitos nos bolsos dos servidores federais. Quando iniciou o Governo, Lula abriu uma ampla janela de negociações, com o propósito de corrigir essas injustiças. Muitos setores, igualmente atingidos por injustiças, tiveram a correção integral das perdas, como foi o caso da correção integral da defasagem dos valores da merenda escolar, das bolsas de pesquisa de mestrado e doutorado. Foram corrigidas em sua integralidade.

Por outro lado, entende-se que corrigir mais de 60% das perdas de uma canetada só seria praticamente impossível. No ano anterior, o Governo concedeu 9% para os serviodores civis, sob o argumento de que, paulatinamente, essas distorções entre as diversas categorias de servidores públicos seriam sanadas. Logo no ano seguinte, diante dos apertos e contenções, o orçamento está sendo aprovado sem previsão de reajuste para os servidores. Convém observar que, entre os dias 08 e 09 de dezembro, o Governo Lula liberou algo em torno de 10 bilhões em emendas parlamentares, numa manobra de resultados duvidosos, em razão da falência do modelo de presidencialismo de coalizão. Os caras recebem, não dão contrapartida e ainda pedem mais. Nem as prostitutas agem assim, com o respeito devido às profissionais do sexo. Elas costumam honrar o combinado.  

Um dos assessores da Ministra de Gestão, Esther Dweck, propõe aumentar alguns penduricalhos, uma espécíe de auxílios agregados à folha, como auxílio alimentação, auxílio creche, o que só atingiria quem estivesse na ativa, deixando de fora os aposentados e pensionistas, ampliando ainda mais as distorções. Diante de tais circunstâncias, de acordo com as federações que congregam as inúmeras categorias de servidores, não será improvável que comecemos o ano de 2024 com greves dentro do serviço público federal.   

Editorial: Datafolha aponta permanência da polarização entre lulistas e bolsonaristas.


Em alguns casos, como este, convém sempre mensurar a temperatura das ruas para confirmar aquilo que, intuitivamente, podemos observar no nosso cotidiano. Há uma centrífuga de polarização na política brasileira que, literalmente, mói qualquer iniciativa que surja no horizonte propondo uma alternativa de terceira via, ou seja, algo que aponte para além do que representam o lulismo e o bolsonarismo para o país. Nas eleições presidenciais passadas, um candidato quase entrou em desespero, tentando, de todas as formas, evidenciar os equívocos de ambas as plataformas políticas, se colocando como alternativa ao eleitorado. Tudo em vão. A refrega produziu um efeito tão dantesco que ele hoje é um poço até aqui de mágoas.  

A pesquisa divulgada pelo Datafolha, apontando que 30% do eleitorado é lulista, enquanto 25% são bolsonaristas indicam que tal situação terá vida longa. A quadra é tão dramática, que o candidato do PT às eleições presidenciais de 2026 pode ser o próprio morubixaba petista, mesmo com a saúde já fragilizada. Por outro lado, os bolsonaristas radicais ignoram solenemente a inelegibilidade do "mito" Jair Bolsonaro. Juridicamente, seus advogados tentam uma reversão dessa condição, através de ações movidas agora junto ao STF, o que se constitui numa luta inglória, uma vez que, dificilmente a Suprema Corte reverte decisões dos pares do STE. 

Com dificuldades inerentes no Governo,  Lula por sua vez, sugere uma radicalização dessa polarização. A ordem sugere ser radicalizar, demonizando o bolsonarismo, algo mais ou menos nos mesmos moldes das eleições presidenciais de 2022, quando a democracia brasileira precisava ser salva. Mesma estratégia utilizada pelo candidato Sérgio Massa, na Argentina, onde já se sabe o resultado. Deu o aloprado, com motosserra e tudo. Os bolsonaristas estão na Oposição, mas o Governo Lula possui algumas responsabilidades inerentes a governantes, que não podem ser negligenciadas. Nem todo bolsonarista é, necessariamente, fascista.

A falência do modelo de presidencialismo de coalizão irá produzir grandes estragos de governabilidade daqui para a frente. O Governo Lula terá que reinventar esses padrões de relações com o Congresso em pleno voo, como aquele piloto que manobra por um arremesso, diante de uma tragédia iminente. É isso ou corre-se o risco de um impeachment, diante de um Centrão cada vez mais fortalecido e hostil.           

Editorial: A metalinguagem do autoritarismo na Argentina.


Em 2018, quando o ex-presidente Jair Bolsonaro chegou ao poder através de eleições livres, o sociólogo português, Boaventura de Souza Santos, costumava avaliar que o Brasil se tornaria um laboratório de experimentos macabros da ultradireita internacional. Bolsonaro cometeu alguns equívocos, não se reelegeu em 2022 e hoje se encontra inelegível. Seu capital político, no entanto, continua intacto, a julgar pelas mobilizações da militância nas ruas - que sempre acompanha o ex-presidente nos seus périplos - a julgar pelo torniquete oposicionista que vem sendo aplicado ao Governo Lula no Congresso pela Oposição. 

Há um grupo forte na sociedade brasileira que deseja um Governo de matriz conservadora, quiçá incorporando até alguns elementos autoritários. Lula hoje encontra-se encilhado por este vendaval, tendo que apelar para a radicalização como alternativa a se contrapor aos eventos. Em 2024 teremos novas eleições municipais e, se a extrema-direita avançar mais uma casa, o contexto de governabilidade, já precário, tende a piorar ainda mais. Como já comentamos em outras postagens, a partir de algumas observações, o modelo de presidencialismo de coalizão é um modelo falido, na medida em que liberação de verbas e cargos públicos, hoje, não signifcam, necessariamebte, apoios efetivos no Congresso. 

Apesar da aprovação da Reforma Tributária, bastante comemorada pelas hostes petistas, a conta das derrotas é bem mais expressiva, como os vetos do veto ao Marco Temporal e da desoneração da folha de pagamentos, por exemplo. Como observou recentemnte em vídeo o jornalista Renato Rovai, a ultradireita continua intacta em países como o Brasil, a Artentina, o Chile, Peru, Panamá, El Salvador, Colômbia. Eles estão testando um modelo de democracia iliberal, de viés autoritário e protofascista. É bem possível que o sociólogo português ainda mantenha  suas posições sobre o laboratório brasileiro, mas, certamente, também está de olho no que vem ocorrendo com a Argentina. 

Por lá, em tão pouco tempo, o presidente Javier Milei está mostrando a que veio. Editou um pacote de medidas que já está sendo considerado uma espécie de AI-5 do Milei, por conter medidas restritivas de manifestações contra o Governo, sob pena de repressão dura do Estado. Milei já teria afirmado que irá governar com os militares. Como se isso não fosse suficiente, apareceu em público trajando uniformes militares quando acompanhava as ações de socrorro contra uma catástrofe da natureza. Os bolsonaristas radicais brasileiros, que se esmeram no argentino como uma espécie de guru, apontam que o Governo Lula estaria transformando o Brasil numa ditadura militar comunista. Posteriormente, gostaríamos de ouvi-los sobre essa escalada autoritária que está ocorrendo no país vizinho. 

Charge! Benett via Folha de São Paulo

 


segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

Editorial: Lá vem o Brasil descendo a ladeira.

Crédito da Foto: Luiz Carlos Santos, Agência O Globo. 

Tempos difíceis, leitor. Comissão de direitos humanos que fazia uma inspeção de rotina numa unidade prisional, escuta gritos de socorro de presos, provenientes de pavilhões, e o vídeo viraliza nas redes sociais. Aqui em Pernambuco, o número de policiais penais que trabalham nos unidades prisionais é bem inferior ao número ideal, numa proporção que se estabelece a partir do número de detentos cumprindo pena. Há muito deles aprovados, aguardando chamado, mas, pelo andar da carruagem política, estima-se que um número bem aquém do esperado seja, de fato, convocados. 

Outro dia alguém comentou que, caso essa proporção viesse a ser reestabelecida - "reestabelecida" é um eufemismo, posto que tal número ideal talvez nunca tenha sido atendido - isso poderia acabar com o problema dos "chaveiros", que são presos que mantém a ordem no sistema carcerário. Eles são chamados de "chaveiros" em Pernambuco, possivelmente recebendo outras denominações nos demais Estados da Federação. Não é verdade. Isso envolve uma questão bem mais complexa, prudentemente também impublicável. Para não "melindrar", que é o verbo da moda.  

O problema também ocorre com outras forças policiais, como é o caso da Polícia Civil, onde a defasagem já ultrapassou os dois mil agentes. O concurso anunciado pelo Governo do Estado, salvo melhor juízo, contemporiza apenas o preenchimento de 450 vagas. Há vagas também para delegados e peritos, além de escrivães. O quadro é complexo, exigindo investimentos efetivos do aparelho de Estado no sentido de enfrentar os reais problemas, como a grande defasagem salarial, infraestrutura precária das delegacias de polícia, reequipamento dos espaços de trabalho da polícia científica. 

A economia não vai bem, o déficit público é imenso, teremos eleições no proximo ano e a tendência é de irresponsabilidade fiscal para salvar a companheirada. O custo será alto. Vários Estados da Federação entraram numa espiral de violência urbana, em alguns casos, sob os auspícios diretos da influência do crime organizado. Em São Paulo, numa simples abordagem à procura de câmaras que pudessem ajudar a solucionar um crime na região, ceifou a vida da policial Milene Bagalho Estevam, de 39 anos, atingida mortalmente pelo empresário Rogério Saladino, 56, que pensou tratar-se de um atentado. 

Para completar o enredo dessa segunda-feira sem lei, somente o sequestro do craque Marcelinho Carioca, que alegrou muitas tardes de domingo desse editor, através de seus gols memoráveis de falta contra o arqueiro Velozo, do Palmeiras. A polícia civil está investigando o caso, mas já confirmou tratar-se de um sequestro. Vamos aguardar maiores informações sobre o caso, além de torcer que os sequestradores não sejam palmeirenses.    

Editorial: Na campanha contra Flávio Dino, bolsonaristas ressuscitaram até Michel Foucault.


Flávio Dino deve permanecer como Ministro da Justiça e Segurança Pública até o final de fevereiro, quando está programada a sua posse no Supremo Tribunal Federal. Mais precisamente, no dia 22 de fevereiro, conforme agenda da Suprema Corte. O morubixaba petista já teria sido aconselhado por assessores próximos a apressar as coisas no que concerne à definição do nome do novo ocupante da pasta, evitando, assim, dores de cabeça para o futuro integrante da Corte. O grande problema seria Flávio Dino se debruçar sobre a análise de processos envolvendo bolsonaristas, atiçando a ira da Oposição, com a faca nos dentes desde algum tempo.  

No dia de hoje, 18, o perfil do ainda Ministro da Justiça, traz uma postagem relatando que ele não tem poder de ressuscitar mortos, lembrando que o filósofo francês, Michel Foucault, faleceu em 1984. A explicação vem no bojo de uma fake news disseminada por bolsonaristas, onde se desinforma que, caso o seu nome fosse aprovado durante a sabatina, o futuro ministro convidaria o filósofo como mentor intelectual, o que representaria um grande desastre sobre o sistema prisional, culminando numa espécie de liberou geral, com a abolição das penas, extinção das unidades prisionais, soltura dos apenados e coisas do gênero. 

O panfleto teria sido distribuído em diversos locais, advertindo que os homens de bem ficariam expostos à sanha dos marginais, sem defesa. A prática de disseminção de fake news com teores assim se constitui numa prática eminentemente abjeta, criminosa, perniciosa, capaz de produzir danos individuais e coletivos de dimensões gigantescos. Louve-se a coragem do ministro em ser enfático e irredutível quando instigado sobre este assunto durante a sabatina, admitindo a necessidade premente de uma regulação das redes sociais, mesmo naquelas circunstâncias, onde seria prudente não brigar com a banca examinadora. 

De fato, o filósofo francês possui uma enorme produção teórica tratando do sistema penal ou sobre a punição. Quando esteve aqui no Recife, em meados da década de 70, em pleno regime militar, o quem mais o impressionou, segundo a professora Silker Weber, que o ciceroneou, foi a Casa da Cultura, no bairro de Santo Antônio, onde, na década de trinta do século passado, havia funcionado a Casa de Detenção do Recife, qua abrigou presos ilustres como Gilberto Freyre e Graciliano Ramos. O prédio foi inspirado na arquitetura prisional francesa, o que levou o filósofo a fazer várias perguntas a professora Silker. Uma pena que o filósofo francês tenha sido recepcionado no Recife em tais circunstâncias. 

Perseguido no Rio de Janeiro e em São Paulo pelos militares, Michel Foucault considerava, à época, que encontraria menos dificuldades em Pernambuco. Grande equívoco. Até um almoço de boas-vindas precisou ser cancelado depois da desistência dos convidados, com o temor de serem perseguidos pelos militares. Ao filósofo restou uma visita à Ilha de Itamaracá, à cidade histórica de Igarassu e saborear as tapiocas oferecidas pelas famosas tapioqueiras do Alto da Sé, na cidade de Olinda. Até mesmo sua conferência na UFPE foi marcada por alguns atropelos, indispondo-se com um professor que insistia em estabelecer um paralelo entre ele e o filósofo alemão Karl Marx, ao que ele teria respondido: Não conheço esse sujeito.      

Editorial: Chilenos rejeitam a nova consituição proposta pela extrema-direita.


No dia ontem, os chilenos foram às ruas para rejeitar a nova constituição proposta pela ultradireita, eivada de retrocessos no que concerne aos direitos humanos. Por incrível que possa parecer, a atual constituição do país, promulgada ainda na Era Pinochet possui mais avanços do que a que está sendo proposta pela ultradireita, que faz oposição ao Governo de centro-esquerda, liderado por Gabriel Boric. Na realidade, como observam alguns analistas, trata-se de uma vitória com sabor de derrota, se considerarmos o contexto mais amplo das dificuldades enfrentadas pelo Governo de Gabriel Boric, que despenca na avaliação da população. 

Costumamos sempre estabelecer por aqui alguns parâmetros comparativos entre o Governo do chileno e o Governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. As similaridades são inevitáveis. Assim como aqui, Boric enfrenta sérias dificuldades de governabilidade, com um Legislativo hegemonicamente controlado por partidos de direita, que, assim com aqui, perderam a eleição presidencial, mas formaram uma bancada sólida de parlamentares. Boric faz no Chile um tememário Governo de Concertação, mais ou menos o que ocorre  também no Brasil, cedendo aos pleitos da direita, o que dificulta o cumprimento de uma agenda política de caráter mais progressista. 

No Brasil, Lula corre para garantir as condições mínimas de manutenção do seu Governo, acuado por dificuldades inerentes e constantemente fustigado pela oposição bolsonarista, que atua dentro e fora do parlamento. Por enquanto, eles ainda não conseguiram convencer os apoiadores a saírem às ruas como no passado, mas há sempre um risco. Preocupa o fato de tais manifestações possuírem o carimbo de "Contra este Governo". Descontrole dos gastos públicos podem nos conduzir ao desastre de uma recessão braba, avaliação em queda livre e o momento ideal para o "bote" do serpentário bolsonarista. Convém cercar-se dos cuidados necessários. 

E, como, infelizmente, estamos em vias de privatizar o colosso da SABESP, uma empresa estatal de saneamento eficiente, lucrativa, de bons serviços prestados à população, recomendaria aos gestores do Estado de São Paulo observarem o que ocorreu com a privatização desse recurso natural no Chile. Em algumas casos, as tarifas praticadas subiram tanto que os aposentados tiveram que fazer a opção entre pagá-las ou comprar os alimentos necessários à sua sobrevivência. Com a coqueluche do consumo do abacate pelos americanos, em alguns regiões do país a prioridade é atender aos canteiros de plantação da fruta, em detrimento da população mais sofrida. 

Charge! Laerte via Folha de São Paulo

 


domingo, 17 de dezembro de 2023

Editorial: Evandro Leitão filia-se ao PT do Ceará com pinta de candidato à Prefeitura de Fortaleza.


Hoje, 17\12, o Deputado Estadual Evandro Leitão está se filiando ao Partido dos Trabalhadores do Ceará, num evento bastante concorrido, com a presença de grandes personalidades da legenda no Estado, como o Deputado Federal José Guimarães, o Ministro da Educação, Camilo Santana, e o governador do Estado, Elmano de Freitas. Há algum temp que a esquerda se movimenta no estado, procurando recuperar os cacos e superar as rusgas deixadas pelas últimas eleições no Estado, onde o frisson entre o PDT e o PT puseram por terra uma aliança, antes consolidada, responsável pela permanência do grupo no controle da capital e do Estado. 

Há algum tempo, igualmente, as forças do campo conservador tem ampliado sua capilaridade política no Estado, inclusive o espectro identificado com o bolsonarismo no plano nacional. No próximo ano teremos disputas acirradíssimas pelo controle das capitais do país. Ninguém terá vida fácil, muito menos o PT, vidraça da Oposição bolsonarista, que já escalou o seu time para a disputa nas principais capitais, com muita antecedência, inclusive em Fortaleza, onde deve concorrer o Deputado Federal André Fernandes, filiado ao PL.

Evandro Leitão leva com ele o seu grupo político, que inclui, inclusive, uma penca de prefeitos. O evento, antes previso para a filiação de todo o grupo, sofreu alterações, sendo, neste momento, toda festa dedicada ao deputado, que já pinta como possível candidato da legenda à Prefeitura de Fortaleza nas eleições de 2024. É curioso que, embora cindido com o irmão Ciro Gomes, o grupo do senador Cid Gomes encontra algumas dificuldades de negociações com o PT, embora já tenha recebido sinalização positiva do morubixaba petista. O entrave, segundo especula-se, seria o Deputado Federal José Guimarães.  

Há capitais do país onde o partido enfrentará maiores dificuldades, a julgar pelas primeiras pesquisas de intenção de voto já divulgadas. O percurso, no entanto, ainda é longo até outubro de 2024. O empenho de Lula como cabo eleitoral, dando o start da campanha em eventos como o ocorrido recentemente em São Paulo, parece sinalizar que o petista compreendeu que o fortalecimento da Oposição nessas eleições municipais podem antecipar o fim do seu Governo. Conforme temos repetido por aqui, as mobilizações de rua e o torniquete aplicado pela Oposição ao Governo no Legislativo indicam presságios preocupantes.    

Charge! Via Twitter!

 


Editorial: Michelle Bolsonaro pode antecipar o embate entre PL e PT.



Depois de cometer inúmeros erros de avaliação, o senhor Sérgio Moro(UB-PR) deve deixar a vida pública de forma melancólica, amargando uma cassação de mandato e uma possível inelegibilidade. Se continuar elegível, ainda enfrentará um eleitorado que não perdoa o fato de ele, eventualmente, ter votado a favor da indicação do senhor Flávio Dino para o Supremo Tribunal Federal. É preciso tomar muito cuidado com os erros de avaliação. A maioria deles produzem danos difíceis de reverter. A recomendação do Ministério Público do Estado do Paraná, que orienta a cassação e inelegibilidade ainda deve ser submetida a instâncias judiciais superiores a ao próprio Senado Federal. 

Leva algum tempo, mas seus adversários e inimigos já estão de braçadas para ocupar a vaga deixada pelo senador, em caso de confirmação da cassação do mandato. Os processos movidos, pedindo a sua cassação, partirarm do PT e do PL, o que dá bem a dimensão de que o ex-juiz da Lava Jato, de fato, cometeu erros primários de avaliação. O mais curioso são as movimentações de olho em novas eleições, que determinarão o sucessor ou sucessora de sua vaga. Em princípio, o PL apresentaria o nome do jornalista Paulo Martins, que ficou em segundo lugar na disputa, com 29% dos votos válidos.  

O PT cobiça a vaga, tendo escolhido o nome da Deputado Federal Gleisi Hoffmann(PT-PR) para a disputa, num arranjo complexo, que pretende, inclusive, afastar as ambições políticas do filho do ex-governador  Roberto Requião, que almeja o cargo. Até recentemente, o Instituto Paraná Pesquisa realizou uma pesquisa no estado onde a ex-primeira dama, Michelle Bolsonaro liderava a disputa, num estado que tem forte presença do bolsonarismo. Uma disputa a uma vaga ao Senado Federal, neste momento, talvez seja a opção ótima para a ex-primeira-dama, ainda verde para uma majoritária no plano nacional. 

Agora vem a bomba: Especula-se que ela pode, sim, candidatar-se ao Senado Federal pelo Paraná. Michelle Bolsonaro tem feito declarações, participado de encontros do PL Mulher no Estado, tudo indicando que teria interesse em entrar na disputa. Caso confirme a candidatura, teremos uma amostragem bastante emblemática sobre os embates que deverão travar nos momentos seguintes, o PT e o PL, seja nas eleições municipais de 2024, seja nas eleições presidenciais de 2026. A disputa promete. Vocês já imaginaram Lula e Bolosonaro emendando os bigodes por aquelas bandas?      

Editorial: Qual o propósito da ênfase retórica de Lula?


No final da dácada de setenta, quando eclodiu aquelas greves históricas entre os metalúrgicos da região do ABC paulista, o país ainda estava sob os estertores do regime militar e havia algum temor sobre qual o real perigo que Lula poderia representar para o mainstream. Com um feeling político apuradíssimo, o então bruxo do regime militar, o general Goubery do Couto e Silva tranquilizou os seus pares, afirmando que não haveria motivos para preocupação: Lula não era comunista. Na nossa época de estudante, onde o partido foi um dos fulcros de nossas análises, encontramos uma entrevista de Lula, concedida a um jornal da região do ABC, onde ele tranquilizava os companheiros mais resistentes ideologicamente, sobre a necessidade de ser mais pragmático, observando que "Não importa a cor do voto se ele cai na urna, companheiro". 

É neste contexto que não se entende como Lula, num encontro com a juventude do partido, observou que se orgulhava de ter indicado o primeiro ministro comunista ao Supremo Tribunal Federal. Essa identificação do senhor Flávio Dino, com o comunismo não passa de uma mera "demarcação" ideológica, talvez partidária, uma vez que ele militava na agremiação do PCdoB.  Quando muito. Salvo honrosos companheiros da academia que, de fato, ainda mantém uma fé inabalável nas ideias comunistas, em sua maioria, os comunistas da academia não ultrapassam os limites das linhas de pesquisa. 

É uma esquerda que mora em Casa Forte - o bairro mas chique do Recife, para tomarmos uma referência local, uma vez que também poderia ser o Leblon - integram a burocracia pública, em alguns casos ocupando cargos de confiança; usam Paulo Freire como uma grife de "escudo ético"; mantém suas redes azeitadas e, circunstancialmente', produziram trabalhos acadêmicos usando referenciais teóricos de esquerda. Nada além disso. Adoram caviar, whiskes envelhecidos e la dolce vita da pequena burguesia. Tornam-se pessoas perigosas, posto que permeáveis a qualquer ambiente político, desde que seus privilégios sejam preservados. A defesa de projetos coletivos é só enquanto tais interesses atendem às suas ambições pessoais.   

Essa retórica enfática de Lula só faz um sentido: talvez fortalecer seus vínculos como sua base de apoio mais renhida. Provocar bolsonaistas, neste momento, talvez não seja uma atitude das mais prudentes. Hoje, o jornalista Josias de Souza discute o assunto em sua coluna, observando o tratamento dispensado pelo morubixaba petista em encontros recentes, como no momento da entrega de obras no Espírito Santo ou na largada paulista das eleições municipais, quando esteve com o candidato à Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos, do PSOL, além do seu Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de quem se especula que seja o herdeiro do seu espólio político. 

Pelo andar da carruagem política, fica evidente que a retórica da polarização política deve alimentar o ânimo da militância nas próximas eleições. A municipal de 2024 e a presidencial de 2026. Existe um "lado bom" - que não vai muito bem, por sinal - e um "lado demoníaco" que deve ser evitado a todo custo. Convém, porém, ficar atento ao que ocorreu na Argentina, onde um aloprado venceu as eleições pilotando uma motosserra como símbolo de campanha. E ganhou com uma folga bastante relativa.  

Editorial: A poderosa federação terrivelmente bolsonarista.


Aqui se podera pensar sobre as grandes organizações internacionais que congregam o ideário de extrema-direita ou mesmo naquelas organizações vinculadas a setores que movimentam parte considerável de nosso PIB, como é o caso do agronegócio, um nicho eleitoral tradicionalmente identificado com o bolsonarismo, que fustiga o Governo Lula sempre que encontra uma oportunidade. Mas, neste momento, estamos nos referindo às famosas federações partidárias, instrumento pelo qual alguns partidos se unem em federações, ganhando musculatura na ocupação de espaços e disputas nas   Casas Legislativa, assim como competitividade eleitoral. 

A bronca fica por conta do racha dos recursos oriundos dos fundos partidários, o que, quase sempre, produz algumas ranhuras entres eles. Mais uma dessas federações está sendo criada, desta vez por agremiações políticas com bastante identidade com o bolsonarismo, o que deve significar, naturalmente, maiores dores de cabeça para o Palácio do Planalto. Ainda não há um nome definido da federação, mas ela deve integrar partidos como o Progressistas, o União Brasil e o Republicanos. A união entre esses grêmios partidários significará a formação de uma bancada de 150 deputados, além de 17 senadores, reforçando o time do Centrão. 

Um dos principais entusiastas da ideia é o ex-Ministro da Casa Civil do ex-presidente Jair Bolsonaro, o senador Ciro Nogueira, um bolsonarista raiz. Mesmo com membros dos seus quadros integrando o Governo Lula, como se sabe, isso nunca significou uma inserção efetiva desses grêmios partidários na base da apoio do Governo Lula. Em alguns casos, além de reforçarem a premissa da distância regulamentar, os dirigentes partidários argumentam que seus representantes no Governo não representam a vontade do partido. Estão no Governo por conta e risco pessoal, constituindo uma espécie de esquizofrenia institucional. O caso do Ministro dos Portos e Aeroportos, Sílvio Costa Filho, do Repúblicanos, até hoje, sequer, teve uma audiência com o presidente Lula.   

Analisra o cenário político da relação do Executivo como o Legilativo, pela via do presidencialismo de coalizão, conceito cunhado pelo professor Luiz Felipe de Alecanstro, já não dá conta do fenômeno que está sendo observado no terceiro Governo Lula, ou seja, tornaram-se cada vez mais incertos que os acenos do Executivo, traduzido na liberação de emendas e cargos na máquina, signifique, necessariamente, apoio congressual. Entramos numa nova fase, como sugere o jornalista Josias de Souza, do Portal UOL, ou seja, na era do parlamentarismo de coação.  

sábado, 16 de dezembro de 2023

Editorial: De como sou e não sou comunista.



Nesses tempos estranhos que o país atravessa, a expressão "comunista" voltou a ganhar ares de uma ampla discussão, seja pela imprensa, seja pelas redes sociais. O debate veio à tona no bojo da "demonização" emprestada ao termo pelas ordas bolsonaristas radicais, principalmente ao consorciar o Governo do PT às "ditaduras comunistas" do continente, a exemplo de Cuba, Nicarágua e Venezuela. Na realidade, na versão dos mais exaltados bolsonaristas, o país já enfrenta uma "ditadura comunista" com o Governo do PT, o que se constitui, convenhamos, num grande exagero. 

Por cautela, para não atiçar ainda mais os ânimos, sugerimos ao morubixaba petista deixar de gabar-se de ter nomeado um comunista para STF. Alguém sugeriu que até neste aspecto ele havia se equivocado, uma vez que a Corte já contou com membros versados na obra do filósofo alemão, Karl Marx, capaz de citar suas teses com regularidade. Estamos hoje tratando, na verdade, de uma corruptela teórica, muito distante dos tempos da guerra fria, da extinta União Soviética, das guerras continentais, como as ocorridas no continente asiático e africano, onde, as duas grandes potências da época acabavam se engalfinhando através dos seus satélites. Por uma dessas ironias da História, a depender do desenrolar dos fatos, o desenho de outrora começa a se esboçar neste projeto do presidente Nicolas Maduro em anexar parte do território da Guiana. Mas, como informamos, uma excepcionalidade.  

A própria História, a partir da experiência do Socialismo Real, tratou de evidenciar que algumas teses propostas pelo velho Marx se mostrariam inconsistentes na prática. Talvez devêssemos nos preoupar, hoje, isso sim, com as chamadas democracias iliberais, eivadas de vicios representativos, agendas protofascistas, de viés autoritário. Lembram do ultradireitista eleito recentemente na Argentina? Já anda proibindo manifestações contra o seu Governo. Alguém hoje observou que o próprio Flávio Dino, ao receber sua indicação ao STF, sugeriu que os mais distintos atores, dos mais dísperos espectros políticos maranhense apoiaram sua indicação ao cargo. Inclusive gente do PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro. Nem precisava tanto esforço retórico, uma vez que bastaria ele observar que velhas raposas sarneizistas estiveram com ele no projeto de implantar uma "República Comunista" no Estado do Maranhão. 

Alguns bolsonaristas parecem ter perdido o senso da realidade. A expressão acima é extraída de um livro do sociólogo Gilberto Freyre, quando se refere à sua condição de sociólogo. Como se sabe, o grande projeto de vida do autor de Casa Grande & Senzala era se tornar um escritor. Uma de suas biógrafas, Maria Lúcia Pallares-Burke, que teve a acesso irrestrito à sua biblioteca durante quatro anos, percebeu seu grande interesse por romancistas e poetas americanos e ingleses, o que, certamente, deve ter sido importante para o exercício do seu papel como mentor literário do amigo José Lins do Rego.   

Editorial: Lula articula para trazer Marta Suplicy de volta ao PT.


As articulações causam estranheza até mesmo no entorno mais próximo do prefeito Ricardo Nunes, onde Marta Suplicy exerce o cargo de Secretária de Relações Internacionais da Prefeitura de São Paulo. Mais adiante talvez possamos entender melhor qual é o cálculo político do morubixaba petista ao desenvolver gestões no sentido de trazer de volta Marta Suplicy à legenda, com o objetivo de que ela possa disputar as próximas eleições municipais, na condição de vice do Deputado Federal Guilherme Boulos. As entabulações estão em ritmo elevado e até um encontro já teria sido programado para os Jardins, onde a ex-petista possui residência. 

Convém não esquecer, porém, que as rusgas de Marta Suplicy com a legenda começaram exatamente por questões parecidas, quando ela pretendia dusputar a prefeitura e foi preterida pelo PT, que indicou, à época, o nome de Fernando Haddad, com o aval de Lula. As situações são distintas hoje, uma vez que, a princípio, Marta Suplicy, em tese, talvez não almeje disputar a Prefeitura de São Paulo. Em todo caso, há mágoas políticas que também demoram a cicratizar. Marta hoje encontra-se sem partido, mas permanece como secretária na gestão Ricardo Nunes, que é do MDB. 

O prefeito estranha o fato de não ser comunidado pela auxiliar sobre tais movimentações do PT. Ricardo Nunes é candidatíssimo às próximas eleições municipais, possivelmente com o apoio de setores do bolsonarismo, quem sabe até com o apoio do governador Tarcísio de Freitas(Republicanos). Não podemos fazer afirmação categóricas por aqui, uma vez a disputa para a Prefeitura de São Paulo se constitui num palco de lutas acirradíssimas, principalmente quando se considera as escaramuças frequentes no escopo das forças conservadoras. O Deputado Federal Ricardo Salles(PL-SP), bolsonarista roxo, ainda disputa o apoio da legenda ao seu projeto de candidatuta. Hoje, curiosamente, nesta fase da campanha, seu principal adversário é o próprio Ricardo Nunes. 

De olho nas eleições presidenciais se 2026, quando alguns analistas ainda sugerem que possa vir a ser candidato, Lula já definiu como estratégia prioritária da legenda manter uma participação efetiva no chamado "cinturão paulista', que inclui a  capital São Paulo. Há muitos rumores sobre quem poderia assumir a condição de ungido pelo morubixaba como seu sucessor na política. Pelo menos no que concerne aos movimentos iniciais do petista, Fernando Haddad, Ministro da Fazenda, aparece como favorito nesta fase do campeonato. Tudo pode mudar até outubro de 2026, conforme advertia a raposa mineira Magalhães Pinto. 

Editorial: Quem deixa o Governo Lula na minirreforma de janeiro.



Presume-se que em janeiro de 2024 teremos mais uma minirreforma ministerial do Governo Lula. Como a informação vazou, logo surgiram uma relação de cabeças que serão cortadas e o nome de novos atores que deverão assumir cargos na Esplanada dos Ministérios. Possivelmente tal reforma teria como pressuposto alguns ajustes do próprio Governo, consoante as circunstâncias políticas que se apresentam. Conforme as nuvens sinalizam, para usarmos uma expressão da velha raposa mineira, Magalhões Pinto. Até Lula já deve ter percebido que ajustar a minirreforma às exigências do Centrão não está produzindo resultados concretos no que concerne às suas relações com o Legislativo. O jornalista Josias de Souza, em sua coluna do Portal UOL, sugere, corretamente, que talvez devêssemos subtituir o termo "presidencialismo de coalizão" por parlamentarismo de coação, que é a situação vivenciada pelo terceiro Governo Lula. Sempre muito inspirado o jornalista. 

Na realidade, a minirreforma começa com a vaga aberta, depois da vacância deixada pelo ministro Flávio Dino no Ministério da Justiça. Embora este seja um ministério que se tornou uma espécie de estade de tiro do bolsonarismo mais radical, o que não faltam são candidados ao posto. Pelo andar da carruagem política, essa cobiça, certamente levará Lula a decidir pelo desmembramento da pasta, no sentido de ter um espaço de manobra a mais para acomodar a base aliada. O ex-ministro aposentado do STF, Ricardo Lewandowski, por incrível que possa parecer, passa fácil pela clivagem exigente dos petistas. Lula, a julgar pelos burburinhos políticos, talvez negociasse com ele os cargos de confiança que ficarão a ele subordinado. Outros nomes estão no retrovisor das negociações, inclusive aqueles que foram preteridos pela escolha de Flávio Dino ao STF. Sobe na bolsa de apostas o nome de Wellington César Lima, secretário particular para assuntos jurídicos da Presidência da República, apadrinhado pela ex-presidente Dilma Rousseff e pelo senador Jaques Wagner.

Ainda no espectro dos burburinhos, no de ontem surgiram rumores de que o atual Ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, poderia deixar o cargo. Somente mais recentemente, depois de meditar bastante sob a massaranduba do tempo, conseguimos entender a estratégia de Lula ao indicar o pernambucano ao cargo. Aposentado, com grandes perspectivas na iniciativa privada, José Múcio resistiu o quanto foi possível. Resistência vencida unicamente pela relação de afeto que mantém com o morubixaba petista. 

Por incrível que possa parecer, surge no retrovisor dos nomes que podem ocupar a pasta da Defesa mais um comunista, o histórico militante do PCdoB, Aldo Rebelo, que já comandou a pasta no passado. Houve um tempo em que não se dava muita importância ao fato de o cidadão ter um passado comunista. Isso era motivo até de folclore. Com a ascensão do bolsonarismo, no entanto, parece que retornamos à época dos Comandos de Caça aos Comunistas, o CCC, um grupo paramilitar que colaborava com a Ditadura Militar instaurada no país com o Golpe de 1964. Nada contra Aldo Rebelo, mas, se Lula resolve nomeá-lo para a pasta aí é que os bolsonaristas ficarão convencidos de que o país está implantando uma ditadura comunista. Imaginem!