pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO. : Editorial: Bolsonaro sabia de tudo, conclui relatório da Polícia Federal.
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quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Editorial: Bolsonaro sabia de tudo, conclui relatório da Polícia Federal.


Desde o dia de ontem não se fala noutra coisa, senão no relatório da Polícia Federal, que trata das tessituras golpistas que esteve em andamento no país, logo após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, depois das eleições de 2022. O sigilo do relatório foi quebrado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. Trata-se um calhamaço de quase 900 páginas, onde a PF esmiuça todas as etapas da trama golpista, aponta os atores envolvidos, o papel desempenhado por cada um deles, assim como os motivos pelos quais o intento golpista fracassou. 

É um caminho sem volta para os envolvidos. A transparência desse relatório é um indicativo de que o STF deseja que a sociedade brasileira conheça os pormenores desta tessitura antidemocrática e, naturalmente, as razões pelas quais esses atores estão sendo punidos. O país, que sempre teve uma enorme dificuldade em punir os conspiradores que atuaram contra o regime democrático, agora tem uma oportunidade única de evidenciar para eles que os custos de conspirar contra as instituições democráticas tem um preço alto. Caso este princípio não fique consolidado, entramos no risco da banalização das tentativas de golpe de Estado, principalmente num país com as nossas características históricas, onde o precedente é sempre aventado.  

Essas sublevações são até recorrentes no país. Infelizmente. O cientista político polonês, Adam Przeworski, aponta, por exemplo, que, em condições normais ou regulares, cinco mandatos presidenciais sucessivos de quatro anos seriam suficientes para consolidar um regime democrático. Este é um dos requisitos atendidos pelas democracias consolidadas pela mundo afora. Tive a curiosidade de tirar o pulso da nossa fragilizada democracia representativa, que já esteve na UTI inúmeras vezes, e descobri que, a cada dois ciclos de dois mandatos sucessivos, surge um solavanco autoritário pelo caminho. Um bom exemplo, talvez em razão de ser recente, são os dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso e os dois mandados de Lula. Sabe-se o que veio logo em seguida, respingando nas armações golpistas de 2022, numa sequência ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. 

Até agora os golpistas estão acovardados. Se o plano tivesse dado certo, possivelmente já estaríamos contando as vítimas, conforme se previa. Logo entraríamos na contagem dos desaparecidos, prática recorrente em regimes de exceção.  Vítimas dos guardas da esquina. Salta aos olhos, em tal relatório, as evidências colhidas sobre a inteireza do ex-presidente Jair Bolsonaro sobre todas as etapas do processo golpista que esteve em curso. Neste caso, os chifres estão nos lugares certos e tínhamos, igualmente, um ajudante de ordens para assuntos de golpe de Estado. Isso é coisa de Brasil mesmo. 

Convém sempre separar os militares da linha dura, golpistas, daqueles moderados, legalistas que cumprem e respeitam os princípios constitucionais. Nossa democracia sobreviveu, conforme conclui o próprio relatório da Polícia Federal, graças a não adesão de dois comandantes militares, que se recusaram a embarcar na aventura golpista e mobilizaram suas tropas com o objetivo de materializar tal intento de ruptura institucional no país: O comandante do Exército, general Freire Gomes, e o comandante da Aeronáutica, o brigadeiro Baptista Júnior, a quem o Brasil agradece o respeito à Constituição. 

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